Lula responde a pressão de Lira com gestos a Pacheco e vice da Câmara dos Deputados
Arthur Lira, Lula e Rodrigo Pacheco |
Desde o fim do ano passado, Lira tem feito duras críticas ao ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha, que é o responsável pela articulação política do governo no Congresso Nacional. O parlamentar culpa Padilha por descumprimento de acordos, sendo o principal deles a liberação das verbas de emendas parlamentares negociadas com os deputados —principalmente recursos do Ministério da Saúde.
Nas últimas semanas, Lira aumentou a pressão, indicando a aliados e interlocutores do governo que nenhuma pauta que seja de interesse exclusivo do Executivo andará na Câmara enquanto não houver mudanças na articulação política. Apesar disso, aliados de Lula afirmam que o presidente não pretende mexer no comando da SRI, mesmo diante destes movimentos.
Na avaliação de membros do Planalto, a ausência de Lira em eventos com participação de integrantes do governo é mais um recado nesse sentido.
O presidente da Câmara não participou do ato Democracia Inabalada, que marcou um ano dos ataques golpistas contra as sedes dos três Poderes no começo de janeiro, assim como não esteve presente na posse do novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e na sessão de abertura do ano do Judiciário, ambos nesta quinta-feira (1º), em Brasília.
Lira estava em Brasília, mas voltou para Alagoas na quarta (31). Neste dia, ele se reuniu com o ministro Rui Costa (Casa Civil) e relatou ao petista insatisfações sobre a execução orçamentária e os vetos presidenciais.
A aliados, Lira afirmou que tinha compromissos no estado. Interlocutores do parlamentar dizem que cerimonial dos dois eventos foi informado que ele não compareceria, e que Marcos Pereira representaria a Câmara.
Horas depois de Lira faltar à posse de Lewandowski, Padilha teve seu papel de articulador político restituído sob orientação de Lula.
Em um almoço no gabinete do titular da SRI, com a presença dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Rui Costa, além dos líderes do governo no Legislativo, ficou restabelecido que a negociação de emendas ficará a cargo de Padilha.
A reorganização da estratégia desencoraja avanços dos colegas da Esplanada sobre acordos de responsabilidade de Padilha. Em fevereiro, a SRI deverá promover uma reunião de Lula com líderes partidários da Câmara e do Senado.
Um dos pontos de atrito entre o Executivo e o Legislativo nesse começo de ano é o veto de Lula de R$ 5,6 bilhões às emendas de comissão dos parlamentares, que tende a ser derrubado pelo Congresso.
Em meio a esse enfrentamento do alagoano, Lula tem feito gestos a Marcos Pereira, que desponta como candidato para suceder Lira na presidência da Câmara, em 2025. Para isso, ele tem acenado ao governo federal desde o ano passado.
Lula esteve com o deputado no Planalto na quinta e o convidou para ir com ele a São Paulo, onde os dois estiveram juntos em agendas. Eles voaram no mesmo avião para a capital paulista e, nesta sexta (2), foram de helicóptero juntos para evento no porto de Santos. Na ocasião, chegou a citar a ausência de Lira ao cumprimentar Pereira.
“Cumprimentar o companheiro Marcos Pereira que está no exercício da presidência da Câmara, porque o Lira não veio aqui”, disse Lula.
De acordo com relatos, o convite surgiu como forma de agradecimento do petista pela contribuição de Pereira nas negociações que destravaram a parceria entre o governo federal e o governo estadual de São Paulo para viabilizar o túnel Santos-Guarujá. Pereira é presidente nacional do Republicanos, partido do governador de SP, Tarcísio de Freitas.
Segundo deputados governistas, Pereira tem dado sinalizações que foram bem recebidas pelo Planalto desde 2023 e que a ajuda nessas negociações sobre o túnel seria mais uma delas.
Eles citam como exemplo a ida de Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) para comandar o Ministério de Portos e Aeroportos —algo que não teria ocorrido sem o aval de Pereira.
Depois da agenda em Santos nesta sexta, o parlamentar também acompanhou Lula em visita à fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo.
Segundo auxiliares do presidente e interlocutores do deputado, eles não trataram da eleição da presidência da Câmara nos dois deslocamentos. Para aliados de Pereira, por sua vez, esse gesto do presidente de convidá-lo para acompanhá-lo nas agendas é uma sinalização positiva.
Apesar de o Palácio do Planalto afirmar que não quer se envolver formalmente na sucessão de Lira, os principais candidatos têm competido por uma interlocução maior com o governo. A bênção, mesmo que informal de auxiliares de Lula, poderá ajudar na disputa. Segundo relatos, a orientação de Lula é pela neutralidade na disputa —exceto caso seja necessário enfrentar uma candidatura bolsonarista.
Além de Pereira, também são citados como possíveis candidatos os líderes da União Brasil, Elmar Nascimento, do PSD, Antônio Brito, e do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL). Desses nomes, o mais próximo de Lira é Elmar, que também é conhecido por ter um perfil de maior embate com o Executivo.
Há uma avaliação entre membros do governo, no entanto, que num momento em que Lira tem essa postura de enfrentamento com o Planalto e se distancia, abre um espaço para que uma liderança da Casa se aproxime da gestão petista.
Além disso, eles avaliam que essa postura de Lira pode causar um próprio racha entre seus aliados. Atualmente, a Câmara tem dois grandes blocos: o de Lira, com 176 deputados (PP, União Brasil, PSDB, Cidadania, PDT, PSB, Avante, Solidariedade e Patriota) e outro com 144 (MDB, PSD, Republicanos e Podemos).
Lula também deu demonstrações de que pretende investir na relação com Rodrigo Pacheco, em 2024. Lula convidou o senador a integrar a comitiva presidencial em visita a Minas Gerais na semana que vem.
Além disso, o PT mineiro já foi informado que a intenção de Lula é apoiar a candidatura de Pacheco ao governo de Minas em 2026. Na posse de Lewandowski, Pacheco acompanhou o presidente na descida de seu gabinete ao salão do Palácio do Planalto.
Segundo aliados do presidente, Lula espera contar com o apoio de Pacheco para postergar até a segunda quinzena de março a convocação da sessão do Congresso em que deverão ser votados os vetos presidenciais ao Orçamento de 2024.
Até lá, a equipe econômica ganharia tempo para negociar com o Congresso as medidas de interesse do governo. Com a estratégia, o governo busca equilibrar correlação de forças entre Câmara e Senado.
Apesar da tensão, aliados de Lula e Lira afirmam que os dois políticos deverão se reunir na volta do recesso parlamentar para conversar —a data ainda não foi marcada.
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