Entrevista – Angelo Coronel: “Rui será candidato a presidente e eu ao Senado ao lado de Wagner”
Embora tenha mudado o discurso e garanta agora que o PSD não vai encorpar o G10, apesar da presença de Ângelo Coronel Filho, filiado à sigla, o senador não descarta, nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, o crescimento do grupo. Ele admite ainda que o governo Jerônimo Rodrigues (PT) enfrenta problemas no relacionamento com a base na Assembleia e promete intervir como governista.
Na entrevista, Coronel garante ainda que será candidato à reeleição em 2026, mesmo que em um cenário com mais de dois postulantes da base governista. Para tirar o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), da disputa por uma cadeira ao Senado, o parlamentar defende, em alguns momentos de forma irônica, que o petista concorra à Presidência da República.
Ângelo Coronel também lança o senador Otto Alencar (PSD) como postulante ao comando do Senado e diz que pretende priorizar os municípios como relator do orçamento de 2025 da União. Confira a íntegra!
O Senado acabou aprovando, na semana passada, o projeto que incluía a taxação dos produtos importados de até US$50, batizado de “taxa das blusinhas”. Foi uma medida justa?
A minha posição é de que seja tributado porque a isenção tem prejudicado o parque fabril brasileiro, principalmente nas áreas têxtil, de calçados e de pequenos eletroeletrônicos. As empresas brasileiras que pagam impostos estão sendo rapinadas por essas empresas chinesas que vendem no Brasil, mesmo a um valor pequeno. É uma venda sem imposto e que vem prejudicando as indústrias e o comércio brasileiro.
Outra batalha na qual o senhor tem se empenhado é em defesa das causas municipalistas, a exemplo da desoneração da folha do INSS das prefeituras, que agora o governo quer compensar com uma medida polêmica que deve aumentar o preço dos combustíveis. O governo tem sido insensível com os municípios?
Olha, foi uma emenda de minha autoria essa desoneração da folha. Nós conseguimos emplacar já para 2024 e já não tem nenhuma tributação a mais do que 8% – antigamente, era 20%. Os prefeitos fingiam que pagavam, o governo fingia que recebia, e ficava nessa. Ficamos satisfeitos com a aprovação da emenda, num trabalho que fizemos juntos com a UPB (União dos Municípios da Bahia). O governo foi contra, mas conseguimos um acordo. Mas precisamos chegar a um acordo com o governo sobre 2025. Esperamos que o governo traga sugestões e que não venha contra a vontade dos prefeitos. As prefeituras precisam se viabilizar para cumprir com suas obrigações. Muitas vezes o prefeito deixa de investir, deixa de pagar em dia, porque é obrigado a manter o déficit dos programas federais que já estão aí há mais de 20 anos sem reajuste. Os prefeitos poderiam usar melhor suas receitas para pagar melhor funcionário, investir mais em saúde, educação, estradas vicinais. Então, a nossa luta é, além da desoneração da folha, fazer um encontro de contas entre as prefeituras e a União para ver quem está devendo a quem e, a partir daí, fazer um parcelamento indexado à receita corrente líquida dos municípios. Isso vai fortalecer o pacto federativo. Hoje, esse pacto está desequilibrado. Então, nós temos que agora correr atrás para equilibrar e deixar os municípios viáveis, porque tudo acontece nos municípios.
Uma das lutas do senhor no Senado é pela regularização dos jogos de azar no Brasil. Está avançando como acha que deveria?
Eu fui o relator do projeto da legalização das Bets, que invadiram os corações do povo brasileiro. Os estádios todos hoje têm propaganda de Bets, assim como os maiores clubes do Brasil. É um segmento responsável por gerar empregos, renda e mídia. São grandes patrocinadores. O que defendemos é que isso continue com regulamentação, com cobrança de impostos. Então, nós conseguimos emplacar o nosso relatório, que já foi aprovado. Eu estou achando, inclusive, que há uma morosidade muito grande por parte do governo. Eu não sei o que está havendo dentro da equipe econômica. Porque tem velocidade para umas coisas e parece uma carruagem antiga para outras. Isso representa R$5 bilhões de cara nos cofres da União.
O senhor foi escolhido como relator do orçamento da União de 2025, um cargo muito cobiçado e de muito poder e prestígio no Congresso Nacional. O que pretende fazer de diferente na peça orçamentária do ano que vem?
Olha bem: fui indicado para a relatoria praticamente por unanimidade entre todos os partidos, tanto na Câmara quanto no Senado. Nós vamos esperar primeiro a peça orçamentária chegar do governo federal para se debruçar e estudar ao máximo. Evidentemente, todo o Brasil sabe que eu sou um senador municipalista. Defendo os municípios e espero que, nesse orçamento, a gente possa realmente deixar as prefeituras com mais prestígio do que anteriormente. Como eu digo, se uma pessoa toma uma queda de um cavalo, cai de uma moto, se a mulher vai parir, ninguém procura o presidente, ninguém procura o ministro, ninguém procura o senador e nem governador: procura o prefeito, o vereador, que estão lá na base. Procura a liderança política. Então, nós temos que fortalecer as lideranças municipais, que são os principais tocadores do nosso Brasil. Precisamos adotar, no orçamento também, medidas com as quais a gente possa realmente, de fato, deixar os municípios brasileiros com uma satisfação que até então não tem havido, não como deveria.
