PF vai investigar ameaças a brasileiros repatriados de Gaza
Foto: Gov BR/FAB |
O Ministério da Justiça vai determinar à Polícia Federal que investigue as ameaças feitas aos brasileiros que estavam na Faixa de Gaza e foram repatriados pelo Brasil no início desta semana.
A decisão foi tomada nesta quinta-feira (16) pela Secretaria Nacional de Justiça, que coordenada a operação de acolhimento do grupo. Em nota, a pasta comanda por Augusto de Arruda Botelho diz que “as denúncias estão sendo apuradas e serão encaminhadas para a investigação da Polícia Federal”.
A defesa de Hasan Rabee, um dos integrantes do grupo, relata que apenas ele já recebeu mais de 200 mensagens de diferentes supostos detratores desde que chegou ao país, na segunda-feira (13). Ataques de teor xenófobo e contendo ameaças de morte, calúnia e injúria racial foram alguns dos conteúdos identificados, segundo a advogada Talitha Camargo da Fonseca, que o representa.
Na manhã desta quinta, a defensora formalizou um pedido ao Ministério dos Direitos Humanos para que o brasileiro-palestino e sua família sejam incluídos no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH). Camargo também irá acionar o Ministério da Justiça e Segurança Pública solicitando a concessão de escolta policial para eles.
“Vagabundo safado, te dou um pau se eu te encontrar na rua”, diz uma das mensagens enviadas a Hassan e compartilhadas com o Ministério dos Direitos Humanos. “Terrorista filha da p*, espero que você não venha para Florianópolis, seu m*”, “volte pra lá [Gaza] e aguente as consequências”, “não queremos terroristas no Brasil”, “vaza lixo terrorista”, afirmam outras.
Uma mulher iniciou um dos ataques encaminhando a publicação feita pela deputada Carla Zambelli que acusava Hasan de compartilhar mensagens “pró-terrorismo”.
A menção fazia referência a um post datado de 2015, em que o brasileiro sugeriu que estaria “no momento certo de explodir ônibus em Israel”. A publicação foi apagada por ele após repercussão.
“Você deveria ter ficado na Palestina. Não queremos terroristas no Brasil. Deus proteja Israel”, escreveu a mulher, em mensagem privada enviada a Hasan.
Ao Jornal Nacional, da TV Globo, o brasileiro-palestino afirmou que não se lembra da publicação e que pode ter feito a postagem “com raiva”. “Não sou a favor de violência nenhuma, sou a favor de conversa, sempre. Pode ser que eu tenha postado com raiva, mas, em 2015, não me lembro de nada”, disse.
Há ainda os que atacam Hasan por ter posado ao lado de Lula (PT) e por ter agradecido o mandatário pela operação que repatriou os mais de 30 brasileiros que estavam na zona de guerra. Segundo um dos remetentes, o grupo, na verdade, teria sido resgatado graças ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A defesa de Hasan afirma que irá processar todos aqueles que o procuraram por meio de suas redes para atacá-lo e ameaçá-lo. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que acusou Hasan publicamente de compartilhar mensagens “pró-terrorismo” em suas redes sociais, também deverá ser acionada na Justiça.
“Nós vamos processar. É inadmissível que exista impunidade. Cada vez que há impunidade, essas pessoas se sentem mais empoderadas [em promover ataques]. Hoje é a família do Hasan, mas deve sair uma segunda lista [de futuros repatriados]. E essas pessoas que estão vindo, também vão passar por isso?”, afirma Fonseca.
A advogada diz não ter sido informada sobre ataques sofridos por outros brasileiros que estavam em Gaza e voltaram para o Brasil. Para ela, Hasan seria o alvo preferencial por ter sido um dos que mais reportaram, por meio de vídeos e entrevistas, o périplo vivido pelo grupo na zona de guerra.
“Essas 200 pessoas ou mais serão responsabilizadas criminalmente e na área cível pelos danos. O que a gente vê é que existe uma propagação de discurso de ódio em massa nesse país”, afirma a advogada.
“Tem vídeo circulando no TikTok de ameaça, difamação… É surreal. É um grau de desumanidade a ponto de não conseguirem conceber que a pessoa acabou de sair de uma guerra”, completa Fonseca.
De acordo com Fonseca, muitos dos perfis que dispararam os ataques aparentam ser reais, e não de robôs ou de contas falsas. Prints e informações sobre todas elas serão apresentados à Divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil em São Paulo para que os dados pessoais sejam apurados.
As empresas responsáveis pelas redes sociais também serão acionadas.
O ator Lázaro Ramos recebeu convidados, na noite de segunda (13), para o lançamento do filme “Ó Pai, Ó 2”, no Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca, em São Paulo. O artista volta a interpretar Roque na sequência do longa de 2007, que agora é dirigido pela cineasta e presidente da Spcine, Viviane Ferreira. O ator Edmilson Filho prestigiou o evento.
Mônica Bergamo, Folhapress
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