Queima de Alcorão volta a gerar revolta no Iraque, desta vez contra Dinamarca

A queima do Alcorão durante protestos continua gerando revolta no Iraque —desta vez, o alvo é a Dinamarca, onde atearam fogo no livro sagrado do islã na última sexta-feira (21).

A informação fez centenas de manifestantes tentarem chegar até a embaixada dinamarquesa em Bagdá no início deste sábado (22), em um protesto que foi interrompido com as forças de segurança iraquianas disparando gás lacrimogêneo em direção à multidão.

A manifestação é o mais recente capítulo da controvérsia que começou no final de junho, quando uma cópia do Alcorão foi queimada por um refugiado iraquiano durante um protesto em frente à principal mesquita da capital sueca, Estocolmo. A revolta gerada pelo ato cresceu na sexta-feira passada (14), quando o país nórdico autorizou atos em que seriam queimados outros dois livros sagrados: a Bíblia e a Torá. Na ocasião, as forças de segurança afirmaram que a permissão foi concedida para o evento em si, não para as atividades que ele envolveria.

Na quinta-feira (20), a tensão aumentou após um prédio da embaixada da Suécia em Bagdá ser invadido e incendiado por centenas de manifestantes durante a madrugada. Após o protesto, o Iraque expulsou a embaixadora do país escandinavo no país e proibiu a sueca Ericsson, fabricante de equipamentos de telecomunicações, de operar em seu território —medidas que parecem indicar uma ruptura diplomática entre as nações.

Desde então, a revolta se espalhou para diversos países de maioria muçulmana. Nesta semana, as chancelarias de Arábia Saudita, Qatar e Irã convocaram os diplomatas suecos em seus países, algo visto como uma reprimenda diplomática; Teerã chamou a população às ruas após as orações; e o Hizbullah, grupo islâmico xiita que os iranianos financiam, fez o mesmo no Líbano. O último episódio, a queima do Alcorão em uma praça em frente à Embaixada do Iraque em Copenhague, na Dinamarca, adiciona combustível ao clima de hostilidade.

O evento foi transmitido ao vivo pelo Facebook pelo grupo “Patriotas dinamarqueses”. O vídeo mostra o livro sagrado queimando em uma bandeja de papel alumínio ao lado da bandeira iraquiana no chão. Contatada pela agência de notícias AFP, a inspetora-chefe adjunta da polícia dinamarquesa, Trine Fisker, confirmou que houve uma “pequena manifestação” em frente à embaixada iraquiana e não disse se o livro queimado era o Alcorão.

Centenas de manifestantes se reuniram na Praça Tahrir, no centro de Bagdá, na madrugada deste sábado. Eles cantavam “sim, sim, ao Alcorão” e levantavam retratos do líder religioso xiita Moqtada al-Sadr, segundo um fotógrafo da AFP. A polícia havia bloqueado o acesso à Zona Verde, que abriga instituições governamentais e embaixadas, mas os manifestantes tentaram entrar à força para ir até o prédio dinamarquês. Os que conseguiram passar foram dispersados pela polícia com cassetetes e gás lacrimogêneo.

O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, chamou a queima do livro de uma “estupidez” de alguns indivíduos. “É um ato vergonhoso insultar a religião dos outros”, afirmou à emissora pública DR. “Isso se aplica à queima do Alcorão e de outros símbolos religiosos. Não tem outro propósito senão provocar divisão.” Ele acrescentou, no entanto, que queimar livros religiosos não era crime na Dinamarca. O ato tampouco é uma infração na Suécia e na Noruega, que usam o argumento da liberdade de expressão.

As normas desses países entram em choque com o de alguns países de maioria muçulmana. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanaani, por exemplo, disse que “o governo dinamarquês é responsável por prevenir insultos ao Sagrado Alcorão e às santidades islâmicas, bem como processar e punir aqueles que cometeram os insultos”. Segundo ele, a opinião pública no mundo islâmico espera por “ações práticas” do governo dinamarquês.

O país, que atrasou o envio de um novo embaixador para a Suécia, também disse que não aceitaria reciprocamente um novo enviado sueco por causa dos ataques.

Já a Presidência do Iraque pediu às organizações internacionais e aos governos ocidentais que “parem com as práticas de incitamento e ódio, sejam quais forem seus pretextos”. Em um comunicado, o país também pediu aos seus cidadãos para não serem arrastados em direção ao que descreveu como uma “conspiração” para mostrar que o Iraque não é seguro para missões estrangeiras.

Folha de S. Paulo

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