Haddad vai de derrotado em três eleições a principal cotado à Fazenda
Em maio de 2021, quando propôs a Luiz Inácio Lula da Silva a composição de uma chapa com o então tucano Geraldo Alckmin, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad disse ao padrinho político que, se a ideia não fosse aceita, ele jamais voltaria a tocar no assunto.
Autorizada, a operação só foi revelada seis meses depois. A discreta condução da articulação é encarada como uma prova de lealdade de Haddad a Lula. Em 2016, no auge da crise política enfrentada pelo PT, conselheiros chegaram a sugerir que deixasse o partido e trilhasse caminho próprio. Haddad recusou.
Após dez anos, o ex-ministro da Educação pode voltar a trabalhar sob o comando direto de Lula, em 2023. Seu nome é o mais forte na bolsa de apostas para o Ministério da Fazenda petista, cujo comando deve ser anunciado por Lula nesta sexta (9).
A lealdade é apontada como um sinal de que, se confirmado ministro da Fazenda, ele seguirá, com fidelidade, a orientação do presidente eleito.
Assim como a ex-presidente Dilma Rousseff, Haddad já foi, pejorativamente, chamado de poste. Petistas desconfiam que Lula o tenha escolhido como herdeiro político.
Aliados afirmam que a opção por seu nome é indicativo da disposição do futuro presidente de conduzir pessoalmente a política econômica de seu governo, embora reconheçam que Haddad tenha revelado luz própria desde que deixou a Esplanada dos Ministérios para concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2012.
A articulação da chapa Lula-Alckmin mostra também que Haddad é ouvido por Lula. Além da dobradinha com o ex-governador paulista, partiu dele a ideia de reconciliação política com a deputada eleita Marina Silva (Rede), que se engajou na campanha do petista ainda no primeiro turno.
Durante um jantar na noite de 23 de outubro, Haddad relatou aos comensais uma conversa em que teria sugerido a Lula que desse já no primeiro turno um caráter conciliatório à sua candidatura.
À época, Lula ainda não tinha recuperado os direitos políticos e recomendou que Haddad colocasse seu bloco na rua, segundo esse relato. O ex-prefeito teria então respondido que estava convicto de que Lula seria o candidato em 2022.
Haddad afirma ter aconselhado Lula a começar a eleição “pelo segundo turno”, pregando a necessidade de reconciliação nacional, plano posto em prática ao longo da campanha.
Sob o patrocínio de Lula, Haddad concorreu à Prefeitura de São Paulo em 2012. Vitorioso naquele ano, não foi reeleito em 2016. Dois anos depois, substituiu Lula na corrida presidencial, assinando um programa de governo elaborado no calor do processo que levou à prisão do ex-presidente.
Este ano, o ex-prefeito chegou ao segundo turno na disputa pelo governo de São Paulo. Durante a campanha, participou de jantares na tentativa de reduzir a resistência ao seu nome no empresariado. No evento organizado pelo grupo Esfera do Brasil, repetiu que a lógica é não opor o setor público ao empresarial.
“Eu nunca passei por um cargo que não tenha aberto oportunidades para o setor empresarial. Você pega o valor das ações em Bolsa dos grupos da educação durante o meu mandato. Veja, um por um, o que aconteceu com o preço das ações por causa do ProUni, do Fies e assim por diante. Todo mundo ganhou”, afirmou.
Nesse jantar, Haddad sugeriu que os presentes consultassem o setor empresarial de São Paulo, por exemplo, sobre a redução de prazos para concessão de alvarás durante o seu mandato.
“A construção pesada só tem uma coisa a reclamar de mim. Suspendi todas as obras superfaturadas. Nem iniciadas foram. Agora isso também faz parte de sanear o setor privado. Ninguém gosta de concorrer com bandido, né? Se você é honesto, entrega sua planilha, você quer ser julgado pela lisura do que está apresentando”, afirmou.
Bacharel em direito, mestre em economia e doutor em filosofia, Haddad define-se de centro-esquerda. A empresários, ele já afirmou que a injustiça social é a maior chaga do país. Também se disse convicto de que não é inibindo o investimento privado que se chega a uma sociedade melhor.
Mas ressaltou: “Até para não ser demagógico, eu acho que a gente tem pouco imposto sobre herança no Brasil. É muito pequeno. Estou falando de ‘herança-herança’. Não são dois pares de sapatos”.
Na opinião dele, o aumento do imposto sobre transmissão de patrimônio beneficiaria quem está passando fome.
“Acho pouco 4% sobre transmissão de patrimônio. A gente deveria ser mais generoso. Você tem R$ 1 bilhão e dois filhos, poderia deixar R$ 400 milhões para cada um.”
Crítico do sistema tributário regressivo, Haddad afirma haver distorções no Brasil. “Do lado do empreendedorismo eu sou a favor de fazer o que for possível para fomentar a inovação, o espírito empreendedor. Do outro lado, do tributo, acho que a gente tem que corrigir a graça que Deus às vezes deu para um e não deu para outros. É o momento em que o estado faz justiça social para não deixar ninguém muito para trás. Porque o cara que não deu certo talvez tenha um filho que pode dar.”
Aos 59 anos, Haddad é casado com a dentista Ana Estela desde 1988, com quem tem dois filhos. Em 2001, foi chefe de gabinete da Secretaria de finanças de São Paulo, durante a gestão de Marta Suplicy. Com a chegada de Lula à Presidência em 2003, passou pelo Ministério do Planejamento e da Educação, do qual foi ministro.
Catia Seabra/Folhapress
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