Encontro bilateral entre Lula e Maduro na Argentina é cancelado
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro |
O encontro ocorreria um dia antes da cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) na capital argentina, e seria o primeiro entre os líderes dos países desde que eles reataram os laços diplomáticos —estes haviam sido rompidos em 2020 pelo governo Bolsonaro.
Antes, na gestão Temer, ambos os países retiraram seus embaixadores de suas respectivas missões, mas mantiveram presença diplomática mútua em níveis inferiores de representação.
Lula anunciou a retomada de relações diplomáticas com a Venezuela no final de dezembro, antes mesmo de sua posse —Maduro chegou a ser convidado para a cerimônia, mas questões burocráticas impediram sua vinda. Nesta semana, o governo brasileiro enviou um diplomata para dar início ao processo de reabertura da embaixada do país, em Caracas, e dos seus três consulados no território.
O petista defende que a reintegração da Venezuela à comunidade diplomática sul-americana é necessária para resolver seu impasse político interno, que já dura décadas. Em entrevista à Folha, o chanceler Mauro Vieira reiterou essa visão, ressaltando que retomar o diálogo com a ditadura não significa apoiá-la. “Você não pode parar de falar com alguém porque a pessoa não concorda com você”, afirmou ele na ocasião.
A despeito do cancelamento com Maduro, Lula ainda deve se encontrar com uma figura controversa antes da cúpula do Celac — Miguel Díaz-Canel, líder do regime de Cuba. Embora o governo anterior não tenha rompido os laços com Havana oficialmente, ele na prática deixou de dialogar com a ditadura e, em 2019, votou pela primeira vez contra a resolução anual da ONU que condena o embargo americano à ilha.
A presença de Venezuela e Cuba na Celac foi, aliás, uma das razões pela qual o governo Bolsonaro havia deixado o colegiado. Lula assinou o retorno do país ao grupo já na sua primeira semana no poder, incluindo a cúpula no roteiro de sua primeira viagem internacional do terceiro mandato.
A relação do presidente e do PT com regimes autoritários da América Latina se tornou uma das principais pedras no sapato do petista em corridas eleitorais e com frequência é usada por opositores como combustível para atacá-lo —ora com fatos, ora com desinformação.
Quando esteve no Planalto de 2003 a 2010, Lula foi próximo de Fidel Castro (1926-2016), líder da ditadura cubana, e Hugo Chávez (1954-2013), na Venezuela. Alas do PT também mantêm laços com os sandinistas da Nicarágua —que capitanearam a democratização do país até iniciarem uma guinada autoritária.
A lista de encontros de Lula na Argentina ainda não está fechada, mas ele também se reunirá com sua aliada de longa data e vice do país, Cristina Kirchner —que não deve participar da conferência oficial entre os governos na Casa Rosada devido a seu afastamento do presidente, Alberto Fernandéz— e com o diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), Qu Dongyu.
Folhapress
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