Seca histórica no Amazonas custou R$ 1 bi a mais para indústria e reduziu importações

Estiagem de outubro e novembro de 2023 foi a maior da história
A seca histórica no Amazonas, no fim do ano passado, impactou a indústria do Estado e implicou R$ 1,4 bilhão de custos extras às empresas, que diminuíram a produção diante da falta de insumos e da dificuldade para escoar os produtos finais.

A estiagem de outubro e novembro de 2023 foi a maior da história. O rio Negro chegou a atingir 12,7 metros —o menor nível em mais de um século. Segundo dados do ComexStat, plataforma do governo brasileiro sobre exportação e importação, houve uma queda de 83% na importação pelo modal aquaviário do Amazonas em razão da seca.

Essa queda da navegação está diretamente ligada aos custos extras das empresas. A maioria dos produtos que entram e saem de Manaus é transportada por navios. Porém, com o baixo nível dos rios, a indústria teve de optar por modos alternativos de traslados, como aviões, cujos custos são mais altos em comparação ao aquaviário, e o ro-ro caboclo, em que caminhões são transportados por barcaças nos trechos em que não há estrada.

Este último, apesar de ser mais barato do que transportar as cargas através do avião, não consegue atender à mesma demanda da cabotagem e dos navios de longo curso.

“A gente estimou em R$ 1,4 bilhão de cursos excessivos que as indústrias tiveram para enfrentar essa seca”, afirma Augusto César Rocha, coordenador da comissão de logística do Cieam (Centro de Indústria do Estado do Amazonas).

“São custos assustadoramente altos colocados já sobre o custo Brasil e sobre o que chamamos de custo amazônico”, completa o especialista, fazendo menção à despesa adicional que as empresas têm para produzir no país, na comparação com a média dos custos nos membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Segundo o ComexStat, só em outubro, primeiro mês da seca, as importações gerais no Amazonas tiveram uma queda de 49,79%, indo de US$ 1,097 bilhão (R$ 5,32 bilhões) para US$ 604 milhões (R$ 2,9 bilhões). Por via aquaviária, essa redução foi ainda maior, de 73,82%. Em contrapartida, as importações por via aérea, que são mais caras, subiram 9%.

O mês puxou o desempenho da indústria no Amazonas para baixo, representando uma queda de 5,7% em comparação ao mesmo período de 2022, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados nesta sexta-feira (12).

Já em novembro, a produção industrial do Amazonas teve uma queda de 4,2% em relação a outubro, conforme o IBGE. Na comparação anual, esse percentual foi ainda maior, de 10,3%. Ainda não há dados disponíveis do ComexStat sobre as importações no Estado.

De acordo com o coordenador do Cieam, apesar do impacto na indústria, pouco foi sentido no bolso dos consumidores.

“O preço do produto é o mercado que define, é a oferta e demanda. O consumidor pouco percebe o problema. Mas a matriz do que seria a venda da empresa é toda modificada. Por exemplo, em vez de vender uma motocicleta com o maior valor agregado, ela vai vender com o menor valor agregado”, diz Rocha.

O IBGE, no entanto, apontou a seca no Amazonas como um dos fatores que elevaram a inflação de ar-condicionados no final do ano passado. No acumulado de 2023 até novembro, o preço do eletrodoméstico subiu 13,97%, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Apesar de o fim da seca e o início das chuvas já terem aumentado o nível dos rios, o Amazonas ainda não chegou à normalidade. O mais recente boletim de estiagem do Estado, de quarta-feira (10), indicou que os 62 municípios amazonenses continuam em estado de emergência.

Diante do cenário, Rocha afirma que o poder público, principalmente o governo federal, precisa fazer investimentos para evitar que o cenário do final de 2023 se repita neste ano.

“As empresas se planejam todos os anos para a seca e se preparam para enfrentar um cenário extremo. O problema é que a seca foi bem pior do que era esperado. A indústria se planejou para parar por 30 dias, mas parou 60”, diz o especialista.

“A gente não pode ficar dependendo de um santo para que faça chover ou não, é necessário investimento”, afirma, acrescentando que é preciso haver alternativas de rota para os produtos que chegam e saem do Amazonas.

Uma das sugestões é a recuperação da BR-319, que liga Manaus e Porto Velho, em Rondônia. Não há pavimentação em grande parte da rodovia, o que impede o translado de caminhões de carga na região.

“Manaus é como se fosse uma ilha. A cidade está no meio do Amazonas e não é ligada por nenhuma rodovia com o restante sul do Brasil, isto é, o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste. A BR-319 é uma alternativa, mas, para isso, ela deve ser recuperada e monitorada, com centros de controle para a proteção da floresta, para que não se torne um vetor de destruição da Amazônia”, afirma.

Camila Zarur/Folhapress

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