Polícia suspeita que médico assassinado foi confundido com miliciano

Miliciano Taillon de Alcantara Pereira Barbos (à esquerda), seria o alvo e teria sido confundido com o médico Perseu Ribeiro Almeida, (à direita) assassinado nesta madrugada

Uma das linhas de investigação adotada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro é de que os três médicos mortos num quiosque da Barra da Tijuca podem ter sido vítimas por engano. Um dos ortopedistas assassinados pode ter sido confundido com um miliciano da zona oeste, apuram investigadores da Divisão de Homicídios.

A suspeita é que Perseu Ribeiro Almeida, 33, tenha sido identificado pelos assassinos como sendo Taillon de Alcantara Pereira Barbosa, 26, acusado pelo Ministério Público estadual de integrar a milícia de Rio das Pedras.

O miliciano foi preso em novembro de 2020 e condenado a 8 anos e 5 meses de prisão. Em março deste ano, foi para prisão domiciliar e, há dez dias, progrediu para liberdade condicional. A investigação que levou à prisão dele é um desdobramento da Operação Intocáveis, que tinha como alvo o ex-policial militar Adriano da Nóbrega, ligado à família do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A suspeita da polícia sobre a confusão dos assassinos se deve à semelhança física entre Taillon e Perseu. Ambos costumavam usar cabelo raspado, com sinais iniciais de calvície, barba e óculos.

Reforça a linha de investigação o fato de Taillon ter duas residências vinculadas ao seu nome na avenida Lúcio Costa em local próximo ao quiosque em que aconteceu o crime.

As imagens de segurança do quiosque indicam que Almeida foi o primeiro alvo a ser atingido pelos disparos. Foi em direção a ele que um dos criminosos retorna para, aparentemente, verificar a execução e fazer novos disparos.

Também foram assassinados os ortopedistas Marcos de Andrade Corsato, 62, e Diego Ralf de Souza Bomfim, 35. Daniel Sonnewend Proença está internado no Hospital Municipal Lourenço Jorge, para onde foi levado após ser baleado.

A ação dos criminosos durou, no total, 27 segundos. O vídeo mostra que as vítimas não notaram a aproximação dos criminosos até o momento do primeiro disparo.

Investigadores ouvidos pela Folha dizem que a hipótese de execução ganhou força, pois é possível ver nas imagens de câmeras de segurança que os criminosos que desceram do veículo atirando. Eles também voltaram até o quiosque para realizar mais disparos, em prática conhecida como “confere”, na qual o assassino realiza mais disparos para se certificar da morte de seu alvo.

A suspeita da polícia é de que, pelos ferimentos, os assassinos tenham mirado na região do coração das vítimas, reforçando a tese de que o caso foi uma execução. Apenas o laudo oficial, porém, poderá confirmar quantos disparos atingiram as vítimas. A necrópsia ficará sob sigilo até a conclusão do caso. Os corpos estão no IML (Instituto Médico Legal) do Rio de Janeiro.

Os celulares dos médicos foram apreendidos e irão passar por perícia. Não foi divulgado se algum deles tinha sofrido alguma ameaça. Os policiais não descartam a possibilidade deles terem sido mortos por engano.

Taillon foi preso em novembro de 2020 sob acusação de atuar como braço-direito do pai, Dalmir Pereira Barbosa, apontado como um dos líderes da milícia de Rio das Pedras. Ele foi condenado a 8 anos e 5 meses de prisão e recorre da sentença. Ele deixou a cadeia em março deste ano para cumprir pena em regime domiciliar e, há dias, teve concedida a liberdade condicional.

Bomfim era ortopedista e irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (SP) e também cunhado de Glauber Braga (RJ) —que é casado com Sâmia. Ambos parlamentares são do PSOL, partido da vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros no Rio em 2018.

O partido divulgou comunicado em que cobra apuração “rigorosa e eficiente” do caso.

A Delegacia de Homicídios da Capital investiga o crime. Ainda na madrugada, foi realizada perícia no local do crime e no quarto das vítimas no hotel em que estavam hospedadas. Celulares dos médicos foram apreendidos.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, também classificou como execução o assassinato e disse que determinou que a Polícia Federal acompanhe as investigações, considerando que um deles era ligado a dois deputados federais.

“Em face da hipótese de relação com a atuação de dois parlamentares federais, determinei à Polícia Federal que acompanhe as investigações sobre a execução de médicos no Rio. Após essas providências iniciais imediatas, analisaremos juridicamente o caso. Minha solidariedade à deputada Sâmia, ao deputado Glauber e familiares”, escreveu o ministro.

O governador do Rio, Claudio Castro (PL), postou em suas redes sociais que determinou o emprego de todos os recursos pela Polícia Civil do estado para a descoberta a autoria do crime.

Bruna Fantti e Italo Nogueira, Folhapress

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