Criminosos fazem reféns e roubam barco do governo no Vale do Javari

Indígenas fazem fiscalização no Vale do Javari
Dias antes de uma comitiva com representantes do governo federal e forças de segurança viajar à tríplice fronteira de Brasil, Peru e Colômbia, uma embarcação do Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) no Vale do Javari foi roubada por três homens armados, que fizeram dois funcionários da unidade reféns.

O crime ocorreu na quinta-feira (23) no rio Javari, em Atalaia do Norte (AM), onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Philips foram assassinados em junho do ano passado. Os dois funcionários reféns foram abandonados numa área de igapó na região. Ninguém foi preso.

Na segunda-feira (27), a comitiva viajará à região com o objetivo de retomar a presença do Estado no local.

A região é marcada por crimes ambientais e considerada a segunda maior entrada de cocaína no país. No município de Atalaia do Norte, a 1.138 km de Manaus, indígenas continuam sendo vítimas de ameaças de morte, agressões e invasões ao segundo maior território demarcado do país, onde se concentra a maior grupo de índios isolados do mundo.

Em novembro do ano passado, a Akavaja (Associação dos Kanamari do Vale do Javari) e a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) denunciaram que os invasores ameaçaram de morte uma indígena com uma arma apontada para seu peito, fazendo referência ao assassinato de Bruno e Dom.

Bruno havia se afastado da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e começado a trabalhar com os indígenas na proteção do território com o desmonte dos órgãos ambientais e da fundação no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Dois anos antes, o funcionário da Funai Maxciel Pereira dos Santos foi assassinado a tiros em Tabatinga (AM), na fronteira com Peru e Colômbia.

Ele trabalhava em uma base do órgão indigenista no Vale do Javari, atacada a tiros diversas vezes ao longo dos últimos anos por criminosos e onde os indígenas querem levar as autoridades brasileiras na segunda-feira.

A embarcação foi abandonada no rio Javari, do lado peruano da fronteira. Da embarcação do governo brasileiro foram roubados 3.600 litros de combustível, outra embarcação menor chamada de canoão, dois motores. A embarcação deveria ser usada para atendimento de saúde dos indígenas do Javari, alguns de recente contato como os korubos.

A Polícia Civil fez diligência no local, que fica a poucos minutos de Atalaia do Norte, mas não encontrou vestígios dos assaltantes nem do que foi roubado do Dsei.

O local em que os funcionários foram abandonados do lado peruano é considerado perigoso até mesmo para policiais.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, a Polícia Civil do Amazonas está realizando oitivas, mas não informou com quem.

Além disso, a pasta diz fazer buscas na região para localizar os criminosos e que policiais militares seguem “realizando patrulhamento nos rios da região, como forma de reforçar o trabalho realizado pelas forças federais de segurança, responsáveis pela atuação na localidade”.

Na semana passada, o Ministério dos Povos Indígenas confirmou participação, ao lado de órgãos ambientais e de segurança e da Funai na agenda organizada pela Univaja, que esteve à frente das denúncias e primeiras ações de buscas quando Bruno e Dom sumiram.

Após os assassinatos de Maxciel, Bruno e Dom, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos concedeu medida cautelar à Univaja para que o país “adote as medidas necessárias para proteger a vida e a integridade pessoal” de 11 defensores dos povos indígenas na região ameaçados de morte.

O território indígena Vale do Javari tem área 56 vezes maior que o município de São Paulo. Na região, vivem povos indígenas das etnias marubo, kanamari, kulina pano, matis, matsés, tsohom-dyapa, os de recente contato korubo e a maior população de índios isolados do mundo divididos em outros grupos.

Rosiene Carvalho, Folhapress

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente esta matéria.