PF prendeu 2.000 suspeitos de integrar o PCC e apreendeu R$ 812 mi da facção em cinco anos

Desde 2018, quando passou a ter um foco específico em facções criminosas, em especial o PCC (Primeiro Comando da Capital), a Polícia Federal realizou 339 operações contra o grupo —que atua em toda a logística do tráfico de drogas, além de outros crimes relacionados.

O setor responsável pelo combate ao tráfico de drogas se chamava coordenação-geral de Repressão a Entorpecentes até 2018. Naquele ano, último do governo Michel Temer (MDB) e na esteira da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, foi acrescentada a palavra facção ao nome do setor.

Antes disso, os dados de operações contra a facção ficavam dissipados em vários setores da PF, uma vez que o objetivo sempre foi a descapitalização do tráfico, sem se concentrar em grupos específicos.

Com a mudança de postura, a PF passou a contabilizar cada operação deflagrada e a criar grupos especializados para combater a chamada criminalidade faccionada.

As ações decorrentes da nova organização interna resultaram na apreensão de R$ 812 milhões e na decretação de 2.086 prisões.

Entre as prisões, a PF conseguiu deter Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como “Fuminho” e apontado como “o maior fornecedor de cocaína a uma facção com atuação em todo Brasil, além de ser responsável pelo envio de toneladas da droga para diversos países do mundo”. Ele foi preso em Moçambique depois de 20 anos foragido.

Mato Grosso do Sul, uma das principais entradas de droga do país comandada pela facção, lidera o ranking de operações, seguido de São Paulo, o berço do PCC.

No estado do Centro-Oeste foi realizada a operação Status, em agosto de 2020, em conjunto com a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai. A ação mirou líderes da facção e resultou na apreensão de R$ 116 milhões em valores e bens.

A apuração se iniciou após os investigadores descobrirem que um dos chefes do grupo precisou utilizar R$ 350 mil como caução para tratamento de saúde em um hospital de São Paulo.

Os traficantes que agiam na região da fronteira mantinham empresas de fachada e ostentavam com festas, carros de luxo, motos aquáticas e fazendas.

Foi identificado, inclusive, um resort particular, situado às margens de um lago na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso. No local foi realizado um show da dupla sertaneja Bruno e Marrone, em comemoração ao aniversário de um dos chefes da organização criminosa.

São Paulo, estado no qual a Polícia Civil centralizava as investigações contra o grupo até então, aparece na segunda colocação, com 50 operações realizadas.

A PF paulista realizou uma das principais ofensivas contra a cúpula do PCC. Batizada de Rei do Crime e deflagrada em setembro de 2020, a operação mirou um “sofisticado esquema” de lavagem de dinheiro do PCC por meio de postos de gasolina.

O esquema teria movimentado cerca de R$ 30 bilhões em quatro anos.

Na operação, a PF pediu o bloqueio de contas bancárias e sequestrou 32 automóveis, nove motocicletas, dois helicópteros, iate, três motos aquáticas, 58 caminhões e 42 reboques e semirreboques, com valor superior a R$ 32 milhões.

Outra ação que mirou a cúpula do PCC foi realizada em agosto de 2022, quando agentes da PF foram às ruas para desarticular um mega plano para libertar dos presídios federais de segurança máxima algumas das principais lideranças da facção, entre elas Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.

Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido em uma residência da mulher de Marcola localizada em Alphaville, na Grande São Paulo.

O grupo criminoso planejava sequestrar autoridades e desenvolver outras ações para conseguir a soltura das lideranças da facção.

A investigação descobriu o uso de códigos, como “STF” e “STJ”, para designar as táticas que seriam utilizadas na ação de resgate e na “prática de sequestro de autoridades do Sistema Penitenciário Federal e/ou seus familiares, com ordens, inclusive, para a prática de homicídios”.

No final de 2020, a PF começou a rastrear pistas de um outro negócio da facção criminosa: o envio de cocaína à Europa por meio de navios.

Os investigadores interceptaram o envio de 2.700 kg do produto para a Espanha, que seriam transportados em um navio que partia de São Sebastião (SP).

Foi determinada ainda a interdição da atividade de uma rede de postos de combustível na Bahia, suspeita de ser usada para lavagem do dinheiro arrecadado.

Após meses de apuração, o cerco se fechou e foi deflagrada a operação Calvary. Foram cumpridos mandados para o sequestro de 28 imóveis, veículos, além de valores em contas vinculadas a 53 pessoas físicas e jurídicas. Algumas contas foram abertas em Portugal e na Bélgica.

Os bens apreendidos durante as investigações são estimados em R$ 50 milhões. Foi determinada, inclusive, a retenção de um navio que seria de propriedade do grupo e utilizado no transporte transoceânico da cocaína.

Fabio Serapião e Marcelo Rocha, Folhapress

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