Advogado ligado a Lula defende mudança de posição de Múcio e rechaça diálogo com extremista
Coordenador do grupo Prerrogativas, o advogado Marco Aurélio Carvalho diz que o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, “talvez tenha sido vítima de sua própria generosidade” ao defender durante as últimas semanas uma solução moderada e gradual para os acampamentos golpistas em frente a quartéis do Exército.
“O ministro Múcio é uma pessoa reconhecida pelo seu espírito agregador e talvez tenha sido vítima de sua própria generosidade. Creio que a partir do que aconteceu [os ataques golpistas contra as sedes dos Três Podres] ele tenha reavaliado a posição que inicialmente tomou e vá agora tomar as medidas necessárias para evitar que situações parecidas voltem a ocorrer”, afirmou à Folha o advogado, que é ligado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Carvalho foi convidado a assumir Subchefia de Assuntos Jurídicos no Planalto, mas recusou. Ele deve atuar na coordenação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que Lula promete recriar.
“Os episódios de domingo [8] são um rico aprendizado para todo campo progressista. Não há possibilidade de diálogo com extremista”, diz Carvalho.
Múcio tem sido alvo de fogo amigo entre aliados de Lula por ter se oposto ao uso da força para desmobilizar os acampamentos de bolsonaristas radicalizados. Em 2 de janeiro, numa das declarações mais criticadas por petistas, Múcio afirmou que as manifestações golpistas em frente aos quartéis são “da democracia” e devem perder apoio aos poucos, sem repressão”.
As cenas de vandalismo e destruição no Congresso Nacional, no Palácio do Planalto e no STF (Supremo Tribunal Federal) reforçaram as críticas de pessoas próximas a Lula contra o ministro da Defesa.
Marco Aurélio Carvalho também atribui o ocorrido na Praça dos Três Podres a “um movimento golpista incitado pelo ex-presidente [Jair] Bolsonaro (PL) e com a conivência do governador [afastado] do Distrito Federal [Ibaneis Rocha], além das forças policiais do DF”.
Questionado se houve inação do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) na falta de proteção do Planalto, ele evita atribuir responsabilidades no âmbito do governo federal.
“É muito cedo para responsabilizar quem quer que seja. Temos só uma semana de governo. Quando assumimos, encontramos todas as instituições capturadas por interesses políticos e eleitorais, comprometidas em suas tarefas e missões constitucionais.”
Ibaneis Rocha foi afastado do cargo por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. O magistrado também ordenou a prisão do ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres e do ex-comandante da PM da capital, Fabio Augusto Vieira.
O advogado do grupo jurídico que se mobilizou pela defesa de Lula nas ações da Lava Jato afirma ainda que Bolsonaro deve ser responsabilizado por sua atuação dentro e fora do governo. Para ele, a responsabilização do ex-presidente em diferentes frentes —como a resposta à crise da Covid-19 e o uso da máquina pública com fins eleitorais— é “pedagógica”.
“A inelegibilidade de Bolsonaro é ponto de partida. Precisamos responsabilizá-lo civil e criminalmente”, afirmou Carvalho.
Ele também rejeita a comparação feita por Bolsonaro entre os ataques contra as sedes dos Três Poderes no domingo e manifestações de grupos de esquerda.
As situações são completamente diferentes. “Em anos recentes, a esquerda se organizou e se manifestou de forma pacífica e absolutamente democrática. Não trouxe risco à ordem pública”, declarou.
Catia Seabra/Folhapress
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