Reunião de chanceleres do G20 terá em pauta guerras e governança global
No foco dessa primeira reunião estão as guerras Israel-Hamas e Rússia-Ucrânia, além da reforma dos organismos internacionais, como ONU, OMC (Organização Mundial do Comércio) e bancos multilaterais.
O G20, abreviação para Grupo dos Vinte, reúne 19 países e dois blocos econômicos que, juntos, representam cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e dois terços da população do planeta. É a primeira vez que o Brasil ocupa a presidência do fórum.
Neste encontro, os chanceleres do G20 vão se reunir na primeira reunião ministerial da Trilha Sherpa. Isso significa que membros do alto escalão da política externa de cada país vão participar de reuniões para discutir negociações e os pontos que vão formar a agenda oficial da cúpula.
É uma reunião só de debates, não tem caráter decisório nem vai produzir algum texto conclusivo para a cúpula. No entanto, é o que vai direcionar a pauta das conversas.
A Trilha Sherpa, cujo nome faz referência a uma etnia nepalesa que guia alpinistas ao cume do Monte Everest, é quem aponta a direção das discussões e acordos até o encontro mais importante do G20: a cúpula dos chefes de Estado e de governo, marcada para novembro.
Atualmente, fazem parte do grupo África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia, União Europeia e União Africana —esta última se tornou membro do G20 em 2023.
GUERRAS E GOVERNANÇA GLOBAL EM FOCO
A reunião dos chanceleres será conduzida pelo ministro das Relações
Exteriores brasileiro, Mauro Vieira. No encontro, os temas abordados
serão as crises e tensões globais e a necessidade de uma reforma na
governança global.
As três prioridades da presidência brasileira no G20 também devem ser incluídas nas conversas: além da reforma da governança internacional, há o combate à fome, pobreza e desigualdade e as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental).
Ao menos 12 chanceleres já estão confirmados no encontro. Entre eles, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov.
Antes do encontro do G20, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos irá à Brasília para uma reunião com o presidente Lula (PT). Eles devem discutir a parceria entre os dois países pelos direitos dos trabalhadores, a cooperação na transição para a energia limpa e as comemorações do bicentenário das relações diplomáticas entre Brasil e EUA.
Já o chanceler russo deve ter uma reunião bilateral com Mauro Vieira durante o encontro no Rio. Antes, Lavrov passa por Cuba, nesta segunda (19), e pela Venezuela, na terça (20), para se reunir com os líderes dos dois países —respectivamente, Miguel Díaz-Canel e o ditador Nicolás Maduro.
Blinken e Lavrov vão participar do encontro do G20 em um momento em que as relações entre EUA e Rússia estão bastante tensionadas. Além da guerra na Ucrânia, na qual o país americano tomou partido do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, as tensões se elevaram na semana passada por conta da morte do líder opositor russo Alexei Navalni.
Lula, que se coloca como uma voz moderadora nas discussões de política externa, evitou atribuir qualquer acusação ao presidente russo, Vladimir Putin, pela morte de Navalni. Na mesma ocasião, o presidente brasileiro também se esquivou de comentar as denúncias recentes à Venezuela, como as prisões de opositores a Maduro e a expulsão de agentes da ONU. Esse assunto deve ser abordado durante a reunião do G20.
ATRITOS COM ISRAEL
O encontro dos chanceleres acontece também na esteira das declarações de
Lula a respeito da guerra em Gaza. Ele comparou os ataques de Israel ao
território palestino ao Holocausto nazista. A fala gerou reação do
governo de Binyamin Netanyahu, que declarou o líder brasileiro persona
non grata.
A guerra em Gaza, iniciada em outubro passado após um ataque terrorista do Hamas a Israel, está no centro do debate da reforma da governança global. Há críticas do governo Lula sobre a baixa influência e a falta de efetividade do Conselho de Segurança da ONU na mediação de conflitos internacionais.
O pedido de um cessar-fogo humanitário entre as forças israelenses e o Hamas foi vetado nas resoluções do colegiado reiteradamente desde o início do conflito. Uma das propostas foi feita pelo Brasil, mas foi rejeitada pelos Estados Unidos. Como Washington é membro permanente do conselho, ela tem direito a veto mesmo que haja adesão dos demais países.
Israel não é membro do G20, mas tem dentro do grupo grandes aliados como EUA, França, Reino Unido e Alemanha —destes, só Berlim não tem poder de veto no Conselho de Segurança.
Embora o Grupo dos Vinte não tenha poder decisório oficial, ele tem capacidade de pautar o debate entre os países. É justamente para isso que as nações e blocos econômicos se encontram anualmente. A ideia é que, a partir dessas reuniões, possam surgir acordos multilaterais e iniciativas econômicas, políticas e sociais.
O grupo se define como o principal fórum de cooperação econômica internacional, com “papel importante na formação e no fortalecimento da arquitetura e da governança global em todas as principais questões econômicas internacionais”.
Há, porém, quatro países que já confirmaram que não vão mandar seus chanceleres para o encontro. São eles China, Índia, Itália e Austrália. Os dois primeiros são as ausências mais sentidas pelo Brasil, já que são integrantes importantes do Brics e parceiros estratégicos para o país.
A Índia justificou a ausência do chanceler Subrahmanyam Jaishankar por ele ter outros compromissos internos no país. Já o ministro chinês, Wang Yi, esteve em janeiro no Brasil para se reunir com o governo Lula.
Fora os países do G20, também vão participar nações convidadas pelo Brasil, como Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega, Portugal e Singapura.
OUTRAS REUNIÕES DO G20
Além da Trilha Sherpa, dentro do G20 há também a Trilha de Finanças, que
debate os assuntos macroeconômicos estratégicos para os países do
grupo. Ela é comandada pelos ministros das Finanças/Fazenda/Economia e
pelos presidentes dos Bancos Centrais dos países do grupo.
A primeira reunião ministerial da Trilha de Finanças está marcada para os dias 26 e 27 de fevereiro, em São Paulo. Em paralelo às reuniões ministeriais, também são feitos encontros de grupos de trabalhos e equipes técnicas.
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