Não são nem 10%, diz vice de El Salvador sobre mortos e desaparecidos em combate a gangues

Félix Ulloa defende exportação de políticas do governo de Nayib Bukele contra as chamadas 'maras' a países como o Haiti
Em cerca de dois meses, El Salvador completará um ano sob o regime de exceção decretado pelo governo do populista Nayib Bukele. E não há prazo para encerrá-lo, segundo o vice-presidente Félix Ulloa, 71.

Com a justificativa de combater as chamadas “pandillas” ou “maras”, gangues responsáveis por altos índices de violência, o país centro-americano tem estabelecido cercos militares e realizado, de forma maciça, prisões de supostos membros das “pandillas” —60 mil até aqui.

Organizações de direitos humanos apontam que a situação, junto à postura de Bukele e de seus partidários de interferir no Judiciário e de manter um discurso agressivo contra a imprensa, fez El Salvador migrar para uma autocracia. Ulloa, por sua vez, diz que a democracia por lá nunca esteve tão vibrante.

Formado em direito, ele lutou contra a ditadura que vigorou de 1931 a 1979 no país. Seu pai, de quem herdou o nome, foi assassinado pelo regime em 1980. Bukele é 30 anos mais novo que seu vice.

Ulloa reconhece que a guerra contra as gangues protagonizou violações de direitos humanos. Mas afirma que essa não é uma política de Estado —seria, diz ele, uma espécie de dano colateral. “Nenhuma obra humana é perfeita, e investigações estão em curso”, afirma o salvadorenho.

Ele falou à Folha por videochamada na primeira semana de janeiro, quando esteve no Brasil para a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pouco antes de se reunir com o seu homólogo brasileiro, Geraldo Alckmin (PSB).

O governo argumenta que o número de homicídios caiu no país, e Bukele goza de índices de aprovação superiores a 80%. Contrariando a Constituição, ele já disse que deve disputar a reeleição em 2024.

Mayara Paixão / Folha de São Paulo

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