PP faz ofensiva sobre PL de Bolsonaro em meio a negociação com Lula

O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira

O PP lançou uma ofensiva para tentar se fortalecer e ampliar a bancada no Congresso em meio à negociação para ganhar um ministério no governo Lula (PT). O partido mira principalmente o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Comandado pelo ex-ministro bolsonarista Ciro Nogueira, o PP reúne hoje 49 deputados. É a quarta maior legenda na Câmara. O plano é atrair pelo menos três integrantes do PL e negociar com deputados de outros partidos menores.

Com isso, o PP poderá se aproximar da União Brasil, que tem a terceira maior bancada, com 59 deputados.

O PL ocupa, com folga, a primeira posição, com 99 vagas da Câmara atualmente. Mas Valdemar Costa Neto, que preside a sigla, não tem conseguido manter o grupo coeso. As crises dentro da bancada escalam em votações caras para o presidente Lula no Congresso e o racha tem crescido à medida que o bolsonarismo avança dentro do partido.

Daí, o PP se apresenta como uma alternativa para abrigar os dissidentes do bolsonarismo. O senador Ciro Nogueira, que preside a sigla, é de oposição a Lula, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), outro importante líder da legenda, tem adotado uma posição mais próxima ao petista.

A cúpula do PP libera membros a negociar cargos e emendas com o governo e também votar em alguns projetos de interesse do Palácio do Planalto.

Deputado federal desde 2007, João Maia, do Rio Grande do Norte, deverá trocar o PL pelo PP. Aliados dizem que a permanência dele ficou insustentável após ter sido avisado por Valdemar que a presidência do PL no estado passaria para o senador Rogério Marinho, ex-ministro de Bolsonaro. O cargo foi ocupado por Maia por quase 20 anos.

Para atrair o deputado, Ciro Nogueira ofereceu o comando do PP no Rio Grande do Norte a ele. Segundo interlocutores do PL, Valdemar tende a liberar a saída de Maia, mas o caso deverá ser analisado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Ele faz parte da ala do PL que ajuda Lula a aprovar pautas econômicas —grupo que varia entre 20 e 30 deputados. Maia votou a favor do novo arcabouço fiscal e da Reforma Tributária.

Na última quinta-feira (10), o deputado se encontrou com o ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), responsável pela articulação política com o Congresso. Maia estava acompanhado do ex-deputado Beto Rosado (RN), que deverá ceder a presidência do PP no estado a ele.

O PP também está em negociação com Yury do Paredão, o deputado licenciado do PL e que apareceu em uma foto fazendo o “L” com a mão, referência a Lula.

Em julho, Valdemar se encontrou com Yury para avisá-lo da expulsão do partido.

Desde o começo do ano, Yury vinha sendo alvo de críticas de seus correligionários por se aproximar do governo petista, posando para fotos ao lado de ministros e do próprio petista, além de votar a favor de Lula em pautas econômicas e na reorganização dos ministérios —nesse último caso, apenas 8 deputados do PL apoiaram a proposta do Palácio do Planalto.

Yury também é cortejado por outras siglas, como o MDB e Republicanos. Mas lideranças do PP esperam anunciar a filiação após o fim da licença. Procurado, o deputado licenciado não quis comentar sobre seu futuro político.

O levante bolsonarista dentro do PL tem gerado atritos entre as alas, e deputados até cogitam acionar a Justiça para conseguir deixar o partido caso Valdemar não dê aval aos dissidentes.

Além disso, por serem do PL, esses parlamentares têm mais dificuldade no acesso a ministros do governo Lula, mesmo aqueles do centrão.

Mas o partido tem força para evitar uma grande debandada. Valdemar terá a maior cota do fundo eleitoral no próximo ano. Além disso, tem a relatoria do Orçamento de 2024, o que serve também de barganha.

Por isso, o PP também tem procurado aqueles que já demonstraram descontentamento. É o caso de Samuel Viana (MG), filho do senador Carlos Viana (MG), que já trocou o PL pelo Podemos no dia da posse no Senado, em fevereiro.

Na briga com bolsonaristas após a votação da reforma tributária, em um grupo de WhatsApp, deputados trocaram ofensas, entre eles, Samuel. Ele afirmou que esse tipo de comportamento é de “canibalismo político”. “Publicando nomes, açoitando o eleitorado de cada um para ir contra? Isso é, na prática, sustentar e alimentar a desunião com as atitudes”, escreveu.

A pessoas próximas o deputado tem dito que a promessa de Valdemar era que a bancada estaria unida nas pautas conservadoras, mas teria liberdade na agenda econômica. Por isso, parlamentares da bancada de Minas Gerais já dão como certa uma disputa entre Samuel e Valdemar pela desfiliação —o que pode parar na Justiça.

Em Goiás, o PL já liberou a saída da deputada Magda Mofatto, que também recebeu o aval da Justiça para se desfiliar. Ela perdeu o comando da legenda no estado no ano passado para o ex-deputado Major Vitor Hugo, que foi líder do governo Bolsonaro na Câmara. Magda, porém, se acertou com o Patriota.

A crise no PL levantou dúvidas no meio político sobre a hipótese de a sigla virar um “novo PSL”, em referência à legenda pela qual Bolsonaro se elegeu em 2018 e que viveu uma grande disputa interna logo no primeiro ano daquele governo. O PSL acabou se fundindo com o DEM para formar a atual União Brasil.

O PP tem se aproveitado desse episódio e também de questões regionais do PL para tentar ampliar a bancada do partido de Ciro e Lira.

No Senado, o PP tem planos de tentar atrair Marcos Rogério (PL-RO), bolsonarista que ganhou projeção durante a CPI da Covid. O senador se licenciou do mandato por motivos pessoais e, no fim de março, perdeu o comando da legenda em Rondônia.

O senador Jaime Bagattoli (PL-RO) assumiu o posto. Rogério retomou a atividade política e parlamentar, mas continua fora da presidência do PL no estado.

Diante disso, o PP colocou Rogério na lista de potenciais novos filiados. No caso de senadores, a troca não precisa do sinal verde da cúpula da sigla.

Nesta semana, a ala política do Palácio do Planalto pretende retomar as conversas com o PP e Republicanos para Lula concretizar a reforma ministerial que colocará esses partidos no primeiro escalão do governo.

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