Um governador dividido entre uma referência gerencial e uma liderança política, por Raul Monteiro*
De todos os desafios postos sobre a mesa do novo governador da Bahia, que completa 100 dias de governo em breve, um, pelo menos, verdadeiramente, ele não merecia. Jerônimo Rodrigues (PT) está sendo obrigado a administrar, não se sabe por quanto tempo e com que recursos, a cizânia interna em seu partido e, porque não dizer, em seu governo, causada pela indicação da ex-primeira-dama Aline Peixoto à vaga de conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios. Como se sabe, o pleito colocou visivelmente em campos opostos, pela primeira vez, os ex-governadores Jaques Wagner e Rui Costa, criador e criatura na história de poder de 16 anos do PT no Estado.
Wagner atacou de público a operação para transformar a mulher de Rui em conselheira buscando distanciar-se dela e, ao mesmo tempo, intentando que o hoje ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula da Silva, de uma vez por todas, recuasse. A confirmação de um conflito entre eles que já se arrastava teve efeito imediato: aumentou enormemente o custo, para o governo, do plano de garantir, na Assembleia Legislativa, a aprovação do nome da mulher de Rui para o cargo vitalício cujo salário hoje é de mais de R$ 40 mil. Não foi por outro motivo que seu nome foi aprovado primeiro à unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça da Casa e, ontem, pelo plenário.
Sob a promessa de que verão recursos de emendas longamente retidos pelo governo passado finalmente liberados, além de mais nomeações na máquina do Estado, os deputados do governo se esmeraram, para além da tarefa de aprovar a indicação, em bajular a indicada nas justificativas que apresentaram para apoiá-la. Quanto aos colegas da oposição, também de olho na oferta de um melhor tratamento do governo a partir de agora, uma mesura que nunca tiveram no passado, buscaram aderir ao projeto, transformando a sabatina a que a ex-primeira-dama foi submetida num papo de comadres amistoso para acelerar o processo sem provocar constrangimentos.
Na prática, se comportaram, simplesmente, como se não tivessem um candidato, o ex-deputado Tom Araujo (União Brasil), com o qual se esperava que contrapusessem a candidatura oficial. Mas a vitória, ontem, do governo, e especialmente de Jerônimo, na aprovação à indicação ao TCM deve estar longe de aliviar a pressão que ele deverá sofrer a partir de agora internamente, provocada pelas escaramuças entre Wagner e Rui. É um cenário desafiador, que nenhum dos dois petistas que o antecederam enfrentou em suas gestões, as quais transcorreram sob o signo da coesão do PT, uma das grandes responsáveis pela longevidade da sigla no poder na Bahia.
Ao ter investido pesado na aprovação de Aline, Jerônimo assumiu um risco de igual proporção em relação a Wagner. Por outro lado, pode ter ganho uma carta de quitação ou mesmo de “alforria” em relação a Rui ao pagar o inestimável esforço que, então na qualidade de governador, ele fez para elegê-lo, a qual poderá usar para tocar o governo longe de sua influência. É algo a se avaliar com o tempo já que, se Wagner desponta como a incontestável liderança política do grupo, além de ter sido o maior responsável, aliás, pelo fato de o PT ter lançado candidato em 2022, Rui continua como sua grande referência de gestor.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*
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