Secretário de Ricardo Lewandowski defende saidinhas e diz que não vai ‘inventar a roda’

Foto: Reprodução/YouTube

O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, defendeu em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo as saídas temporárias de detentos —as chamadas saidinhas— e a adoção de câmeras nos uniformes dos policiais.

Sarrubbo está prestes a assumir o cargo de secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça. Ele foi convidado pelo futuro ministro da pasta, Ricardo Lewandowski, e coloca como uma das suas prioridades a integração entre as forças policiais dos estados e da União.

O atual procurador-geral elogiou ainda o atual ministro da Justiça, Flávio Dino, indicado por Lula para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal). Disse que há projetos bons em andamento na pasta e que não espera “inventar a roda” na nova função.

Medidas defendidas por Sarrubbo, como as saidinhas e o uso de câmeras por policiais, são alvo de críticas por parte de bolsonaristas.

No caso da primeira, apenas 4,8% dos detentos não voltam após a liberação da saída temporária. O Congresso tenta mudar a lei de Execuções Penais e barrar esse tipo de benefício.

“Os índices demonstram com muita clareza que o número de presos que não retornam na saída temporária é ao redor de 4%, portanto não acho significativo”, disse Sarrubbo na entrevista.

Ele defendeu, porém, o aprimoramento da lei. “A gente precisa ter um olhar muito cuidadoso porque existem fatos que são graves que nos tocam demais como, por exemplo, o assassinato de um policial em Belo Horizonte por um criminoso que estava em saída temporária.”

O futuro secretário nacional também disse ser entusiasta das câmeras corporais nos policiais e disse ver inúmeras vantagens no uso. “Por exemplo: diminui a letalidade policial, reduz as mortes dos policiais, ajuda na produção de provas. Mas isso vai ser discutido no âmbito do ministério, eu sou entusiasta. Só no momento que nós estivermos [na pasta] é que vamos tomar decisões sobre eventuais políticas do incentivo do uso de câmeras”, disse Sarrubbo.

Ele também pretende levar a experiência que tem na gestão do Ministério Público de São Paulo para ajudar na integração entre instituições como Ministério Público Federal e as Promotorias nos estados com as polícias civil e militar nas diferentes unidades da federação.

Afirmou que, embora não tenha experiência direta em investigações relacionadas ao crime organizado durante sua trajetória como promotor de Justiça, colaborou com a reestruturação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) em São Paulo ao assumir os cargos de procurador-geral e subprocurador.

“Como promotor de Justiça eu tive alguns casos importantes, mas eu não fui propriamente na atividade um promotor de Justiça que combateu o crime organizado. Até porque eu sou velho, tenho 34 anos de carreira. Sou procurador, estou em segunda instância desde 2011, e de lá para cá [estou] atuando em ordens de administração superior”, disse.

No fortalecimento do Gaeco em São Paulo, Sarrubbo afirma que acompanhou de perto ações e investigações contra o crime organizado, em colaboração estreita com as forças policiais.

O combate ao crime organizado é uma das pautas mais espinhosas da segurança pública. A atuação das facções se tornou uma das principais preocupações das autoridades. No ano passado, Bahia e Rio de Janeiro viveram uma onda de ataques realizados por esses grupos.

Sarrubbo declarou ainda que o plano do ministro Lewandowski envolve a criação de uma espécie de Gaeco nacional, com o objetivo de fortalecer a luta contra organizações criminosas em todo o país. A inspiração para essa iniciativa surgiu após um ação efetiva no ano anterior, quando Gaecos de mais de oito estados trabalharam em conjunto, resultando em operações de apreensão, prisões e confiscos de bens.

A ideia de um possível Gaeco nacional já teve repercussão, sendo criticada pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal e a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal.

Segundo as instituições, a Senasp, como principal responsável pela coordenação do Susp (Sistema Único de Segurança Pública), tem como missão o fortalecimento dos órgãos policiais federais e estaduais, através da elaboração e a implementação de políticas públicas voltadas à segurança pública.

“Sem entrar no discutível mérito acerca da eficácia, tal medida se mostra inconcebível no âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública, pois a pasta não pode, por vedação constitucional, se subordinar ou tornar-se uma extensão de outro poder ou instituição”, disse a nota das entidades.

O novo secretário afirmou, por outro lado, que ainda é cedo para pensar na continuidade ou não de programas na área de segurança da pasta. Ele elogiou o Enfoc (Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas), lançado pela gestão Dino e que também tem como foco combater as organizações criminosas.

“Não há nada ainda com relação a extinção de força-tarefa. Eu ainda devo demorar algumas semanas para assumir o cargo, então nós queremos entender o que está acontecendo. Sabemos que existem projetos em andamento muito bons e nós não vamos lá inventar a roda, mas para aprimorar. O que tiver, nós vamos continuar”, disse.

Na sua visão, é preciso fazer mudanças legislativas pontuais em relação ao crime organizado, que serão sugeridas tendo como base a experiência de seu trabalho do Ministério Público. Ele disse, porém, não enxergar a legislação como um grande entrave. O foco, a seu ver, é investir em estratégia, inteligência e atentar para o lucro das organizações e a lavagem de dinheiro.

Sarrubbo disse ainda que precisa ter uma conversa com o ministro Lewandowski para definir quando assumirá o posto. Procurador-geral de Justiça desde 2020 e membro do Ministério Público em São Paulo desde 1989, ele tem mestrado em direito pela PUC-SP e graduação em direito pelo Mackenzie.

Além disso, é afinado com o ministro do STF Alexandre de Moraes —já teve seu nome ventilado como indicação para o STJ (Superior Tribunal de Justiça)— e, em meio aos embates do ex-presidente Jair Bolsonaro com o Judiciário, endossou reações em defesa da democracia e de ações de combate à Covid-19.

Lewandowski deverá entrar na Esplanada Lula em 1º de fevereiro. O governo está pressionado pela avaliação negativa da população sobre segurança pública na gestão petista e por programas que pouco avançaram na área.

A cobrança sobre o novo ministro deve aumentar ainda mais por ele ter se oposto ao desmembramento da Justiça e à recriação do Ministério da Segurança Pública —promessa de Lula ainda do período eleitoral.

Lewandowski tem apontado que a área de segurança pública será seu maior desafio à frente do ministério.

Pessoas próximas afirmam que o futuro chefe da Justiça manifesta preocupação com a gravidade do problema e promete pulso firme no combate ao crime. Nas palavras de um aliado, o garantismo que marcou sua carreira no Judiciário, com forte defesa dos direitos de acusados, não será confundido com falta de ordem em sua gestão no ministério.

As pontes estabelecidas com a classe política durante o período em que ocupou a presidência do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) também podem pavimentar articulações no Congresso, segundo aliados.

Raquel Lopes/Folhapress

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