Ortega cancela mais de três mil procissões de Semana Santa na Nicarágua

Procissão de Domingo de Ramos em Manágua, em 2 de abril de 2023. — Foto: Reuters
No capítulo mais recente da história macabra de perseguição do regime de Daniel Ortega à Igreja Católica estão as procissões deste ano da Semana Santa. Mais de três mil comemorações de rua foram proibidas, calcula a advogada e investigadora Martha Molina, autora do livro “Nicarágua: uma Igreja perseguida?”.

As celebrações são permitidas apenas no interior de templos, num país em que 60% da população expressa a fé católica. As igrejas mais conhecidas permanecem vigiadas por agentes do regime.

A repressão contra padres e fiéis não surpreende e tem sido o padrão na Nicarágua. No mês passado, o ditador Daniel Ortega e sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, cortaram relações com o Vaticano depois que o Papa Francisco criticou o regime e o comparou a uma “ditadura hitleriana”.

O pontífice foi chamado de desequilibrado por Ortega, que já havia expulsado o núncio apóstólico Waldemar Stanislaw Sommertag e ordenado a prisão de 21 religiosos, declarados como traidores da pátria.

O rosto mais emblemático desta cruzada é o do monsenhor Rolando José Álvarez, bispo de Matagalpa, condenado há 26 anos de prisão, depois de se recusar a embarcar num avião fretado pelo regime com mais de 200 presos políticos para o exílio.

Uma das vozes críticas ao regime comandado por Ortega, o bispo costumava denunciar em seus sermões a violação aos direitos humanos, a perseguição religiosa e os abusos de poder. Na sentença proferida pela juíza Nidia Tardencilla em fevereiro passado, Álvarez, de 56 anos, é acusado de traição à pátria e teve a nacionalidade cassada.
Rolando Álvarez durante missa em imagem em página de rede social da diocese de Matagalpa — Foto: @diocesisdematagalpa / AFP

Num ano trágico para os católicos, Ortega determinou que a Semana Santa ocorreria sem celebrações de rua, o que, segundo o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos, representa mais uma clara violação da liberdade religiosa e de expressão.

“O regime destrói o que há de mais solene e sagrado para o povo: sua fé cristã e as tradições, que fazem parte de sua identidade", denunciou Cenidh.

A ONG Monitoreo Azul y Blanco contabilizou 15 detenções arbitrárias desde 1 de abril e a expulsão de um sacerdote do país – o monsenhor panamenho Donaciano Alarcón, da paróquia Maria Auxiliadora, no município de San José de Cusmapa. Seu crime? Pedir, durante a missa, a libertação do monsenhor Rolando Álvarez.
G1
Por Sandra Cohen
Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em 'O Globo'

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente esta matéria.