Cidades na Turquia atingidas pelo terremoto vivem misto de opressão e medo
Entrar nas cidades turcas de Kahramanmaras e em Gaziantepe, que circundam o epicentro do terremoto que matou, até esta quarta (8), 12 mil pessoas, traz um misto de opressão e medo.Destruição causada pelo terremoto na Turquia
A opressão se deve a ver pessoalmente as ruínas de prédios inteiros no chão, tratores e escavadeiras remexendo em escombros, e imaginar se alguém sob as toneladas de concreto será resgatado ou esmagado. Já o medo diz respeito a chegar a um dos lugares menos seguros da Terra, pelo menos nesta semana.
Após o terremoto de magnitude 7,8, na noite de domingo (5), dezenas de tremores secundários se seguiram, assustando ainda mais a população e preocupando as dezenas de grupos de resgate que vêm de todas as partes do mundo.
No caminho percorrido pela reportagem para chegar à região, havia forças de resgate japonesas, voluntários russos e bombeiros espanhóis. O ponto de convergência na Turquia é Kayseri, cidade que tradicionalmente recebe milhares de turistas ao que vão à Capadócia, a uma hora de distância, para voar de balão.
É ali que aterrissam os japoneses. “Nossa primeira turma chegou ontem [terça (7)], e soubemos que eles já resgataram três”, conta Takemi Ishikuri, da polícia nacional japonesa. Ele lidera um grupo de 70 policiais, bombeiros e agentes da Guarda Costeira, chamado, como pode se ler em seus uniformes e bonés, Grupo de Alívio de Desastres.
Levam quatro cachorros treinados para localizar pessoas em escombros. “Nosso país tem grande experiência com situações assim”, diz Ishikuri, entre orgulhoso e comovido, contando ter participado dos trabalhos após o terremoto e o subsequente tsunami que assolaram o Japão em 2011.
Os 30 russos, ao contrário, são todos voluntários. Com inglês razoável, um revela ser engenheiro em uma fábrica de São Petersburgo. Ele diz que não tem nenhuma experiência em terremotos, pois sua cidade, diferentemente de Gaziantepe, está no meio de um pântano.
Uma russa se aproxima e conta que é paramédica. Até que o líder esbraveja que eles estão passando muita informação. “Informatsiya” é a única palavra que dá para pescar, mas diz tudo.
A reportagem pergunta a Ishikuri se os três resgatados por sua equipe estavam vivos. Parecia óbvio que sim, mas não. “Dois mortos. Um com vida”, responde ele, em tom grave.
A locomoção no sul do país está caótica. Em algumas cidades, os aeroportos estão fechados. Em outras, não há gasolina. Em parte das estradas, o carro fica 60 minutos sem colocar a primeira marcha devido aos danos nas rodovias.
Para chegar a Gaziantepe, partindo de Kayseri, o trecho de quatro horas se transforma em oito. Vans e caminhonetes repletas de água disputam espaço com caminhões tão grandes que carregam, na caçamba, duas ou até três escavadeiras.
Perto de Kayseri, são as condições climáticas que atrapalham. A rodovia dupla se transforma em pista única quando a neve se acumula nos dois lados e aperta todo mundo no meio. Às vezes, o gelo toma conta da pista, e o carro sai deslizando, até que o anjo da guarda resolva reaparecer.
Vez por outra, o trânsito para. Veem-se os semblantes sérios dentro dos veículos em direção ao sul. São familiares indo resgatar parentes, voluntários levando mantimentos ou pessoas indo buscar amigos com quem não conseguem contato.
No lado oposto da pista, ao contrário, estão as pessoas que fogem do epicentro. Estão com medo? Aliviados? Serão moradores que não têm mais seus imóveis? Ou serão inquilinos que agora não têm mais aluguéis para pagar? Seria preciso descer no frio de – 8ºC para bater nos vidros e perguntar.
A internet funciona, mas as cidades sofrem de diversas formas. Em Gaziantepe, não há água quente. Os recepcionistas dos hotéis sugerem aos hóspedes que usem as cafeteiras elétricas dos quartos para esquentar a água do banho. A temperatura na cidade alcança 5ºC quando bate sol.
No hotel em que a reportagem está, de oito andares —mas com arquitetura preparada até a magnitude de 9, garante a recepção—, há 90 pessoas abrigadas, a maioria parentes dos funcionários da casa. O hotel abriu as portas a eles gratuitamente, e as crianças não param quietas. Para elas, a vida sempre continua.
Ivan Finotti/Folhapress
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