Bolsonaro ignora reunião com Marcos do Val em fala de 40 minutos a apoiadores nos EUA

O ex-presidente Jair Bolsonaro
Em clima de confraternização, com música alta e plateia brasileira, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou nesta sexta-feira (3) de evento com apoiadores em Miami (EUA).

Realizado no Crystal Ballroom do resort Trump National Doral, o evento Power of the People é uma iniciativa do Turning Point USA e conta com a participação de Charlie Kirk, fundador do grupo conservador e apoiador do ex-presidente americano Donald Trump. Charlie é e investigado por envolvimento na invasão ao Capitólio.

No evento desta sexta, o ex-presidente brasileiro não citou os ataques de bolsonaristas às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro nem as denúncias de um complô golpista feitas pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES).

Bolsonaro abriu a palestra exaltando feitos de seu governo e, no encerramento do discurso, afirmou ter sensação de dever cumprido e a consciência de que fez o melhor. Foi ovacionado em vários momentos.

“Nós não desistiremos do Brasil. Recarrego minhas baterias em momentos como esse”, afirmou em meio aos gritos de “mito” vindos da plateia.

Ao afirmar ter enfrentado o sistema e terminado o governo sem denúncia de corrupção, ouviu gritos de “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”. No ano passado, Bolsonaro adaptou seu discurso sobre o tema. Ele costumava ser categórico sobre a inexistência de corrupção em seu governo, mas, depois disse que não havia “corrupção endêmica” na sua gestão.

Nesta sexta, o ex-presidente também atacou o atual governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Compare os meus ministros com os ministros que têm agora no Brasil”, disse.

“O Brasil estava indo muito bem. Não consigo entender os motivos de ter ido para a esquerda.”

Após o discurso, o presidente respondeu a perguntas do anfitrião Charlie Kirk sobre o crescimento do socialismo na América Latina. Mais uma vez, Bolsonaro exaltou os feitos de seu governo e afirmou que a esquerda foi eleita com promessa de picanha e cerveja, mas que o povo vai ficar “sem emprego, sem picanha e sem cerveja”, atribuindo os números do desemprego do mês de dezembro à atual gestão.

Por fim, o ex-presidente fez críticas à atuação do Poder Judiciário no Brasil e reforçou suas pautas antiaborto e propriedade privada.

“Quem deve dar norte ao país é a população. Fugimos do populismo e demos meios para o povo trabalhar”, encerrou em meio a sorrisos e aplausos dos presentes.

Bolsonaro não quis falar com a imprensa e deixou o local escoltado por seguranças.

Bolsonaro saiu do Brasil no dia 30 de dezembro, um dia antes de encerrar o mandato e rompeu a tradição democrática ao não passar a faixa presidencial para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O ex-presidente solicitou visto de turista para permanecer mais tempo nos Estados Unidos. Ele chegou ao país com o visto diplomático e tinha 30 dias para mudar esse status a partir do momento em que deixou o cargo.

O escritório de advocacia contratado por Bolsonaro solicitou um visto B2 para o ex-presidente. O documento permite a permanência por até seis meses no país, mas não autoriza a realização de atividades remuneradas, o que atrapalharia o plano de financiar a estadia com palestras para empresários.

A estimativa é que o novo visto seja aprovado em até dois meses.

Em declaração foi dada nesta semana após outro evento nos Estados Unidos, o ex-presidente afirmou que, por ter avós nascidos na Itália, é italiano e enfrentaria pouca burocracia para solicitar a cidadania ao país.

“Pela legislação, eu sou italiano. Tenho avós nascidos na Itália, e a legislação de vocês diz que eu sou italiano. Pouquíssima burocracia e eu teria cidadania plena”, afirmou ao ser questionado por uma repórter do jornal Corriere della Sera se havia solicitado cidadania italiana.

A revelação de uma reunião entre Bolsonaro, o senador Marcos do Val e o então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) é mais um ingrediente nas investigações que apuram a participação do ex-presidente no plano golpista que terminou nos ataques aos prédios de STF, Planalto e Congresso em 8 de janeiro.

O caso se soma ainda ao histórico golpista de Bolsonaro e à minuta com plano de golpe encontrada pela Polícia Federal na casa do ex-ministro Anderson Torres no último mês.

A Polícia Federal atua em quatro linhas de investigação para apurar todos os fatos e pessoas relacionados aos ataques golpistas e vandalismo realizados por apoiadores de Bolsonaro.

Estão na mira dessas investigações o ex-presidente, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e autoridades que atuaram ou se omitiram durante a investida golpista

No caso de Bolsonaro, a PF mira os autores intelectuais dos ataques, e o depoimento de Marcos do Val pode fortalecer as suspeitas de que as seguidas investidas golpistas do ex-presidente contribuíram para os ataques.

Natasha Bin/Folhapress

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