Aliados de Bolsonaro veem inelegibilidade como holofote e decisão do TSE como tiro no pé
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) dizem que a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de torná-lo inelegível até 2030 é um tiro no pé do ponto de vista político e garante a ele holofote pelos próximos anos.
Em linhas gerais, tratam o tema como injustiça e destacam que ele continuará com o papel de líder da direita.
O governador de São Paulo e principal cotado a herdeiro do espólio de Bolsonaro em 2026, Tarcísio de Freitas (Republicanos), rapidamente se manifestou nas redes sociais e fez questão de destacar sua lealdade ao ex-presidente.
“A liderança do presidente Jair Bolsonaro como representante da direita brasileira é inquestionável e perdura. Dezenas de milhões de brasileiros contam com a sua voz. Seguimos juntos, presidente”, afirmou.
Valdemar Costa Neto, presidente do PL, disse que ele será o “eleitor mais forte da nação” nas próximas eleições. “Vamos trabalhar dobrado e mostrar nossa lealdade ao presidente Bolsonaro. Podem acreditar que a injustiça de hoje será capaz de revelar o eleitor mais forte da nação.”
Já Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil e dirigente do PP, disse que “a esperança está mais viva do que nunca” e que “ninguém pode condenar um povo a não amar um líder”.
Por 5 votos a 2, a corte eleitoral determinou que Bolsonaro está inelegível até 2030.
O julgamento ocorre seis meses após sua saída do cargo e tem como foco uma ação movida pelo PDT contra a chapa devido a uma reunião do ex-presidente com embaixadores, realizada em julho do ano passado, na qual ele repetiu mentiras sobre as urnas eletrônicas.
O entorno do ex-presidente classifica o julgamento como político, mas já esperava o placar da corte eleitoral –foram favoráveis ao ex-presidente os ministros Raul Araújo e Kassio Nunes Marques.
Seus aliados dizem acreditar, contudo, que o eleitor tem percepção de que há excesso de ativismo judiciário e que isso deve repercutir no voto daqui em diante. Para eles, o TSE agiu para tirar Bolsonaro da disputa eleitoral, mas o eleitor continuará próximo dele.
Há ainda uma avaliação de que um julgamento como este é de difícil compreensão para a população. É muito difícil traduzir os motivos da sua cassação, de forma que, simplificadamente, fica a pergunta: “Por que não posso votar no Bolsonaro?”. A narrativa do ex-presidente seria de mais fácil entendimento.
O projeto de lei apresentado pelo deputado Sanderson (PL-RS) de anistiar Bolsonaro pode não ter chances de prosperar hoje, dizem, mas não descartam que ele possa ganhar força nos próximos anos, a depender do cenário político.
Há um temor de uma ala de interlocutores de Bolsonaro de que ele caia em desânimo, como disse que poderia ocorrer em entrevista à Folha, no primeiro dia de julgamento.
“Na minha idade, [o que] gostaria de fazer, continuar ativo 100% na política. E, tirando seus direitos políticos que, no meu entender, é uma afronta isso aí, você perde um pouquinho desse gás”, disse.
Depois do resultado, comparou a inelegibilidade à facada, mas disse não estar morto.
“Hoje vivemos aqui uma inelegibilidade. Não gostaria de me tornar inelegível. Na política, essa frase não é minha, ninguém mata, ninguém morre”, afirmou Bolsonaro, em Belo Horizonte.
“Espero, né, porque tentaram me matar em Juiz de Fora há pouco tempo com uma facada na barriga. E hoje levei uma facada nas costas com a inelegibilidade por abuso de poder político”, completou.
Por outro lado, aliados próximos dizem que ele estava realista com o resultado, mas inconformado. A avaliação geral é de que, entre os recursos e as tentativas de reverter o resultado, Bolsonaro continuará nos holofotes daqui em diante.
Além disso, antecipa a discussão do espólio do ex-presidente na opinião pública. Nos bastidores, isso ainda é tratado com ressalvas. Dentre os principais nomes que circulam, estão, além de Tarcísio, os nomes dos governadores Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Junior (PSD-PR), além da senadora Tereza Cristina (PP-MT) e até mesmo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Reservadamente, o tema é visto como delicado. Sabem que qualquer gesto pode ser visto como deslealdade, levando o presidenciável cair no desagrado de Bolsonaro.
No ano passado, Bolsonaro foi derrotado por Lula (PT), mas por uma pequena margem de votos: foram 58,2 milhões de votos (49,1%) contra 60,3 milhões (50,9%) do petista.
Apesar do alto patamar de votos e da popularidade de Bolsonaro, ele perdeu parte do seu capital político ao deixar o país e adotar uma postura de reclusão após a derrota nas urnas. O então presidente embarcou antes do término do mandato para Orlando (EUA), num gesto de ignorar o tradicional rito de troca de faixa.
Uma das consequências diretas disso foi que Bolsonaro chegou ao final do mais importante julgamento que teve na Justiça, nesta sexta, com uma militância desanimada e com ruas vazias.
Outro fator que aliados citam para a falta de mobilização foi o 8 de janeiro: há um temor dos militantes bolsonaristas e das lideranças de que convocar novos atos, depois da depredação da sede dos três Poderes. Até hoje há golpistas presos.
Os planos do partido e do seu entorno de Bolsonaro para ele incluem palestras e muitas viagens pelo país e para o exterior. Eles querem que ele continue atuante politicamente e sirva de cabo eleitoral para aliados, em especial nas eleições municipais de 2024.
Marianna Holanda, Folhapress
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