Bernadete Pacífico, líder quilombola, é assassinada a tiros na Bahia


A líder quilombola Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, foi assassinada na noite desta quinta-feira (17) a tiros dentro do terreiro que comandava em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador.

Ela era coordenadora nacional da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos) e liderava o Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho. Era ialorixá e mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho, líder assassinado há 6 anos.

A Conaq repudiou o crime em nota divulgada nesta quinta. “Sua dedicação incansável à preservação da cultura, da espiritualidade e da história de seu povo será sempre lembrada por nós”, diz o texto. “Sua ausência será profundamente sentida. Seu espírito inspirador, sua história de vida, suas palavras de guia continuarão a orientar-nos e às gerações futuras”.

Segundo a organização, a morte de Binho não foi elucidada e Bernadete atuava para solucionar o caso. “Enquanto lamentamos a perda dessa corajosa liderança, também devemos nos unir em solidariedade e determinação para continuar o legado que ela deixou”, diz a Conaq.

Na nota, a organização cobra do governo medidas imediatas para a proteção dos outros líderes do quilombo de Pitanga de Palmares e uma investigação rápida para encontrar os responsáveis pelo crime.

O ministro Silvio Almeida determinou o deslocamento de equipes do Ministério dos Direitos Humanos para Simões Filho e expressou solidariedade aos familiares e à comunidade.

Nas redes sociais, a conta do ministério fez uma postagem cobrando rapidez na investigação e punição do crime.

O Ministério da Igualdade Racial também enviará uma comitiva para reunião com órgãos governamentais da Bahia, atendimento aos familiares de Bernadete e proteção ao quilombo.

Outro providência será a convocação de uma reunião extraordinária do Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Racismo Religioso, para que providências sejam tomadas no âmbito interministerial.

“O ataque contra terreiros e o assassinato de lideranças religiosas de matriz africana não são pontuais. Mãe Bernardete tinha muitas lutas, e a luta pela liberdade e direitos para todo o povo negro e de terreiro tranversalizava todas”, diz nota do ministério.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), disse que recebeu com indignação a notícia sobre o assassinato e determinou que as polícias Militar e Civil desloquem-se para o local e “sejam firmes na investigação”.

Segundo ele, o governo está empenhado no acompanhamento do caso e no apoio à família e à comunidade.

“Deixo aqui meu compromisso na apuração das circunstâncias”, afirmou. “Não permitiremos que defensores de direitos humanos sejam vítimas de violência em nosso estado”.

Outros políticos baianos lamentarem a morte da líder e pediram justiça. O deputado federal Valmir Assunção (PT-BA) afirmou ter recebido a notícia com tristeza e indignação.

“O governador Jerônimo Rodrigues tem que determinar investigação rigorosa desses crimes abomináveis, que não podem ficar impunes. Uma perda dolorosa e irreparável”, afirmou a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB-BA).

A vereadora Marta Rodrigues (PT), de Salvador, pediu rigor nas investigações.

“Precisamos nos indignar coletivamente. Não podemos aceitar a morte de uma grande defensora de direitos humanos Quem matou Bernadete e a mando de quem?”, perguntou a cantora Daniela Mercury.

O Instituto Marielle Franco também divulgou nota pedindo uma investigação rápida e responsável do assassinato da líder, uma mulher negra e ialorixá.

Cristina Camargo/Folhapress

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