Dirceu candidato divide PT entre defesa da reabilitação e medo de municiar bolsonarismo
De um lado, alguns integrantes da legenda afirmam que uma volta de Dirceu ao Congresso Nacional, mais de 20 anos depois da cassação de seu mandato durante o escândalo do mensalão, seria uma justa reabilitação a um quadro partidário ainda importante. De outro, há membros que avaliam que eventual volta aos holofotes trará junto temas como mensalão e petrolão.
O movimento ainda dependeria de Dirceu voltar a ser elegível.
A Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) julgou nesta terça-feira (21) extinta, por prescrição, uma ação contra Dirceu por corrupção passiva. Ele havia sido condenado no âmbito das investigações da Operação Lava Jato.
De acordo com a defesa do ex-chefe da Casa Civil no primeiro mandato do presidente Lula (PT), a decisão o deixa mais próximo de restabelecer seus direitos eleitorais pois restaria apenas a revogação da condenação decorrente de processo que tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça) —e que, por analogia à decisão do Supremo, também estaria prescrito.
“Fui cassado por razões políticas e sem provas. Sofri processos kafkianos. Seria justo voltar à Câmara. Mas só vou tomar essa decisão no próximo ano”, disse o ex-ministro, após a decisão. Na campanha de 2026, ele terá 80 anos.
Na avaliação de aliados do presidente Lula, a disputa de 2026 se prenuncia acirrada, assim como foi a de 2022, e a presença de Dirceu vai servir de munição para bolsonaristas. Apesar disso, esses mesmos petistas dizem duvidar de que, caso o ex-ministro decida mesmo se candidatar, alguém irá tentar demovê-lo.
A reabilitação de Dirceu também pode significar um rearranjo da correlação de forças dentro do PT, ameaçando a atual direção.
Recentemente, o petista defendeu publicamente a política econômica conduzida por Fernando Haddad (Fazenda) em resposta às críticas dentro do partido de Lula, entre elas as feitas pela presidente da legenda, Gleisi Hoffmann.
Ela não compareceu à festa de aniversário de Dirceu, em março. Nesta terça (21), Gleisi disse à Folha apoiar uma candidatura de Dirceu.
“Eu sei que o pessoal em São Paulo está discutindo a candidatura dele a deputado, e que precisava terminar esse processo todo contra ele. Eu acho que com isso, agora, libera”, afirmou ela. “Eu acho que é bom para o partido, é bom ter ele reabilitado na política, e bom para ele também, eu acho que ele tem essa vontade.”
Nas redes sociais, a petista disse que o STF deu fim hoje a uma grande injustiça cometida “pela farsa da Lava Jato” e completou: “Parabéns companheiro por esta vitória, que contempla sua luta em defesa da verdade e da Justiça”.
Não há registros recentes de fotografias de Lula ao lado de Dirceu. Na celebração do último aniversário do PT, os dois não chegaram a se encontrar, embora estivessem no mesmo espaço.
Dirceu não foi convidado para a área reservada a ele, amigos e ministros. Lula tinha acabado de deixar o salão quando Dirceu foi ao seu encontro.
Sobre o potencial eleitoral de Dirceu, os petistas lembram que o melhor desempenho dele ocorreu na eleição para deputado federal em 2002, quando o partido se dedicou à sua eleição.
Dirceu era coordenador da campanha de Lula à Presidência e os diretórios do PT de São Paulo foram orientados a trabalhar por sua candidatura, além do espaço destinado a ele no horário eleitoral.
Naquela eleição, ele foi o segundo deputado federal mais votado do país (556.768 votos, 2,84% do eleitorado paulista).
Integrantes do PT dizem temer ainda, além da exploração dos escândalos do mensalão e do petrolão, que uma volta de Dirceu ao Congresso fortaleça dentro do PT um grupo mais independente e crítico a Lula.
No aniversário do José Sarney, por exemplo, um deputado disse a Dirceu para “dar um jeito” no governo Lula. O ex-ministro respondeu que já estava se manifestando.
Fundador, presidente do PT e coordenador nacional da campanha quando Lula teve a sua primeira vitória na disputa ao Palácio do Planalto, em 2002, Dirceu formava, ao lado de Antonio Palocci (Fazenda), a dupla de “superministros” do primeiro mandato do petista.
Ele comandava o rolo compressor no Congresso Nacional para aprovar projetos de interesse do Executivo.
Acusado em 2005 por Roberto Jefferson (PTB-RJ) —também cassado— de chefiar o esquema do mensalão, ele deixou o cargo e, ainda naquele ano, foi cassado pelo plenário da Câmara dos Deputados por 293 votos a 192.
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