Wagner se alinha com Rui e Jerônimo na estratégia para Salvador, por Raul Monteiro*

Senador Jaques Wagner, a cabeça política do PT baiano
Se ainda havia dúvidas de que o PT baiano decidiu se mexer, pela primeira vez, com mais de um ano de antecedência, para disputar a sucessão do prefeito Bruno Reis (União Brasil), como esta coluna já vinha assinalando, elas se dissiparam a partir das declarações que o senador Jaques Wagner deu na semana passada à rádio A Tarde FM, as quais, aliás, tiveram menos repercussão do que deveriam. Em linhas gerais, o líder do governo Lula no Senado disse que o partido precisa construir a unidade desde já em torno de uma candidatura única para disputar as eleições em Salvador no ano que vem.

Ele aprofundou a proposta citando os nomes que vê como capazes de encabeçar a empreitada e reforçando – algo que a coluna também já havia pontuado – que a postura do partido deve diferir da adotada em 2020, quando a candidatura foi decidida e lançada de última hora sem qualquer tipo de mobilização prévia da militância petista nem dos partidos aliados. O senador foi ainda claro ao estabelecer que não se deve trabalhar com vetos, ao abrir a possibilidade de o grupo liderado pelo PT no Estado há 16 anos poder apoiar um nome de qualquer dos partidos que compõem a base do governo.

Na mesma entrevista, Wagner também admitiu que a discussão sobre a sucessão em Salvador ganharia uma nova abordagem porque, segundo anunciou, seria tratada por um grupo constituído de lideranças partidárias com este propósito, uma iniciativa inédita se levado em conta o histórico de completa desarticulação do partido nos últimos pleitos na capital baiana. O desejo de antecipação se embala em duas certezas: no favoritismo do atual prefeito e no empenho que seu antecessor, ACM Neto (União Brasil), líder político de seu grupo, fará para manter o controle sobre a capital baiana.

Para os versados na economia interna petista, as declarações de Wagner mostram também que ele está alinhado com o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), e o governador Jerônimo Rodrigues (PT) em relação ao tópico sucessório municipal. De fato, nos bastidores, os primeiros sinais de que as eleições de 2024 receberiam no PT um tratamento em tudo diferente do que as disputas já receberam no passado foram dados pelos dois, à espera, num certo sentido, estratégica, de que a aposta fosse também compartilhada pelo senador. Como se sabe, Wagner permanece como a cabeça política do partido que ele levou ao poder na Bahia.

Não importa o grau de influência formal que exerça sobre o PT hoje, são suas posições que calam fundo na alma da militância, normalmente expressas de forma assertiva porém não autoritária nos momentos de crise. Foi assim na sucessão estadual do ano passado. Passaram por sua lembrança para a disputa contra Bruno os nomes de José Trindade (PSB), de Geraldo Jr. (MDB), de Vilma Reis e de Robinson Almeida, ambos do PT, e de Olívia Santana, do PCdoB. Analisando o conjunto, a menção foi, naturalmente, apenas um gesto de extrema gentileza para com o vice-governador. E no melhor estilo de Wagner.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*

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