Assassinos de policial penal "plantaram" provas para despistar a polícia
José Françualdo Leite Nóbrega, 36 anos, foi morto a tiros e teve o corpo jogado em uma área rural de Cocalzinho de Goiás. Três funcionários dele e outras duas pessoas estão por trás do homicídio
Dinheiro, traição e ganância estão por trás do assassinato do policial penal de Goiás José Françualdo Leite Nóbrega, 36 anos, encontrado morto, no sábado, em uma área rural de Cocalzinho de Goiás, a 110km de Brasília. O homicídio foi premeditado e envolveu pelo menos cinco pessoas, revelam as investigações da Polícia Civil (PCGO). Dois funcionários de Françualdo — Manelito de Lima Júnior e Daniel Amorim Rosa — tiveram a prisão convertida em preventiva pela Justiça e estão na Unidade Prisional de Corumbá de Goiás.
Françualdo trabalhava na Unidade Prisional de Santo Antônio do Descoberto (GO) e, além do cargo público, gerenciava uma loja de aluguel de maquinário de construção, no município goiano de Águas Lindas. Um dia antes de desaparecer, em 27 de novembro, ele trabalhou normalmente. Já na tarde do dia seguinte, a família perdeu o contato com o agente. Um dia depois, o carro dele foi encontrado carbonizado no Núcleo Rural Três Conquistas, no Paranoá.
À frente das investigações, os agentes da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) colheram depoimentos de pessoas próximas para elucidar o caso. Uma das pessoas ouvidas foi Manelito. No interrogatório, o funcionário de Françualdo disse que o patrão tinha vindo ao DF para buscar uma quantia de R$ 40 mil. Mas nem a família nem a polícia desconfiavam que Manelito estava por trás do sumiço, da morte e da ocultação do cadáver do patrão.
Ao longo de mais de um mês de buscas, familiares da vítima começaram a suspeitar de Manelito e Daniel. Os dois auxiliaram a família, mas demonstravam indiferença, relata José Wagner, um dos irmãos de Françualdo. "O Manelito logo se mudou de Goiás para Brasília. Chegamos a ameaçá-los de demissão, caso não nos ajudassem nas buscas. Eles estavam muito estranhos", contou.
O irmão desconfia que Manelito usou outros métodos para despistar a família. "Eu recebia muitas ligações de pessoas de outros estados, como Rio Grande do Sul, para dizer que meu irmão estava lá. Foram táticas articuladas por eles (assassinos) para desviar o foco de nossa nas buscas. Em vários momentos, eles diziam que o Françualdo estava vivo e que iria aparecer", relata
Execução
A polícia constatou que o policial morreu no mesmo dia em que desapareceu, em 27 de novembro. A família diz que o servidor desconfiava de um suposto desvio de dinheiro por parte dos funcionários e, por isso, convocou uma reunião para tratar sobre as questões financeiras da loja. Os encontros ocorriam mensalmente e só participavam os empregados considerados de confiança da vítima.
Na noite de 27 de novembro, Françualdo, como de costume, preparou um churrasco na chácara onde morava, em Águas Lindas, e convocou Manelito, Daniel e Felipe Nascimento. De acordo com as investigações, o policial foi surpreendido e assassinado com um tiro nas costas e três no peito. O responsável pelos disparos teria sido Manelito, apontado como o mentor do crime.
Ao ser preso, na noite do último sábado, Manelito confessou o crime e deu detalhes à Polícia Civil sobre toda a ação. Após a execução, iniciou-se uma força-tarefa por parte dos assassinos para desovar o corpo e limpar a chácara. Segundo as investigações, Daniel e Felipe levaram o corpo até a região de mata, uma antiga cascalheira, e, lá, atearam fogo no cadáver. Manelito, por sua vez, organizou toda a residência, lavou o imóvel e saiu levando o colar, a pulseira de ouro e a pistola do amigo.
Um dia depois do crime, os assassinos levaram a caminhonete de Françualdo até uma estrada de chão, no Paranoá, e queimaram o veículo. Dias depois, "plantaram" o boné do policial com a logo do sistema prisional em um córrego de Planaltina. A intenção era despistar a polícia. Os investigadores trabalham com outros dois suspeitos: Deivid Amorim Rosa, irmão de Daniel, e Marinalda Mendes, esposa de Manelito. A mulher teria ajudado a queimar o veículo da vítima. Delegado à frente do caso, Vinícius Máximo, relata que outras prisões foram requeridas à Justiça.
Na delegacia, Manelito confessou o crime e disse ter matado o amigo em momento de ira, pois Françualdo seria uma pessoa nervosa, que o humilhava. No entanto, não demonstrou nenhum tipo de arrependimento ou comoção, segundo o delegado. "Eles tinham uma amizade de mais de 15 anos. O Manelito era braço-direito do meu irmão nas finanças e o Françualdo confiava mais nele do que em nós", desabafou Wagner.
Ao Correio, a advogada Tereza Cristina, que representa a defesa dos dois presos, se limitou a dizer que tentará fazer uma defesa justa para que a pena seja menor e que não se manifestará até ter acesso ao inquérito policial. Ontem, Daniel e Manelito tiveram as prisões preventivas decretadas. A reportagem apurou que os dois estão em celas separadas e, por segurança, sem contato com os outros presos.
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