Documentário mostra tensão da prisão de Lula e bastidores dele no cárcere

Os momentos de tensão que antecederam a prisão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2018, os dias no cárcere na Polícia Federal em Curitiba e sua libertação após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) estão em documentário exibido na noite desta quarta-feira (28) pela GloboNews.

A obra Intitulada “Visita, Presidente” é de autoria da jornalista e apresentadora da Globonews Julia Duailibi, que assinou a direção do trabalho com Maíra Donnici. O longa tem duração de cerca de 90 minutos e para realizá-lo Duailibi conversou com mais de 30 pessoas durante dois meses.

O filme destaca no início as negociações feitas por aliados de Lula para que ele se entregasse à PF após condenação em segunda instância pela 8ª Turma do TRF-4 (Tribunal Regional Eleitoral da 4ª Região) por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex em Guarujá (SP), em processo da Operação Lava Jato .

Em um dos depoimentos para o documentário, Emídio de Souza, que à época era tesoureiro do PT, afirmou que em uma das reuniões uma delegada da PF mostrou imagens que indicavam que havia agentes policiais infiltrados no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, onde Lula se abrigou após a ordem de prisão.

A obra detalha como o petista se entregou para cumprimento de pena em 7 abril de 2018 e foi colocado em uma cela especial com 15 metros quadrados e banheiro, isolada no último andar do prédio da PF no Paraná.

Os advogados Manoel Caetano e Luiz Carlos Rocha, o Rochinha, que visitavam Lula diariamente, revelaram momentos de bom humor do presidente no cárcere, como aqueles em que Lula falava de sua fé e que dizia que sairia da prisão porque acreditava em Deus.

As articulações para a campanha presidencial de 2018 com a participação do líder petista, mesmo preso, foram descritas pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e pelo futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que acabou sendo o cabeça de chapa da legenda após a Justiça Eleitoral impedir a candidatura de Lula.

Os advogados Cristiano Zanin e Valeska Teixeira Zanin Martins, responsáveis defesa do petista, lembraram da trajetória jurídica que culminou na libertação de Lula em 8 de novembro de 2019, um dia depois de o STF ter decidido que um condenado só pode ser preso após o esgotamento das possibilidades de apresentação de recursos (trânsito em julgado, na linguagem técnica).

Esse julgamento mudou a orientação dos tribunais que, a partir de 2016, estavam permitindo a prisões logo após punições em segunda instância.

Posteriormente à soltura, ao julgar recursos da defesa de Lula, o STF anulou processos contra o petista sob o entendimento de que o então juiz federal Sergio Moro agiu com parcialidade para punir o líder partidário e as causas judiciais contra ele deveriam ter tramitado no Distrito Federal, não no Paraná.

Com as anulações, Lula retornou à condição de inocente.

Como antecipado pela coluna Mônica Bergamo, da Folha, o documentário relata que a futura primeira-dama, Rosângela da Silva, mais conhecida como Janja, além do envio de cartas, tinha o hábito de gravar vídeos em que compartilhava momentos e anedotas do seu dia a dia com Lula —como quando estava dirigindo, por exemplo. Os filmes eram entregues a ele por meio de um pen drive.

Cláudia Troiano, secretária de Lula, contou sobre um dos momentos mais difíceis no cárcere: a morte do neto do petista, Arthur Araújo Lula da Silva, aos 7 anos, em decorrência de meningite meningocócica.

Na ocasião, Lula precisou de uma autorização da Justiça para ir ao velório e despedir-se de Arthur.

Duailibi diz no documentário que buscou ouvir o depoimento de Lula, mas ele se recusou. A jornalista mostra na obra a mensagem da assessoria de Lula sobre a resposta negativa, com os dizeres: “Não quer falar disso nesse momento. Ele é sempre resistente a falar em documentário sobre o passado”.

O filme também revela pedidos da equipe do longa para a realização de gravações na sala em que Lula ficou preso, que acabaram não sendo atendidos pela superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Por fim, a obra lista as pessoas que estiveram mais próximas de Lula no período da prisão e que deverão continuar ao lado presidente eleito no novo governo que se inicia em 1ª de janeiro, como Haddad e Troiano.

Folhapress

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