EUA apresentam seu ‘bombardeiro invisível’ de última geração
A Força Aérea dos Estados Unidos apresentou nesta sexta (2) seu primeiro novo bombardeio em 34 anos, o Northrop Grumman B-21 Raider.
Trata-se de um avião “invisível” ao radar, como se diz no jargão para aeronaves que incorporam tecnologias que as tornam furtivas à vigilância inimiga —desenho, controle de emissão de calor pelos motores, pinturas especiais, entre outras. Evidentemente, não são totalmente impossíveis de detectar.
Como as três imagens digitais divulgadas pelos americanos anteriormente sugeriam, o B-21 é muito parecido com o famoso B-2 Spirit, o primeiro bombardeiro furtivo do mundo, revelado em 1988 e que está em operação desde 1997.
O B-21 também é uma asa voadora, desenho que remonta a projetos da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial e que facilita a redução da chamada assinatura de radar da aeronave.
A apresentação, na histórica fábrica 42 da Força Aérea de Palmdale (Califórnia), ocorreu logo depois do pôr do sol, justamente para disfarçar detalhes do avião. Ele não chegou a deixar totalmente o hangar, impossibilitando analistas de observar pontos como os bocais de exaustão de seus motores, vitais para comparações com o B-2.
O que é possível dizer é que o desenho geral do B-21 é mais fluido do que o do antecessor, com ainda menos pontos observáveis por radar. As entradas de ar são bipartidas, sugerindo tratar-se também de uma avião quadrimotor, e estão posicionadas mais à frente da fuselagem do que no B-2. O primeiro voo deve ser realizado em 2023.
O Raider (atacante ou invasor em inglês) tira seu nome dos famosos Raiders do coronel James Doolittle, uma formação de bombardeiros B-25 Mitchell lançada contra Tóquio em 1942 de forma quase suicida, para demonstrar uma reação americana ao ataque de Pearl Harbor, ocorrido meses antes e que levou os EUA à Segunda Guerra Mundial.
Segundo o diretor de sistemas aeronáuticos da Northrop, Tom Jones, o B-21 é a primeira aeronave de sexta geração do mundo. É uma definição arbitrária que carece de mais detalhamento dos sistemas do avião, o que dificilmente ocorrerá além de algumas declarações oficiais.
Jones afirma que a definição é possível devido ao emprego de arquitetura aberta de software e compartilhamento de informações operacionais online em nuvem, o que ampliaria o escopo de operações e a capacidade multimissão do avião. A ideia é torná-lo um plataforma de coleta de dados em ação, e há a sugestão não confirmada de que ele ou possa voar sem piloto ou controle frotas de drones.
Na apresentação, que contou com o secretário de Defesa, Lloyd Austin, o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, C.Q. Brown Jr., disse que “o B-21Raider fornecerá capacidade de combate formidável em uma variedade de operações em ambientes altamente contestados do futuro”.
Hoje, a grande maioria dos aviões militares do mundo é da chamada quarta geração, nascida no fim dos anos 1970, que incorporava alta capacidade de manobra e de combate além do campo visual de forma sustentada em voo supersônico.
A adição parcial de tecnologias da chamada quinta geração, como ser furtivo ao radar ou ter uma suíte eletrônica capaz de fusão avançada de dados, gerou híbridos como a geração 4.5, ou 4++. É nessa categoria que se encontra o Saab Gripen E/F, modelo comprado pelo Brasil que fará sua estreia operacional no próximo dia 19.
A quinta geração, por sua vez, é mais definida. Hoje, é representada pelos caças furtivos americanos F-22 (introduzido em 2005) e F-35 (2015). Russos, com o Su-57 (2020), e chineses, com o J-20 (2017), afirmam dominar tais tecnologias, mas há dúvidas entre observadores ocidentais acerca das capacidades dos modelos.
Por fim, há o B-2, o avião mais caro da história, ao preço total de programa de US$ 2,1 bilhões (R$ 11 bilhões no câmbio desta sexta), sem contar o custo operacional, para cada uma das 21 unidades construídas —uma delas se perdeu em um acidente em 2008.
O B-21, por sua vez, promete ser um produto mais viável economicamente. A fabricante Northrop, a mesma do B-2, ganhou o contrato em 2015 e segundo relatório enviado neste ano ao Congresso, cumpriu o desenvolvimento do projeto abaixo dos US$ 25,4 bilhões (R$ 132 bilhões) aprovados inicialmente.
Uma novidade foi a abolição de protótipos: todos os seis modelos em estágios diferentes de construção já serão operacionais ao fim dos testes, o que deve ocorrer até o final da década. A fabricação foi acelerada devido ao acirramento da tensão mundial, inicialmente com a Guerra Fria 2.0 com a China e, depois, pela Guerra da Ucrânia.
Ao todo, o plano é ter até cem aviões nos próximos 30 anos, a um preço total de US$ 203 bilhões (R$ 1,05 trilhão), mas incluindo aí a operação. A Força Aérea estima um preço de prateleira de cada avião em US$ 550 milhões (R$ 2,8 bilhões), uma enormidade de todo modo.
A frota teoricamente substituirá todos os outros bombardeiros estratégicos americanos no futuro. Hoje, o país opera, além dos 20 B-2, 58 versões modernizadas do clássico B-52 e 45 supersônicos B1-B. Os B-2 e 46 dos B-52 empregam armas nucleares, enquanto o B1-B tem tal capacidade, mas hoje é designado para ataques convencionais.
O B-21 poderá carregar mísseis e bombas convencionais e atômicas, constituindo a perna aérea da tríada nuclear americana —hoje composta em silos com mísseis intercontinentais Minuteman-3 e submarinos armados principalmente com variantes do míssil Trident.
Russos e chineses correm atrás. Moscou tem um projeto a passo de tartaruga de uma asa voadora chamado PAK-DA, enquanto a China aparentemente está mais avançada com o seu bombardeiro furtivo H-20, sobre o qual pouco se sabe. Todos os programas, incluindo aí o do B-21, estão atrasados.
Hoje, os rivais americanos centram sua força de bombardeiros com capacidade nuclear nos modelos estratégicos russos Tu-22, Tu-95 e Tu-160, além do chinês H-6K. Esses aviões são vistos em patrulhas conjuntas no Pacífico com frequência, como ocorreu nesta semana.
Igor Gielow, Folhapress
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente esta matéria.