Lula transforma prefeitura em gabinete de crise para avaliar atos golpistas

Em sua primeira viagem oficial após assumir o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) transformou a Prefeitura de Araraquara (SP) num gabinete de crise para avaliar os atos antidemocráticos que ocorrem neste domingo (8) em Brasília.

O presidente viajou à cidade do interior paulista para analisar os danos causados pelas intensas chuvas no município nas últimas semanas. Seis pessoas morreram.

Lula, no entanto, chegou ao local, na avenida 36, fez uma rápida visita com o prefeito Edinho Silva (PT), a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, e uma comitiva com nomes como o ministro Luiz Marinho e deixou o evento sem falar com a imprensa.

Havia previsão de uma entrevista à imprensa no local, mas assessores informaram que, se o presidente fosse falar, seria na prefeitura, para onde se dirigiu.

Lula chegou ao local por volta das 15h30 e se reuniu imediatamente com sua equipe no gabinete de Edinho. Prefeitos de cidades da região também estão no local, que tem a segurança reforçada.

Policiais militares fortemente armados e agentes da PF (Polícia Federal) estão no local. Até mesmo secretários de confiança de Edinho chegaram a ser barrados momentaneamente pelas equipes que atuam no local.

Centenas de militantes e membros de movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) estão em frente a prefeitura e entoam músicas da campanha de Lula à Presidência da República e o hino nacional.

Seguranças relataram tensão dentro da prefeitura com o cenário em Brasília. Dizem que Lula está avaliando cada passo dos atos na capital federal para decidir como se pronunciar e o local em que esse pronunciamento se dará.

Na visita a Araraquara, o prefeito Edinho mostrou ao presidente os trabalhos feitos pela Defesa Civil e expôs a dimensão dos danos que as chuvas causaram na infraestrutura local. A administração estima necessitar de R$ 50 milhões para fazer as obras necessárias para reparar os estragos causados pelas chuvas, valor que os cofres municipais não têm como arcar, segundo o prefeito.

Edinho, um dos coordenadores da comunicação da campanha vitoriosa de Lula à Presidência, é um dos homens de confiança do petista. Ele já tinha recebido na última quinta-feira (5) os ministros Jader Filho (Cidades) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), que também passaram por locais danificados pelas chuvas.

Ele foi sondado para ser assumir a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), cargo que já exerceu no segundo governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), mas rejeitou.

Edinho defendia que a pasta fosse fundida ao Ministério das Comunicações, o que justificaria sua saída da Prefeitura de Araraquara –reeleito em 2020, está em seu quarto mandato.

Mas o Ministério das Comunicações acabou reservado à União Brasil, em uma articulação para fortalecer a base governista no Congresso Nacional. A Secom ficou com o deputado federal Paulo Pimenta (RS).
Na avenida Padre Francisco Sales Colturato, conhecida como Avenida 36, uma cratera que surgiu devido às chuvas em 28 de dezembro –200 milímetros em 24 horas– “engoliu” um veículo e matou seis pessoas.

HOSTILIDADE
No local da cratera, onde Lula inicialmente falaria, militantes do partido e dezenas de integrantes de movimentos sociais de Araraquara e municípios da região se aglomeraram no local, isolado por agentes de segurança, e entoaram gritos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

No lado oposto do evento, sem acesso ao ponto em que Lula estava, um pequeno grupo de bolsonaristas se manifestava contra o presidente com gritos de “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”, devolvidos com “Ei, você aí, avisa o Bolsonaro que o sigilo vai cair”.

Araraquara foi uma das cidades paulistas em que Lula ficou à frente de Bolsonaro no segundo turno das eleições. Ele alcançou 50,5% dos votos válidos, ante 49,5% do ex-presidente.

No estado de São Paulo, porém, Bolsonaro atingiu 55,24%, enquanto o petista obteve 44,76%.

Marcelo Toledo / Folhapress

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