Ataques golpistas pegaram órgãos de segurança e inteligência desorganizados
Os ataques golpistas no domingo (8) em Brasília ocorreram em um momento em que as principais forças de segurança e de inteligência envolvidas na prevenção e combate a essas ações estavam desorganizadas.
Mesmo planejados sem qualquer sigilo, com reuniões e chamamentos veiculados nas redes sociais, os atos atingiram os três prédios mais importantes da República e expuseram a inércia dos órgãos de segurança, em especial os do Governo do Distrito Federal.
Embora integrantes do governo Lula (PT), da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal creditem a responsabilidade pelos atos ao Governo do DF, em especial à Secretaria de Segurança local, comandada pelo ex-ministro da Justiça Anderson Torres, também na esfera federal há uma situação de desorganização.
No âmbito distrital, com a Polícia Militar e Civil, como na federal, com a Polícia Federal, Abin (Agência de Inteligência Brasileira) e PRF (Polícia Rodoviária Federal), os órgãos passam por um período de transição devido a trocas de chefias.
No caso do Distrito Federal, cuja PM é a responsável pela segurança ostensiva no perímetro onde os ataques se deram e deveria ter barrado o avanço dos golpistas, Torres assumiu o cargo de secretário há poucos dias.
Na decisão em que afastou o governador Ibaneis Rocha (MDB), o ministro Alexandre de Moraes fala em descaso e falta de qualquer planejamento dos órgãos de segurança distritais.
Torres, citado por Moraes e alvo da investigação, tão logo assumiu promoveu mudanças nos cargos de chefia da secretaria e viajou para os Estados Unidos.
De acordo com relatos obtidos pela Folha, os representantes da segurança do DF prometeram em reunião no sábado (7) que uma barreira seria instalada para proibir a entrada de manifestantes na Esplanada dos Ministérios.
Mesmo após a promessa, o efetivo no local na tarde do domingo (8) era reduzido e não conseguiu conter o grupo de golpistas proveniente do QG do Exército.
Já no âmbito federal, a PF encontra-se atualmente sem diretores indicados pelo atual diretor-geral, Andrei Rodrigues —os anteriores foram exonerados, mas nas novas nomeações não foram formalizadas embora os novos nomes já tenham sido escolhidos.
A área de Inteligência, por exemplo, que poderia subsidiar a atuação da corporação com informações sobre as movimentações dos golpistas está sem o diretor e sem o chefe da área de contra-inteligência. Da equipe anterior, que acompanhava desde o ano passado as movimentações dos golpistas, apenas um delegado ainda foi mantido no cargo.
A Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado, onde tramitam alguns inquéritos sobre os atos antidemocráticos do pós segundo turno das eleições, também não tem novo diretor.
Moraes chega a citar em sua decisão deste domingo (8) que optou pelo afastamento porque PF e Procuradoria-Geral da República não pediram a prisão de agentes públicos.
Na Abin, a situação só não é a mesma porque o governo Lula voltou atrás da exoneração dos atuais diretores horas após exonerá-los sem indicar os novos ocupantes dos cargos de chefia.
Na agência, essa primeira derrapada da transição com as exonerações e a falta de sinalização sobre como será formada a nova diretoria tem impactado no dia a dia, como relataram agentes à Folha.
Nos dois órgãos, apenas o diretor-geral foi nomeado.
Na PRF, por sua vez, o cenário ainda é de ressaca após a instituição entrar na mira da Justiça por causa de sua atuação, patrocinada pelo então diretor Silvinei Vasques e pelo ex-ministro Anderson Torres, no dia da eleição e no bloqueios realizados nos dias posteriores a derrota de Bolsonaro.
Fabio Serapião, Folhapress
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