Presidente da CPMI do 8 de janeiro chama de ‘tapa na cara’ manobra do governo para barrar convocação

O presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas de 8 de janeiro, deputado Arthur Maia (União Brasil), está contrariado e pretende pressionar a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no colegiado depois que os parlamentares manobraram para aprovar requerimentos que enquadram aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas rejeitaram os pedidos que miravam o Palácio do Planalto.

Maia se disse “constrangido” com a posição dos governistas, classificada por ele como um “tapa na cara da opinião pública”, e prometeu pautar sucessivamente a convocação do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias.

“Independente de ser governistas ou oposicionistas, nós temos um discurso para apresentar para o Brasil e não há como você, com seriedade, tratar desse assunto ouvindo apenas as pessoas que interessam aos deputados governistas. Isso é uma falta de bom senso, é um tapa na cara da opinião pública e eu, enquanto presidente, me sinto absolutamente constrangido com essa situação”, disparou Maia em entrevista ao Estadão. “Ora, então vamos fazer uma CPMI que tem duas versões sem ter o contraditório?, prosseguiu.

O presidente da CPMI também direcionou as críticas à rejeição dos requerimentos da oposição para ouvir o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, e o ministro da Justiça, Flávio Dino. Segundo Maia, Dino está no “centro” da crise produzida na esteira dos atentados de 8 de janeiro. “É evidente que a segurança, no mínimo, falhou no 8 de janeiro”, disse o parlamentar.

“Se os órgãos de segurança vinculados ao Ministério da Justiça falharam, obviamente que o ministro, que é o chefe maior desse Ministério, precisa prestar esclarecimento sobre o que de fato aconteceu. Se foi um apagão? Mas é preciso que isso seja feito”, afirmou Maia.

“Não pode haver credibilidade se você tem lá vários requerimentos que buscam a oitiva de dezenas de pessoas – todas elas citadas pela mídia, pelos jornais, por toda a imprensa como umas figuras centrais do que aconteceu no dia 8 de janeiro – e, de repente, a maioria exclui dessa convocação todos os nomes que são ligados ao governo”, argumentou.

Em sua ofensiva contra a manobra da base governista, o presidente da CPMI ainda deu recados à relatora Eliziane Gama (PSD-MA), que defendia que as primeiras pessoas a serem ouvidas deveria ser o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro na Presidência, o coronel Mauro Cid. Quando questionado como mediaria eventuais divergência com a colega que integra a mesa direita, Maia respondeu: “Quem faz a pauta sou eu. Eu farei a pauta de acordo com a minha convicção. Eu sou uma pessoa que estou aqui para ser convencido”.

Convite a Bolsonaro

Além de rechaçar a rejeição de convites pelos parlamentares do governo, Maia ainda afirmou que o requerimento apresentado pelo deputado Rogério Correia (PT-MG) para convidar o ex-presidente Bolsonaro a prestar depoimento não será pautado em breve. Ele argumentou que só pautará os pedidos que apontem “evidências” de envolvimento investigados e testemunhas nos atos golpistas.

Os governistas alegam que Bolsonaro seria o mentor intelectual do levante golpista do dia 8 de janeiro por ter insuflado seus apoiadores durante todo o mandato e após a derrota para Lula nas eleições do ano passado. Para Maia, porém, não há “nenhuma comprovação sequer de que ouve uma organização intelectual para que acontecesse isso que aconteceu, quanto mais o envolvimento de A, B ou C”.

“Eu não tenho investigado de estimação portanto qualquer pessoa para mim pode ser convocada, desde que haja indícios do seu envolvimento com o que aconteceu”, disse o presidente da CPMI.

Weslley Galzo/Estadão

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