Paulo Pimenta condena Hamas, mas diz que Mandela já foi condenado de terrorismo

O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, afirmou, em entrevista ao programa Roda Viva nesta segunda-feira, 23, que o Hamas precisa ser responsabilizado pelos ataques terroristas a Israel, mas fez uma ponderação e citou o Exército Republicano Irlandês (IRA), além do principal herói da luta contra o apartheid na África do Sul, Nelson Mandela, que viria a ser presidente do país.

“O Hamas tem que ser responsabilizado pelo que ele fez. Mas nós já vivemos situações no mundo em que o IRA era considerado terrorista e hoje faz parte do governo do Reino Unido”, disse o ministro, referindo-se ao Sinn Féin, partido que já foi um braço político do grupo armado e no ano passado foi o primeiro colocado na eleição para a Assembleia de Belfast.

Pimenta disse ainda que Mandela “ficou 27 anos na cadeia acusado de terrorista e se tornou uma das maiores lideranças, um dos maiores estadistas do século 20″. O ministro deu a entender que o futuro da organização extremista pode ser dentro da política palestina. “Como é que vai ser o futuro, o desdobramento, o papel do Hamas, se ele vai mudar, se vai mudar sua orientação, é o povo palestino que tem que fazer essa discussão”, afirmou.

Durante a entrevista, o ministro disse que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) orienta as suas posições com base no debate no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e que não abandona o histórico de apoio a um Estado Palestino.

“Eu condeno desde o primeiro dia esta ação terrorista: a morte de civis. Apoio os posicionamentos do nosso governo, a nossa resolução da ONU condena o Hamas por suas atitudes. Mas mantivemos também, e vamos manter, as nossas posições históricas”, disse Pimenta.

Segundo Pimenta, um objetivo do governo brasileiro durante o período em que preside o Conselho de Segurança da ONU é o de ser protagonista de uma decisão que possa dar um fim à guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas: “Vamos continuar trabalhando para aprovar alguma resolução que possa levar um cessar-fogo e um corredor humanitário.”

Ao ser questionado sobre a demissão do ex-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) Hélio Doyle, que saiu da chefia do órgão após o Estadão mostrar que ele compartilhou em suas redes sociais um postagem que chamava apoiadores de Israel de ‘idiotas’, Pimenta disse que o Planalto mantém uma postura de equilíbrio, sem tomar partido entre os lados do conflito no Oriente Médio.

“A postura do governo brasileiro ela, evidentemente, é orientada e pautada pela postura do presidente Lula, que é uma posição de equilíbrio e respeito entre todos aqueles que estão envolvidos e que não abre mão das posições históricas que nós sempre tivemos. Nós acreditamos que uma solução definitiva para esse conflito passa pelo reconhecimento dos dois Estados”, afirmou o ministro da Secom.

Postura do Brasil nas eleições da Argentina é ‘institucional’
Na entrevista, Pimenta afirmou que a postura do Brasil nas eleições da Argentina é “institucional’ e que Lula não irá fazer manifestações de apoio ao candidato esquerdista Sergio Massa ou ao libertário Javier Milei para o segundo turno dos pleitos no país, que será realizado em 19 de novembro.

“O presidente Lula não fará manifestações de apoio ao candidato A e ao candidato B. O presidente Lula sabe que a Argentina é um país estratégico para as nossas relações comerciais, para as nossas relações de amizade. É um País que é historicamente o nosso melhor parceiro comercial na América do Sul.

Na reta final antes do primeiro turno, a campanha de Sergio Massa, que é ministro da Economia na Argentina, ganhou o reforço de marqueteiros e estrategistas que lideraram campanhas do PT nos últimos anos. Pimenta negou que esses profissionais teriam sido contratados pela equipe de Massa a mando de Lula e disse que o petista não telefonou para o candidato esquerdista desde a divulgação dos resultados.

Estado foi capturado por grupo político com Bolsonaro
Ao Roda Viva, Pimenta comentou ainda sobre a Operação Última Milha da Polícia Federal (PF), deflagrada na última sexta-feira, 23, que investiga a utilização de sistema de espionagem israelense que teria sido utilizado ilegalmente pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e adversários do governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ao longo do governo Bolsonaro, a Abin utilizou o sistema FisrtMile, capaz de detectar um indivíduo com base na localização de aparelhos que usam as redes 2G, 3G e 4G, para fazer 33 mil monitoramentos ilegais, sendo que 1.800 desses usos foram destinados à espionagem de políticos, jornalistas, advogados, ministros do Suprema Corte e adversários do gestão do ex-presidente. Nesta segunda-feira, 23, a PF identificou que o jornalista Glenn Greenwald e o marido dele, o ex-deputado federal David Miranda (PDT-RJ), que morreu em maio, estão na lista dos telefones rastreados.

“A gente cada vez descobre a maneira como o Estado brasileiro foi capturado e foi apropriado por um interesse particular de um grupo político que não tinha limites. O esforço para controlar as instituições e submeter o País a um ambiente de dúvida em respeito do nosso próprio futuro é assustador”, disse o ministro no Roda Viva.

Pimenta diz que não há nome melhor do que Lula em 2026
O chefe da Secom foi questionado também sobre a mudança de postura de Lula acerca de uma candidatura à reeleição em 2026. Durante a campanha eleitoral no ano passado, o petista disse que não seria postulante ao Planalto nas próximas eleições presidenciais. Porém, durante o início do seu mandato, sinalizou que deve concorrer novamente ao cargo de presidente da República.

Pimenta justificou a mudança de posicionamento de Lula com a situação vivida pelo País após os atos golpistas de 8 de Janeiro e as recentes descobertas de uma tentativa de golpe de Estado orquestrada por aliados do ex-presidente Bolsonaro. O ministro disse que apoia uma recondução do presidente ao Planalto em 2026 e que não haveria outro nome melhor do que o petista para vencer o “cenário de ódio e intolerância”.

“Acho que o presidente Lula não tem uma decisão a respeito disso, eu espero que ele trabalhe com essa hipótese porque eu gostaria muito e quero que ele seja candidato à reeleição. Não vejo um outro nome que reúna mais condições de estar cumprindo esse papel de união e de reconstrução para que o Brasil possa virar a página desse cenário de ódio e de intolerância”, disse o ministro da Secom.

Gabriel de Sousa, Caio Spechoto e Italo Bertão Filho/Estadão Conteúdo

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