Ministra de Lula apaga foto e vídeo que reforçam ligação com outro miliciano

A ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), apagou um vídeo e uma foto de suas redes sociais que mostravam o elo político dela com o ex-vereador Marcinho Bombeiro, preso sob acusação de comandar uma milícia em Belford Roxo.

Os registros foram retirados de sua página no Facebook após contato da reportagem para que comentasse a relação política com a família do terceiro-sargento do Bombeiro.

Dois parentes do ex-vereador ganharam cargos na Prefeitura de Belford Roxo, comandada por Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho (União Brasil), marido da ministra do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Rosimery e Aracimy Pagniez, irmã e pai do ex-vereador, respectivamente, também tiveram participação ativa na campanha da ministra no ano passado e foram anfitriões de um comício no bairro em que, segundo o Ministério Público, atuava a chamada “Tropa do Marcinho”.

Em 2018, Marcinho Bombeiro gravou um vídeo em apoio à ministra, em sua primeira disputa por uma cadeira na Câmara dos Deputados.

“Muito obrigada pelo apoio e confiança, meu amigo Marcinho Bombeiro, Presidente da Câmara Municipal de Belford Roxo. Juntos vamos mudar a realidade de toda a Baixada Fluminense, em especial da nossa querida cidade”, agradeceu ela, em suas redes sociais.

Após o contato da reportagem, a ministra retirou de suas redes sociais a postagem em que descrevia o encontro no ano passado, com familiares de Marcinho Bombeiro, e o vídeo de apoio do ex-vereador.

O material, contudo, segue disponível no Youtube da ministra e na rede social do deputado Márcio Canella (União Brasil), que também participou do ato no ano passado.

Marcinho Bombeiro era presidente da Câmara Municipal de Belford Roxo até setembro de 2019, quando foi denunciado sob acusação de homicídio e de liderar uma milícia que, de acordo com a Promotoria, agia “com extrema violência e ostentando armas de fogo de grosso calibre pela localidade”.

Ele foi preso preventivamente no mês seguinte, em outubro de 2019, sob acusação de tentar matar testemunhas do homicídio pelo qual foi acusado. Meses antes das denúncias, ele gravou o vídeo em apoio à ministra.

Mesmo na cadeia, Marcinho Bombeiro manteve sua atividade política. Ele se candidatou em 2020 a vereador na cidade, teve a campanha tocada pela família e obteve 1.946 votos.

Daniela Carneiro é alvo de pressão desde que o jornal Folha de S.Paulo mostrou o vínculo que seu grupo político mantém há ao menos quatro anos com a família de outro miliciano, o ex-PM Juracy Prudêncio, o Jura.

Ele atuou diretamente na campanha da ministra em 2018, quando já estava condenado a 26 anos de prisão por homicídio e associação criminosa, e por meio de sua mulher, Giane Prudêncio, no ano passado.

Daniela foi nomeada ministra como uma forma de contemplar a União Brasil e ampliar a presença feminina na montagem do governo.

Também foi uma retribuição pelo empenho dela e do marido na campanha do segundo turno em favor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O casal foi uma das poucas lideranças a apoiar abertamente o petista na Baixada Fluminense.

Daniela foi reeleita deputada federal como a mais votada no Rio de Janeiro. A campanha dela foi marcada pelo apoio irregular de oficiais da Polícia Militar e pelo ambiente hostil e armado contra adversários políticos de sua base eleitoral.

Um dos atos de campanha deste ano de Daniela, em 6 de setembro do ano passado, ocorreu no bairro Andrade Araújo, em Belford Roxo.

Era neste bairro que, de acordo com o Ministério Público, o ex-vereador tinha uma milícia. O encontro teve como anfitriões Rosimery, Aracimy e Matheus Pagniez, irmã, pai e filho de Marcinho Bombeiro.

Rose, como a irmã do ex-vereador é chamada, ocupava desde dezembro de 2021 o cargo de secretária-executiva da Secretaria de Saúde.

Dois meses antes da nomeação, ela divulgou em suas redes sociais a inauguração de um escritório para trabalhar como despachante do Detran-RJ. A página continua no ar com seu número de contato.

Aracimy, por sua vez, ganhou o cargo em setembro do ano passado, período da campanha eleitoral, como vigia da Secretaria de Educação.

Os dois foram exonerados no fim do ano passado por meio de um decreto no qual o prefeito dispensa todos os funcionários de cargo em comissão.

Antes dos dois, uma série de parentes de Marcinho Bombeiro também ocuparam cargos na Prefeitura, como a cunhada Cristina e o irmão Alexandre. A própria Rose já havia trabalhado na prefeitura, entre 2015 e 2016. Nenhum deles é alvo de acusação criminal envolvendo o ex-vereador.

Italo Nogueira/Folhapress

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