Demora do governo leva única fábrica de fibras ópticas a fechar as portas
Foto: Sidney Oliveira/Agência Senado |
Raul Gil Boronat, CEO da Prysmian no cone Sul, diz que a companhia está “sangrando” há dois anos, sem chances de se recuperar contra as práticas chinesas consideradas abusivas.
No fim do ano passado, a companhia chegou a realizar demissões temporárias com a expectativa de que o mercado se reestabelecesse, mas a situação piorou.
“Se não acontecer um milagre nos próximos dois meses, vamos fechar a fábrica em julho”, afirmou Boronat ao Painel S.A..
Atualmente, um quilômetro de fibras importadas da China custam US$ 2,50 contra US$ 6, preço da fibra produzida pela Prysmian no Brasil.
Em janeiro de 2019, por exemplo, as fibras chinesas circulavam no mercado acima dos US$ 7, porém os preços caíram para US$ 3 na pandemia.
Ao longo de 2022, os preços ficaram acima de US$ 4 e caíram a partir de setembro do ano passado.
Para os diretores da companhia, fatores como alto estoque das empresas asiáticas e os subsídios do governo da China explicam a diferença de preços.
Recentemente, países como EUA, México e França aplicaram medidas antidumping (elevando alíquotas) para proteger a indústria local, fazendo com que fabricantes chinesas corressem para mercados sem barreiras, como o brasileiro.
Nos últimos dois anos, a alíquota de importação no Brasil caiu de 14% para 9%. No México, que adotou posição inversa, a alíquota subiu para 35%.
“O que queremos é uma concorrência de forma correta. Se tivermos a diferenciação tributária que a maioria do mundo tem, vai nascer a necessidade de investimentos para aumentar a nossa produção de fibra óptica”, diz Emerson Tonon, CEO da Prysmian no Brasil.
CORRIDA EM BRASÍLIA
A companhia pleiteia no governo pedidos de defesa comercial (processo antidumping) e de elevação tarifária através da Lebit (lista de exceção de bens de informática e de telecomunicações).
Como mostrou o Painel S.A., em junho de 2023, Prysmian, Cablena e Furukawa —companhias que recebem fibras da Prysmian— denunciaram ao governo abusos da política de incentivos da China nas exportações de cabos ópticos entre 2021 e 2022.
Desde então, o governo instaurou procedimentos para averiguar a existência de subsídios e diversas reuniões foram realizadas nos ministérios de Ciência e Tecnologia e no da Indústria. Mas nada avançou.
Na semana passada, a companhia protocolou um novo processo antidumping contra as empresas chinesas na Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
Desta vez, além do pedido anterior contra os cabos ópticos, a empresa pediu investigação para a fibra, que é a matéria-prima principal.
“O país ficará refém da China em fibra óptica. Isso é totalmente contra a política do governo, que quer valorizar a indústria tecnológica nacional”, diz Inaiê Reis, diretora jurídica da companhia para a América Latina.
No mês passado, o deputado federal Vitor Lippi (PSDB-SP) entrou no circuito de pressão contra a política de subsídios chinesa e articulou reuniões com o secretário-executivo do Ministério da Indústria, Márcio Elias Rosa.
Lippi pede rapidez do governo. Isso porque, nos dois pedidos de antidumping dos cabos ópticos e contra os subsídios, ambos feitos em outubro de 2022, as investigações demoraram pelo menos sete meses só para serem iniciadas.
Em nota, o Ministério da Indústria disse que os pedidos de defesa comercial são resguardados por sigilo. “Por esse motivo, não divulgamos os pleitos em análise. A divulgação só ocorre nos casos em que as investigações são efetivamente iniciadas.”
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