Exército cancelou duas operações para desmonte de acampamento bolsonarista
O Exército suspendeu ao menos duas operações conjuntas com o Governo do Distrito Federal para retirar tendas e instalações do acampamento bolsonarista em frente ao quartel-general da Força, em Brasília.
As ações estavam previstas para ocorrer durante o mês de dezembro e incluíam o desmonte das estruturas que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) montaram para pedir um golpe militar contra a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Integrantes das forças de segurança, no entanto, afirmaram à Folha que as operações foram suspensas por haver risco de confronto com manifestantes —o que, na avaliação de militares e autoridades do Governo do DF, poderia ter efeito inverso e incendiar os atos.
Interlocutores no Exército dizem que a Força advoga por uma saída conciliada, lenta e gradual. Parte dos acampados no local iniciou uma desmobilização no domingo (1º), dia da posse de Lula e pouco depois de Bolsonaro viajar aos Estados Unidos. O ex-mandatário deve permanecer ao menos um mês no exterior.
Ações conjuntas vêm ocorrendo desde novembro, com o Detran-DF (Departamento de Trânsito do Distrito Federal) disponibilizando guinchos e o SLU (Serviço de Limpeza Urbana) realizando o recolhimento de lixo e entulho. O DF Legal, por sua vez, ficou responsável pela retirada de comerciantes em situação irregular.
Apesar da atuação, duas operações conjuntas planejadas para acelerar o desmonte do acampamento acabaram frustradas.
A primeira ocorreria na semana anterior à diplomação de Lula, no dia 12 de dezembro. O cancelamento ocorreu na véspera e por ordem do Exército, segundo relatos de pessoas envolvidas na operação.
A justificativa apresentada foi que o momento não seria o mais propício para uma ação mais drástica na retirada de estruturas.
Chegou-se a avaliar a possibilidade de adiamento da operação para o dia da diplomação, mas integrantes do Governo do DF afirmaram que, diante da tensão, não seria prudente realizar a retirada do material.
Horas depois da diplomação de Lula, um grupo de bolsonaristas que estava acampado no QG protagonizou cenas de violência em Brasília. Após a prisão de um indígena bolsonarista por ordem judicial, eles tentaram invadir a sede da Polícia Federal e atearam fogo em carros e ônibus na região central da capital federal.
O principal desconforto, no entanto, ocorreu em 29 de dezembro. A Polícia Militar e o DF Legal mobilizaram cerca de 500 agentes para retirar tendas e instalações no acampamento, em operação que seria coordenada pelo Exército.
Após manifestantes serem hostis contra as forças de segurança, o Comando Militar do Planalto decidiu suspender a operação e afirmou ao Governo do Distrito Federal que retomaria a desmobilização do acampamento de forma gradual, por conta própria.
Em nota, o Exército afirmou que suspendeu a ação “no intuito de manter a ordem e a segurança de todos os envolvidos”
Oficiais-generais disseram à Folha que a decisão foi tomada pelo general Gustavo Dutra, comandante militar do Planalto, e não pelo então comandante do Exército, Freire Gomes.
Eles afirmaram que uma retirada à força poderia causar conflito e elevar a temperatura —cenário que, na avaliação dos militares, deveria ser evitado.
A equipe de segurança de Lula tem a expectativa de que a troca do comando do Exército acarrete numa mudança de postura da Força sobre as manifestações antidemocráticas em frente aos quartéis.
O general Júlio César de Arruda assumiu nesta sexta-feira (30) o principal cargo do Exército. A cerimônia de passagem do cargo ocorreu de forma fechada e contou com a presença do ministro da Defesa indicado por Lula, José Múcio Monteiro.
O ex-presidente do TCU (Tribunal de Contas da União) tem ponderado que deve ocorrer uma costura delicada para evitar novos atritos com bolsonaristas.
Ao tomar posse nesta segunda-feira (2), Múcio voltou a defender uma abordagem moderada em relação às manifestações nos quartéis. Disse que são movimentos “da democracia” e que devem perder apoio aos poucos, sem repressão.
“Na hora que o ex-presidente [Bolsonaro] entregou o seu cargo, saiu [do país], e o [ex-vice-presidente Hamilton] Mourão fez o pronunciamento e pediu que as pessoas voltassem aos seus lares. Aquelas manifestações no acampamento, e eu digo com muita autoridade porque tenho familiares e amigos lá, é uma manifestação da democracia”, disse a jornalistas.
Os atos antidemocráticos, que pediam um golpe militar para manter o então presidente Bolsonaro o poder, tiveram diferentes casos de violência que incluíram ato de terrorismo, depredações, agressões, sabotagem, saques, sequestro e tentativa de homicídio.
Cézar Feitoza e Victoria Azevedo, Folhapress
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