Crise no União Brasil pode abrir espaço para partido de Tarcísio no governo Lula
Nascido da fusão do PSL com o DEM, em 2021, o União Brasil elegeu 59 deputados no ano passado e se tornou uma peça-chave na articulação do governo federal, que entregou três ministérios à legenda em uma tentativa de formar uma base sólida na Câmara.
Mas, apesar do espaço que ocupa na Esplanada, o partido enfrenta uma crise interna cada vez mais aguda, o que pode abrir caminho para que o Republicanos, do governador paulista, Tarcísio de Freitas, tenha o controle do Ministério do Turismo na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
O União Brasil alega ter uma atuação independente no Congresso. A atual titular da pasta do Turismo, Daniela Carneiro, faz parte do grupo de dissidentes do Rio de Janeiro que acionou, no dia 6 de abril, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) solicitando o direito de migrar para o Republicanos sem que corram o risco de perder o mandato.
‘Expediente autoritário’
Os congressistas alegam que estão sendo vítimas de um “expediente autoritário” por parte da cúpula do União Brasil. O caso não tem ainda previsão de julgamento. Uma resolução do TSE sobre fidelidade partidária determina que parlamentares só podem deixar seus partidos sem perder o mandato em caso de justa causa.
Lula está sendo pressionado pelo União Brasil a substituir a ministra do Turismo por um outro nome alinhado à ala governista do partido. De acordo com dirigentes da sigla, se o TSE permitir a mudança dos dissidentes, a deputada passaria a ser considerada da “cota pessoal” do presidente ou do próprio Republicanos.
O presidente nacional do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), tem dito que o partido não será da base de Lula mesmo que o presidente ofereça um ministério à legenda.
Interlocutores do Palácio do Planalto estão em compasso de espera, aguardando que haja um desfecho do racha interno e o que chamam de uma prova de lealdade do União Brasil. Além do Turismo, o partido comanda as pastas da Integração Nacional e do Desenvolvimento Regional, com Waldez Góes, e a das Comunicações, com Juscelino Filho.
Governistas
No mais novo capítulo da disputa partidária, os principais interlocutores do governo federal com o União Brasil – o deputado Luciano Bivar (PE), presidente da sigla, e o senador Davi Alcolumbre (AP) – divergem, agora, sobre a estratégia a ser adotada em relação ao grupo dos dissidentes.
Responsável pela indicação da ministra do Turismo, Alcolumbre defende a liberação de Daniela pelo União Brasil para que ela mude de partido, o que ampliaria a pressão sobre o Planalto. Bivar, por sua vez, diz que não abre mão dos mandatos dos insatisfeitos.
“Nós gastamos mais de R$ 60 milhões para eleger esses deputados. Não podemos abrir mão deles”, já declarou o presidente do União Brasil. Bivar tem dito que irá até o fim para exigir “fidelidade partidária”. Se a mudança for vetada pela Justiça Eleitoral, os dissidentes serão obrigados a ficar no União Brasil, mas sem cargos na Câmara ou relatorias até o fim do mandato.
Em conversa com jornalistas em Londres, na semana passada, durante o evento Lide Brazil Conference, Alcolumbre disse que a legenda vai “conversar” novamente com o governo. “Ninguém deve ficar em algum lugar contra a sua vontade”, afirmou. O senador disse, ainda, que a Executiva do partido vai se reunir para tratar do assunto.
Cunha
O movimento dos filiados que tentam trocar o União Brasil pelo Republicanos é liderado, nos bastidores, pelo ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (RJ), pai da deputada Dani Cunha (União Brasil-RJ).
O objetivo é assumir o controle da máquina partidária no Estado com vistas às eleições municipais do ano que vem. Essa articulação não teve sucesso no União Brasil. A mudança interessa ao prefeito de Belford Roxo, Wagner dos Santos, o Waguinho, que apoiou Lula na disputa presidencial do ano passado e é marido de Daniela Carneiro.
Pedro Venceslau/Estadão Conteúdo
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