Cirurgia de Lula tem riscos durante a operação e após o procedimento; entenda
A cirurgia de artroplastia total, popularmente chamada de prótese de quadril, é indicada quando há uma fratura no fêmur ou uma degeneração óssea na região, como no caso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os riscos associados incluem aqueles inerentes a tratamentos cirúrgicos, como reação à anestesia ou infecção, e outros ligados ao pós-operatório, como luxação da prótese, dor crônica e diferença no tamanho das pernas.
De acordo com médicos ouvidos pela Folha, o paciente também precisa se “comportar”, e fazer corretamente o repouso e a reabilitação depois da intervenção, que pode ser demorada. No caso do presidente, que cumpre compromissos ligados ao cargo diariamente, a recuperação pode ser comprometida se as orientações do pós-operatório não forem respeitadas.
As indicações pós cirúrgicas incluem andar com apoio, como andador, ter cuidado com a flexão da perna e evitar sobrecarga.
Leandro Calil De Lazari, membro da Sociedade Internacional de Cirurgia Preservadora do Quadril e chefe do Serviço de Residência Médica do Hospital São Lucas, diz que a literatura aponta um bom índice de recuperação.
“Cerca de 98%, experimenta resultados satisfatórios após a cirurgia. Os principais riscos afetam aproximadamente 2% dos casos. Alguns pacientes podem experimentar dor crônica após a cirurgia, embora isso seja menos comum”, afirma.
Doutorado em Ortopedia e Traumatologia pela USP (Universidade de São Paulo) e pela Università Cattolica di Roma, Lazari chama atenção para a possibilidade de infecção no local durante o procedimento, complicação que requer tratamento imediato.
Em casos raros, pode ocorrer luxação, quando a prótese sai do lugar e exige uma intervenção adicional, e alteração dos comprimento dos membros inferiores, que causa diferença de tamanho entre as pernas.
“A cirurgia de prótese de quadril é amplamente recomendada em casos de artrose do quadril, necrose da cabeça femoral, displasia e outras condições que causam dor e limitação de movimento. No entanto, é importante que o seja realizada em hospitais de alta complexidade, com suporte de UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e uma equipe médica completa coordenada por um ortopedista especializado”, reforça.
No pré-operatório, o paciente deve passar por uma série de exames clínicos, além de avaliação cardiológica e anestésica. “Se algum problema de saúde for identificado, ele deve ser tratado antes da cirurgia, que só é contraindicada em casos de doenças graves com alto risco cirúrgico”, diz.
Segundo Henrique Melo de Campos Gurgel, ortopedista do VITA do Grupo Fleury, este tipo de procedimento pode acarretar também lesão de nervo e nova fratura, que pode acontecer de forma intraoperatória. “Para evitar [os riscos], a cirurgia deve ser realizada por um especialista. E o paciente deve se comportar bem no pós-operatório, ou seja, tomar cuidado com movimentos do quadril”, pondera.
O operado precisa manter a flexão da perna a no máximo 90º. “Dessa maneira, dependendo da altura desse paciente, é necessário que ele use algum elevador de assento sanitário ou uma cadeira de higiênica para evitar o movimento muito amplo da sua prótese”, diz Gurgel.
Outro ponto de atenção após o procedimento diz respeito à sobrecarga. “No início, o paciente deve andar com algum apoio, como andador, e depois migrar para muleta ou bengala até completar seis a oito semanas da cirurgia. Ao tomar o cuidado adequado com a descarga de peso da perna operada, o paciente garante boa integração da prótese ao corpo e uma boa cicatrização da musculatura”, afirma Gurgel.
A ortopedista e traumatologista Tania Szejnfeld Mann, chefe do Grupo de Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e membro do Hospital Israelita Albert Einstein, lembra que é um procedimento complexo.
“É uma cirurgia grande, que precisa de muitos cuidados do ponto de vista de preparação da equipe, de sala, material.”, diz Mann.
A profissional diz que a técnica seria mais utilizada se não fosse o custo elevado, em especial por causa dos implantes, embora seja a principal cirurgia para quem tem artrose avançada do quadril. “Existe uma melhora rápida e grande da qualidade de vida depois que eles passam por esse tipo de procedimento”, afirma.
O geriatra Natan Chehter, membro da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e do Hospital Estadual Mário Covas, diz que esta cirurgia é feita, em geral, em quem teve problemas de articulação que não podem mais ser tratado de outra forma. “Costuma ser um recurso que a gente usa depois de o paciente já ter feito outros tratamentos, justamente porque exige internação e recuperação”, diz.
A complicação desse tratamento, para o geriatra, advém da necessidade de mobilização gradual do paciente. “São precisos dias de repouso, sem pôr o pé no chão. Depois, tem que ser colocado carga parcial. O paciente tem que usar muleta, andador, bengala, para distribuir esse peso.” Na sequência, vem a reabilitação, com fortalecimento muscular e retomada do equilíbrio, para só então voltar a pisar o chão.
A adaptação à prótese, por sua vez, pode gerar desconforto, rangidos e dor. “Qualquer cirurgia no idoso costuma ser mais arriscada, porque ele tem menos reservas funcionais. Quando está internado perde muita massa muscular, tem um risco maior de ter trombose, de sangramento. Ele não é proibido de operar, pelo contrário, quando bem indicado tem que fazer, só que aumenta o tempo de reabilitação e, muitas vezes, a necessidade de remédios para dor, que podem ter seus efeitos colaterais”, pontua o geriatra.
Danielle Castro/Folhapress
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