Eleição presidencial na Argentina tem participação mais baixa em 40 anos
As urnas se fecharam às 18h deste domingo (22) na Argentina e registraram a participação mais baixa para uma eleição geral em primeiro turno desde 1983, segundo a Direção Nacional Eleitoral.
Entre os eleitores habilitados a votar, 74% compareceram às urnas, contra 80% no pleito de 2019. O número, porém, foi mais alto do que nas primárias de agosto, quando o índice ficou em 70%.
E isso apesar de haver grande expectativa quanto ao desfecho, com a possibilidade de haver segundo turno em 19 de novembro —sem que se saiba entre quem— ou de um dos três candidatos a presidente ser eleito já no primeiro. Os resultados oficiais devem ser publicados a partir das 21h30.
Além do presidente, os argentinos elegerão neste domingo metade da Câmara de Deputados, um terço do Senado e alguns governadores importantes, como o da Província e o da cidade de Buenos Aires. O voto é obrigatório para quem tem de 18 a 70 anos e opcional para quem tem de 16 a 18.
Na disputa presidencial, o deputado ultraliberal Javier Milei, vencedor das primárias e favorito de acordo com as pesquisas, tenta alcançar os 45% dos votos válidos ou 40% mais 10 pontos de diferença para vencer diretamente. Líder do A Liberdade Avança, ele se apresenta como uma rara terceira via na Argentina.
Contra ele concorrem Sergio Massa, que é ministro da Economia e cabeça de chapa da coalizão peronista União pela Pátria, e Patricia Bullrich, ex-presidente do partido de Mauricio Macri (PRO), da oposição republicana Juntos pela Mudança.
Mesmo com o caráter histórico da disputa, a votação deste domingo se deu de forma tranquila, sem grandes incidentes e com menos tensão do que nas eleições primárias de agosto. Naquela ocasião, uma regra que impôs o voto eletrônico para candidatos ao governo da cidade de Buenos Aires causou longas filas e brigas em diversos locais.
Agora, pequenos incidentes foram registrados durante o voto de Milei, em Buenos Aires. A multidão que o acompanhou teve empurra-empurra, pessoas passando mal e bate-boca com jornalistas, além de cantos de torcida e “Parabéns para Você”. O candidato completa 53 anos no mesmo dia em que pode, eventualmente, ser eleito.
Ele chegou de carro por volta das 13h na Universidade Tecnológica Nacional, no bairro de Almagro, onde apoiadores, além de jornalistas, o esperavam havia mais de uma hora, quase todos com celulares em mãos. Eles entoavam gritos de “primeiro turno” e “se sente, se sente, Milei presidente”.
Ao votar, Milei repetiu frases que costuma dizer: “Hoje estamos concorrendo às eleições mais importantes das últimas décadas. Decidiremos se queremos voltar a construir uma Argentina potência ou nos converter na maior favela do mundo”.
Mais tarde, do lado de fora do Hotel Libertador, de onde o deputado ultraliberal deve acompanhar os resultados, dezenas de apoiadores com bandeiras e bonés entoavam gritos criados durante a campanha, como “a casta tem medo”, “que se vão todos [os políticos], que não fique nenhum” e “viva a liberdade, caralho”.
O peronista Sergio Massa, principal cotado para disputar um eventual segundo turno com Milei, votou em Tigre, cidade nos arredores de Buenos Aires da qual foi prefeito.
Ele lembrou os 40 anos de democracia no país e afirmou: “Temos a enorme tarefa a partir de 10 de dezembro de, governe quem governe, resolver os inúmeros problemas da Argentina”.
A macrista de direita Patricia Bullrich, terceira colocada nas pesquisas, exerceu o direito no centro de convenções La Rural, no bairro turístico de Palermo, e disse que já se imagina festejando.
“É uma sensação muito impressionante ser candidata da [coalizão] Juntos pela Mudança. Estou feliz com o que temos feito”, declarou.
Com o governo pressionado pela crise econômica, a atual vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, aproveitou a a votação para criticar o presidente Alberto Fernández e disse que, após o resultado, espera encontrar um país mais sensato, em que exista consenso e diálogo.
Questionada sobre qual será o legado da atual administração, Cristina buscou distanciamento de Fernández, lembrou que sua gestão se encerrou em 2015 e que o presidente é o responsável pelas decisões do país, segundo o jornal Clarín.
Quando Fernández votou pela manhã em Porto Madero, ele foi questionado por jornalistas sobre o legado de sua gestão. Ele disse que aguardaria o resultado eleitoral para fazer qualquer tipo de autocrítica.
Júlia Barbon/Folhapress
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