Chance de estouro do teto da meta de inflação em 2023 é de 61%, diz BC no RTI

Com a desinflação em curso, a chance de estouro da meta de inflação de 2023 caiu bastante, mas ainda é alta, conforme o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado nesta quinta-feira, 29, pelo Banco Central.

No cenário de referência, a probabilidade de a inflação deste ano ficar acima do teto da meta, de 4,75%, é de 61%, contra 83% no RTI de março. Para 2024, atual horizonte relevante da política monetária, chance de estouro do limite superior (4,50%) também se reduziu, de 26% para 21%.

O cálculo tem como base a Selic variando conforme o Relatório de Mercado Focus e o câmbio atualizado com base na Paridade do Poder de Compra (PPC). Já a probabilidade de a inflação ficar abaixo do piso da meta em 2023, de 1,75%, continua em zero, como já estava no documento anterior. O centro da meta deste ano é de 3,25%. Em relação a 2024, a chance de a inflação furar o piso de 1,50% passou de 6,0% para 9,0%. Nesse caso, o centro da meta é de 3,0%.

Para 2025, a probabilidade de superar a banda superior oscilou de 17% para 16% e, a inferior, de 11% para 12%. O alvo central a ser perseguido pelo BC naquele ano é de 3,0%, com os limites variando de 1,5% a 4,5%.

Nesta quinta, ao fim do dia, o Conselho Monetário Nacional (CMN) vai divulgar sua decisão sobre a meta de inflação. A reunião é esperada desde o início do ano, quando começaram os questionamentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o patamar atual da meta. Considerando a regra que vem sendo seguida desde 2017, o CMN definiria nesta quinta a meta de 2026

Há, porém, a possibilidade de o conselho alterar o regime, de ano-calendário, em que a meta é definida para cada ano, para contínua, como defende o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Nesse caso, também precisaria ser definido o patamar do objetivo que o BC vai perseguir continuamente.

Projeções para o juro real

O Banco Central afirmou, no Relatório Trimestral de Inflação, que a taxa de juros real deve atingir 6,6% no fim de 2023 e continuar acima da estimativa de juro neutro, que subiu de 4,0% para 4,5%, até o fim de 2025, considerando o cenário de referência. Para o fim de 2024, a taxa de juros real chegaria a 5,3% e, no encerramento de 2025, em 4,9%.

O cálculo reflete a trajetória futura da taxa Selic e as expectativas de inflação, ambas extraídas da pesquisa Focus. “Nessa métrica, depois de ter atingido vale de -1,3% ao ano no último trimestre de 2020, a taxa de juros real entrou em trajetória rapidamente ascendente, alcançando valor máximo de 7,8% no quarto trimestre de 2022. A taxa tem leve queda no primeiro semestre de 2023, que prossegue com maior intensidade nos trimestres seguintes.”

Hiato do produto

O Banco Central atualizou, também no Relatório Trimestral de Inflação, suas estimativas para o hiato do produto, que iniciou um movimento de abertura na segunda metade do ano passado.

De acordo com o BC, o hiato do produto estimado é de 1,0% no primeiro trimestre de 2023 e de -1,2% no segundo trimestre. Esses porcentuais estavam estimados em -1,3% e -1,5%, respectivamente, no relatório de março.

“Indicadores de atividades mais fortes do que o esperado, em especial, o PIB do primeiro trimestre, e revisão das projeções de curto prazo desses indicadores contribuíram para a estimativa de um hiato mais fechado realizada pelo modelo. Ressalta-se que, em virtude da elevada incerteza existente nas estimativas do hiato do produto, o Copom avalia projeções com diferentes estimativas e cenários para essa variável”, destacou o BC.

Para o último trimestre de 2023, a autoridade monetária estima um hiato do produto de -1,5%, ante -1,7% no relatório de março.

“Após esse período, o hiato inicia trajetória de estreitamento. O principal fator para esse comportamento é o movimento verificado da taxa Selic (elevação total de 11,75 p.p., ocorrida desde a reunião de março de 2021 até a de agosto de 2022) e sua trajetória futura extraída da pesquisa Focus”, completou o documento.

Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues/Agência Estado

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