PF mira general após saída do Alto-Comando e poupa Exército
Trata-se do general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, que integrou o Alto-Comando do Exército até 1º de dezembro passado. Então chefe do Coter (Comando de Operações Terrestres), ele é apontado pela PF como um dos integrantes da trama golpista, responsável por arregimentar tropas para eventual sublevação.
A acusação era conhecida ao menos desde que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, teve delação premiada homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, em setembro.
Segundo interlocutores do ministro e do comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, na montagem da operação que acabou deflagrada nesta quinta (8) foi discutido o impacto que uma ação contra um membro da cúpula ativa do Exército teria na já desgastada imagem da Força a mais associada ao bolsonarismo.
Tomás e Moraes são próximos e têm uma relação que antecede o atual governo. O ministro foi um dos que sugeriram o nome do general para assumir o Exército quando o presidente Lula (PT) decidiu demitir o comandante Júlio Cesar de Arruda na esteira do 8 de Janeiro.
Em um acordo tácito, ficou acertado que a PF só se moveria contra o general após ele ir para a reserva, tentando assim delimitar o estrago. Moraes chegou a dizer a conhecidos que suas apurações não atingiam o Alto-Comando. Ao menos um deles pondera que, apesar do acerto, a operação poderia não estar pronta para ir à rua antes.
O arranjo reflete a realidade para os militares. Afinal, foram atingidos nomes da ativa entre os ao menos 13 fardados em cujas portas a PF bateu na quinta, e o grande dano está estabelecido: o de que a associação entre as Forças e Bolsonaro desembocou numa conspirata golpista, segundo Moraes.
O dano reputacional é enorme: foram implicados além de Theophilo dois ex-ministros da Defesa, um ex-comandante do Exército e outro, da Marinha, e uma série de oficiais de menor patente. Suas responsabilidades ainda serão apuradas, mas do ponto de vista político o carimbo golpista está assentado.
Há também o mal-estar interno, relatado por diversos oficiais-generais. Não é todo dia que um ex-integrante do Alto-Comando, no caso o general Walter Braga Netto, tem divulgados xingamentos e o incitamento à perseguição de seus pares no caso, os então comandantes Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos de Almeida Baptista Junior (FAB).
Como aí o leite está derramado, o trabalho de Tomás é o de tentar passar uma imagem de normalidade. E isso passa por tentar restringir o impacto de alto escalão à reserva. A tática está em linha com os termos da pacificação proposta pelo ministro José Múcio Monteiro (Defesa) antes mesmo de assumir o cargo.
Ambos sabem que o corte na carne é inevitável, mas ao menos não
atingiria o órgão máximo de assessoramento do comandante. Theophilo já
estava bastante escanteado dentro dele neste governo, bolsonarista
radical como era conhecido.
Ainda sob Bolsonaro, como sugere a PF, era um dos esteios de ideias de
ruptura. Segundo alguns de seus colegas, ele nunca perdia a oportunidade
de alinhar-se a Bolsonaro e a suas ideias golpistas. Havia outros
membros do Alto-Comando simpáticos a elas, mas uma trinca respaldou a
resistência: Tomás, então chefe das tropas de São Paulo, Richard Nunes e
Valério Strumpf.
Por evidente, isso leva ao questionamento adicional sobre por que os generais, brigadeiros e almirantes contrários aos exotismos bolsonaristas não foram a público denunciá-los, seguindo o que fez o chefe do Estado-Maior dos EUA, Mark Milley, quando Donald Trump insinuou golpismo em 2020.
Sem entrar no mérito, interlocutores desses oficiais-generais dizem que a tradição militar brasileira impediria algo do gênero, que poderia ser lido como uma tentativa de golpe em si. Se isso convencerá Moraes, essa é outra história.
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