Guerra só termina para Israel com captura ou morte de líder do Hamas
O Exército israelense tem dito que a guerra contra o Hamas vai durar até a captura ou morte de Yahya Sinwar, 61. Conhecido como “o açougueiro” devido à violência de suas ações, ele comanda de Gaza a facção terrorista. É hoje o principal alvo de Israel.
Sinwar foi um dos mentores dos atentados que deixaram ao menos 1.200 mortos em Israel em 7 de outubro. Na semana passada, a rede pública israelense Kan relatou que ele havia fugido do norte de Gaza escondido em um comboio humanitário no início dos embates. A informação não foi confirmada nem por Israel nem pelo Hamas. Pessoas ouvidas pela imprensa nas últimas semanas sugerem que Sinwar esteja protegido em um abrigo subterrâneo.
O chefe do Hamas nasceu em Khan Yunis, no sul de Gaza. Refugiados, seus pais estavam entre os mais de 700 mil palestinos expulsos de suas terras com a criação do Estado de Israel, em 1948. Trata-se de um elemento importante na formação política de Sinwar. Nos anos 1980, ele foi um dos responsáveis por criar o Majd, uma espécie de aparato de segurança interna que perseguia e matava palestinos suspeitos de colaborar com Tel Aviv. Sinwar enforcava e esfaqueava os inimigos, segundo as investigações da Justiça israelense. Vem daí a alcunha de “açougueiro de Khan Yunis”.
Sinwar conheceu Ahmed Yassin, um dos fundadores do Hamas, enquanto rezava em uma mesquita de Gaza. Mais tarde, participou da Primeira Intifada, os levantes palestinos contra Israel de 1987 a 1993. Capturado por Israel em 1988, foi condenado a quatro prisões perpétuas. Passou 22 anos na cadeia boa parte da vida adulta. Mesmo preso, continuou a coordenar a perseguição aos colaboradores palestinos.
A liberdade veio em 2011, quando Israel soltou 1.026 palestinos em troca do soldado Gilad Shalit, capturado pelo Hamas. Sinwar foi um deles. A atenção recebida durante a soltura contribuiu para sua ascensão.
Esse longo período atrás das grades explica, em parte, a insistência de Sinwar na libertação dos presos palestinos e a estratégia de capturar civis e soldados israelenses durante os atentados de outubro. O Hamas sequestrou cerca de 240 pessoas, usadas como moeda de troca nas negociações com Israel. No cessar-fogo do fim de novembro, a facção libertou dezenas delas em troca da soltura de detentos palestinos.
Depois de voltar às ruas em 2011, Sinwar chegou a indicar que abandonaria a luta armada. Relatos divulgados durante as últimas semanas, feitos por pessoas que conviveram com ele, indicam o contrário. Sinwar é descrito como alguém radical, inflexível e obsessivo.
Um membro da inteligência interna israelense que o interrogou por mais de 150 horas disse ao jornal The Washington Post que Sinwar, certa vez, obrigou um palestino a enterrar vivo seu próprio irmão, acusado de ser informante de Israel. Acredita-se, também, que em 2015 Sinwar participou da tortura e morte de Mahmud Ishtiwi, um comandante do Hamas acusado de corrupção. Ishtiwi também teria sido punido pela suspeita de ser homossexual a facção terrorista prega uma interpretação bastante radical do islã, que não é seguida por todas as pessoas dentro de Gaza.
Sinwar passou a chefiar o Hamas dentro de Gaza em 2017. O líder geral, Ismail Haniyeh, está exilado no Qatar. Outra parte da liderança está na Turquia. O fato de que Sinwar segue no território palestino sob bombardeio israelense lhe dá mais credibilidade entre os simpatizantes da facção em comparação com os chefes que vivem no exterior, sem o risco direto de ser um alvo.
Em certa medida, o radicalismo de Sinwar reforça o discurso das autoridades israelenses de justificar a guerra como uma batalha do bem contra o mal, retórica explorada desde o início pelo governo do premiê Binyamin Netanyahu. Sinwar, porém, não é o único líder do Hamas em Gaza. Divide o poder com Mohammed Deif, comandante do braço armado da facção, e Marwan Issa, número dois de Deif.
Israel continua a apertar o cerco em Gaza, à procura de Sinwar. Segundo a agência de notícias Reuters, o ministro da Defesa israelense, Yoav Galant, que já se referiu a ele como “um homem morto”, tem uma fotografia de Sinwar na parede de seu escritório, para lembrá-lo do objetivo maior.
Diogo Bercito / Folhapress
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