‘Engajamento pelo ódio’ faz PT e PL ampliarem base eleitoral; partidos de centro recuam
Os dados foram obtidos pelo Estadão a partir de informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foram comparados os meses de abril de 2020 e 2024, antes das respectivas eleições municipais. O prazo de filiação partidária para concorrer no pleito de outubro próximo se encerrou no dia 6 de abril. Nem todos os filiados, porém, apresentam pretensões eleitorais.
Pesquisas indicam que cerca de 70% das fichas assinadas nos últimos anos têm sido motivadas pelo engajamento nas atividades partidárias contra adversários políticos. O fenômeno, que ajuda a explicar o apelo a novas filiações partidárias mesmo em um cenário de desconfiança aos partidos tradicionais e à política em geral, tem sido chamado de “engajamento pelo ódio”.
Em números absolutos, o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro foram os que mais cresceram em quatro anos. O Partido dos Trabalhadores teve saldo positivo de 118.795 filiados (7,7%), superando a marca de 1,6 milhão. Os petistas tentam recuperar o desempenho dos primeiros anos de governo Lula depois de apresentar o pior desempenho em 16 anos em 2020, com 186 prefeitos eleitos, e perder em todas as capitais.
O Partido Liberal, que deu uma guinada à direita com a entrada de Bolsonaro e seus aliados meses antes das eleições gerais de 2022, ampliou sua base em 121.566 (15,8%) em quatro anos, chegando a quase 900 mil filiados. O partido elegeu 344 prefeitos e prefeitas em 2020. Em 2024, terá a maior fatia do fundo eleitoral, pouco mais de R$ 878 milhões, e deve levar às urnas ao menos 20 parlamentares que atuam no Congresso. Uma das estratégias para ganhar votos é justamente rivalizar com aliados de Lula e do PT.
Legendas de centro enfrentam redução
Alguns dos principais partidos considerados de “centro” em termos de
orientação ideológica enfrentam redução contínua no número de filiados. É
o caso do MDB, maior legenda do País, com mais de 2 milhões de
eleitores inscritos. O partido perdeu 78 mil filiados em quatro anos,
saldo negativo de 3,6%, mais acentuado do que a tendência geral, que é
de queda de 0,76%.
O MDB faz parte da base de Lula, comandando três ministérios, mas deve estar em palanque oposto em cidades como São Paulo, governada pelo emedebista Ricardo Nunes. O PT fechou apoio ao seu principal opositor, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).
Outro grande partido a perder filiados desde a eleição municipal passada é o União Brasil. A legenda, que uniu DEM e PSL e tem como estrela o senador Sérgio Moro, fechou abril com 359.390 filiados a menos do que a soma dos dois partidos em 2020 — queda de 24,6%, pior desempenho do levantamento. Uma explicação possível é o fato de Bolsonaro ter vencido as eleições de 2018 pelo PSL, mas depois ter abandonado a sigla em uma disputa de controle com o então presidente do partido, Luciano Bivar.
Há exceções na lista, como PSD e Republicanos, que têm atraído prefeitos em todo o Brasil. O partido de Gilberto Kassab (PSD) teve saldo positivo de 60.958 filiados no período, alta de 15%. O Republicanos, sigla ligada à Igreja Universal do Reino de Deus e que ainda conta com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, teve crescimento de 86.945 inscritos, cerca de 18%. Os partidos têm se mostrado competitivos em um cenário de crise do PSDB no Estado. Os tucanos amargam saldo negativo de 71.156 eleitores, o que representa queda de 5,16% em quatro anos.
Os maiores crescimentos percentuais foram em partidos ideológicos, de menor porte, como UP, PCO, PSOL, Rede e Novo. Eles são beneficiados por uma base de comparação menor do que as grandes legendas. O Novo conseguiu reverter a tendência de queda observada nos anos recentes ao aceitar o uso de recursos públicos em campanha e rodar o Brasil com o “embaixador” Deltan Dallagnol, deputado federal cassado que se notabilizou como procurador da força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba.
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