Custos caem, mas insegurança jurídica e financeira preocupa agronegócio

Os custos para o setor agrícola melhoraram um ano após a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia, mas seguem altos e prejudicando a produção, também afetada pelo clima e pelo preço do óleo diesel.

Além disso, agropecuaristas brasileiros afirmam enfrentar insegurança jurídica no campo com as recentes invasões de movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

As avaliações são de especialistas e associações do setor, que também pedem maior previsibilidade na liberação de financiamentos agrícolas, redução do preço do diesel e atuação do governo na intermediação de conflitos agrários.

Segundo Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, os preços dos principais fertilizantes retrocederam até 70% em comparação com os patamares de junho do ano passado, período em que os valores dispararam devido ao conflito na Ucrânia.

Com isso, a redução de custos, dependendo da cultura, ficará entre 7% a 12% neste ano. “Houve certo recuo de preços de algumas commodities, mas a margem para o produtor tem se mantido positiva por conta dessa redução de custos”, disse Nastari.

Para o especialista, o recuo em preços deve chegar ao consumidor final de grãos e proteína animal à medida que os preços das commodities recuem. “Os insumos proteicos representam o maior custo da produção de proteína animal.”

Não foi só a guerra, entretanto, que provocou problemas nos preços, mas também os impactos da Covid-19. Otto Schumacher, diretor da MCassab Nutrição e Saúde Animal, que tem atuação na China, lembrou que os custos para produção estão mais altos no mundo. “O questionamento que se faz é como as fábricas vão absorver esse aumento.”

“Do ponto de vista do nosso cliente, é um ambiente mais estável. Apesar da seca no Rio Grande do Sul e na Argentina, o relatório da [Conab Companhia Nacional de Abastecimento] e as pesquisas mostram que teremos uma boa safra neste ano novamente, o que traz um pouco menos de pressão no custo para a produção de proteína animal.”

Schumacher disse ainda que, no mercado doméstico, o crédito tem sido um problema. “O custo do capital de giro, as taxas de juros, pressionam muito o produtor.”

O pecuarista Maurício Velloso, presidente da Assocon (Associação Nacional da Pecuária Intensiva), afirmou que a política de restrições adotada na pandemia de Covid-19 provocou desorganização da produção primária em todo mundo, o que fez com que os custos de produção explodissem.

“A margem do negócio pecuário tornou-se negativa nesse cenário. Entretanto, a inversão do ciclo já se mostra visível, a demanda externa é crescente e consistente, e os valores da carne ao consumidor estão competitivos.”

As invasões de terra feitas pelo MST neste ano também têm sido questionadas pelo agronegócio. Em março, ao visitar Rondonópolis (MT), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com uma instituição que representa entidades do agro no estado e foi cobrado sobre a atuação dos sem-terra.

BLOQUEIO ELEVA CUSTO
O bloqueio econômico contra a Rússia fez os custos de produção subirem muito na pecuária, segundo Alcides Torres, engenheiro agrônomo e analista de mercado da Scot Consultoria, mas não só em produtos como herbicidas e inseticidas. “Por razões de clima, subiram os preços de farinha, farelos e tudo que o boi consome.”

Para Marcos Fava Neves, docente da USP (Universidade de São Paulo), a deflagração da guerra obrigou os países a buscar novos fornecedores e a alterar práticas cotidianas para otimizar o custo de fertilizantes, defensivos e medicamentos.

“Hoje você vê a China funcionando muito bem, a Índia como uma alternativa muito importante para o mercado de insumos e princípios ativos e o setor de fertilizantes também funcionando. Há estoques em revendas e cooperativas, e o produtor também está mais eficiente no uso desses produtos.”

“O cenário foi muito complexo no ano passado, com os custos dos insumos muito altos, [e agora] a coisa virou e está do lado do produtor, com uma queda nos preços dos insumos. Eu também tenho expectativa de redução no valor do diesel por conta dessa queda do petróleo.”

Na última semana, o preço do diesel nas refinarias caiu R$ 0,18 por litro, mas o valor médio nas bombas foi apenas R$ 0,03 inferior em comparação com o período anterior.

Há uma expectativa no setor de que a redução do combustível nas refinarias chegue integralmente aos postos, o que beneficiaria diretamente o agro, já que as máquinas são movidas majoritariamente pelo combustível.

Já o trigo, que viu o preço disparar em março do ano passado e atingir o maior valor em 14 anos devido à guerra, não provoca o mesmo problema hoje ao mercado brasileiro, segundo Rubens Barbosa, presidente da Abitrigo (Associação Brasileira das Indústrias de Trigo).

“O preço internacional do trigo voltou aos níveis do início da guerra. Rússia e Ucrânia fecharam um acordo com a ONU, então isso também foi positivo. Do ponto de vista internacional, o preço da Rússia é competitivo, abaixo do praticado na Argentina e nos Estados Unidos.”

O custo, porém, segue alto para os moinhos brasileiros, disse Barbosa. O cenário só não é mais preocupante porque o setor obteve a prorrogação da isenção do Imposto de Importação até o dia 31 de julho. Ucrânia e Rússia exportam cerca de 30% do trigo no mundo.

O jornalista viajou a convite da New Holland

Marcelo Toledo/Folhapress

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente esta matéria.