Centro de Gaza vira linha de frente da guerra entre Israel e Hamas

Foto: Menahem Kahana/AFP

A ação terrestre de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza, iniciada na sexta passada (27), transformou a região central da capital homônima do território governado pelo grupo terrorista palestino desde 2007 em uma linha de frente.

“Estamos no auge da batalha. Tivemos sucessos impressionantes e passamos da periferia da cidade de Gaza. Estamos avançando”, disse o premiê Binyamin Netanyahu em nota.

Foi uma resposta aos relatos de jornalistas palestinos e de moradores ouvidos por agências internacionais de que o Hamas está oferecendo dura resistência, após ver a faixa mais ao norte da capital ser gradualmente ocupada por colunas de tanques e blindados, além da infantaria.

Mais tarde nesta quinta-feira (2), o Exército de Israel anunciou que completou o cerco à cidade de Gaza e, questionado sobre o tema, um porta-voz militar descartou possibilidades de cessar-fogo a esta altura.

A tática é a esperada desde antes do início desta fase da guerra: o emprego da extensa rede de túneis sob Gaza, estimada pelo Hamas em 500 km antes do início do conflito. Segundo os relatos, os terroristas usam táticas de guerrilha clássicas, saindo rapidamente dos túneis, engajando-se em combates e fugindo por outras saídas.

O maior problema para Israel são os mísseis antitanque russos Kornet, que o Hamas opera em uma quantidade considerada limitada, mas letal, fornecida pelo Irã por meio da Síria ao longo dos anos. Seu uso já destruiu alguns blindados de Tel Aviv na ofensiva.

Vídeos do Hamas e de seus aliados do Jihad Islâmico, que não foram georreferenciados e, portanto, são de autenticidade ainda duvidosa, mostram o emprego dessas armas e de outros modelos portáteis. A campanha de foguetes de fabricação artesanal contra Israel continua, ainda que não na intensidade do mega-ataque do dia 7 de outubro, que disparou a guerra.

Essa realidade e a presença continuada de civis na cidade, que antes da guerra tinha cerca de 600 mil dos 2,3 milhões de moradores da faixa, eleva ainda mais o custo político e militar da operação. Na manhã desta quinta, chegaram a 18 os soldados mortos de Israel, incluindo um comandante de batalhão.

“Nós estamos nos portões da cidade de Gaza”, havia dito na véspera um dos chefes da operação, general Itzik Cohen. Ao que tudo indica, até pela fala do primeiro-ministro, suas forças farão incursões progressivas principalmente vindas do norte, enquanto por ora os blindados ao sul da capital não avançaram —sugerindo uma barreira de contenção para um movimento de pinça posterior.

Nesta quinta, mais um conjunto de explosões atingiu o campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza. Segundo a agência de notícias Wafa, que é da Autoridade Nacional Palestina, rival do Hamas, ao menos 29 pessoas morreram, mas não há confirmação independente.

Na terça (31) e na quarta (1º), ações semelhantes foram assumidas por Israel horas após acontecerem. A primeira matou 50 pessoas, número citado por ambos os lados, e os palestinos dizem que a segunda vitimou 195 moradores. Tel Aviv afirma que o Hamas é responsável pelas mortes, por esconder seus centros de comando alvejados entre prédios residenciais e por não obedecer às ordens de retirada de civis.

Seja como for, a pressão internacional sobre o Estado judeu cresce, com um enviado da ONU à região sugerindo investigação por crime de guerra em Jabalia. Israel criticou a ideia, lembrando que o uso de escudos humanos também pode ser enquadrado na categoria. Até aqui, morreram cerca de 1.400 israelenses e estrangeiros nas mãos do Hamas, e a retaliação de Tel Aviv matou 9.061, segundo os palestinos.

HEZBOLLAH FAZ MAIOR ATAQUE NA GUERRA

Nas frentes secundárias da guerra, no norte do país houve novos ataques com mísseis antitanque do grupo libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã, e bombardeio de suas posições pelas forças de Israel. Com 19 lançamentos, esta foi a maior ação do tipo por parte do grupo, que lutou sua última guerra aberta com Tel Aviv em 2006.

Mais poderoso que o Hamas, com um estoque estimado de até 150 mil mísseis e foguetes, o Hezbollah é uma dor de cabeça para os planejadores militares israelenses. Mas até aqui não há sinais de que ele vá entrar de cabeça no conflito, apesar das escaramuças.

As Forças de Defesa de Israel informaram que, em retaliação aos ataques, bombardearam bases e pontos de lançamento de mísseis dos libaneses. Toda a região norte do país está militarizada, com dezenas de tanques e obuseiros em posição.

A tensão regional e o risco de escalada, ainda que por ora contidos, seguem altas e estão no foco das discussões da nova viagem do secretário de Estado americano, Antony Blinken, à região. Nesta quinta, ele falou sobre o tema com seu homólogo na Arábia Saudita, país que estava em vias de normalizar relações com Israel antes da guerra.

O descarrilamento desse processo e o congelamento de laços promovido por países árabes em paz com Tel Aviv, como Jordânia e Bahrein, são vitórias táticas da guerra do Hamas, e do Irã, até aqui.

Já o Shin Bet (serviço secreto israelense) acelerou sua busca por suspeitos de terrorismo na Cisjordânia, que é administrada pela Autoridade Nacional Palestina. Só nesta noite, foram 49 pessoas presas, 21 delas, segundo as autoridades, pertencentes ao Hamas.

Desde o começo da guerra, foram 1.220 detidos, 740 deles acusados de serem do grupo palestino. Há denúncias de abusos. A situação tem causado tensão na região, e moradores da capital, Ramallah, jogaram pedras contra soldados israelenses nesta quinta.

No vilarejo de Deir Sharaf, perto de Nablus, uma turba de colonos judeus atacou lojas palestinas. Já o assentamento judaico de Einav, montado a partir do confisco de terras da palestina Ramin, registrou um ataque com fuzil contra o carro de um de seus moradores, que capotou. Não houve feridos graves nos dois episódios.

Igor Gielow/Folhapress

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente esta matéria.