“Eu estou trabalhando o nome de Otto para ser o próximo presidente do Senado para disputar a eleição com Davi Alcolumbre”
Em 2025 teremos eleição para a presidência do Senado. O que se diz é que o senador David Alcolumbre (União-AP) é o favorito para substituir Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Como o senhor analisa o cenário atual?
Tenho conversado muito com os colegas e temos a alternativa, a opção, do senador Otto Alencar (PSD). É uma pessoa que tem experiência aqui no Senado. Tem bom trânsito entre os colegas. Então, eu estou trabalhando o nome de Otto para ser o próximo presidente do Senado, para disputar a eleição com Davi Alcolumbre.
O senador Otto Alencar aceitou já essa missão? E esse movimento não poderia atrapalhar os planos do deputado federal Antonio Brito, líder do seu partido na Câmara, de disputar a sucessão naquela Casa?
Otto está inclinado a aceitar. Ele aceitando, vamos entrar em campo com vários colegas para uma atuação nos bastidores. Na Câmara, é uma outra Casa. Não atrapalharia porque já tivemos o caso do União Brasil, que comandou recentemente a Câmara e o Senado. Aliás, eles estão tentando de novo, com o próprio Alcolumbre e com o líder deles na Câmara, o deputado Elmar Nascimento. Alcolumbre, do União Brasil, já foi presidente do Senado enquanto o (ex-deputado) Rodrigo Maia comandava a Câmara. Por que não pode acontecer com o PSD?
Elmar é favorito na Câmara?
É uma Casa diferente, não sei. O que ouço falar é que ele é o preferido do atual presidente, o deputado Arthur Lira (PP-AL). Mas não tenho informações reais. Sei que vai ser muito disputado. Elmar e Antonio Brito são dois baianos e amigos que eu tenho na vida pública. Então, que ganhe o melhor.
O presidente Lula (PT) tem emitido sinais de que pode tentar a reeleição em 2026. O senhor considera isso positivo?
É uma pergunta difícil para responder: qual seria o candidato ideal em 2026? Eu acho que tem que ser um nordestino. Se for baiano, não tenho dúvidas de que eu escolheria o nome do ministro Rui Costa (Casa Civil, do PT). Lula é de Pernambuco, mas militou muito tempo em São Paulo. E o Rui foi um governador que foi muito bem avaliado. Foi um tocador de obras. Apesar do seu estilo durão, isso não quer dizer nada. O importante é que seja alguém também que mantenha uma boa relação com o Congresso. O governo Lula ainda não encontrou o caminho da pacificação do Congresso.
Mas Rui Costa costuma ser criticado por alguns congressistas justamente porque não teria uma boa relação com os parlamentares…
Olha, a gente ouve essas críticas por parte dos deputados federais em relação a Rui Costa. Mas quem conhece ele sabe que aquele é o estilo dele e termina até gostando dele. Eu torço que ele venha a ser, seja viabilizado, para ser o próximo presidente do Brasil.
Na semana passada, o senhor assumiu a liderança de um novo bloco informal na Assembleia Legislativa, formado por dez deputados, incluindo seu filho, Ângelo Coronel Filho (PSD), e batizado de G10. É um movimento para pressionar o governo e também para fortalecer o seu nome para a reeleição em 2026?
Esse grupo tentou se reunir comigo umas duas vezes antes. O desejo deles é que eu assuma a liderança do grupo, que foi apelidado de G10. Só que o G10 pode ganhar em breve mais cinco deputados que estão querendo vir. Ou seja, pode ficar G15. Mas eu disse que cada um fique onde está porque não gosto de nada inchado. Eu gosto de estar com as pessoas realmente. Mas, veja, não é um bloco de oposição ao governo do Estado. É um bloco que tem realmente a sua independência, mas são deputados que, até então, reclamavam que não tinham o tratamento que mereciam por parte do governo. Espero que o governo atenda os pleitos deles. Aliás, não só deles, mas de todos os deputados da base na Assembleia. O governo Jerônimo (Rodrigues) tem que realmente abrir mais para atender porque são os deputados que estão no dia a dia na base, que sabem quais são as lutas dos municípios. Então, eu estou para tentar orientá-los. Esse grupo já vem votando com o governo e merece ter um tratamento melhor. Sobre 2026, pretendo ser candidato à reeleição e quanto mais apoios eu tiver, melhor, não é?
Vamos falar de 2026 mais adiante. O senhor acha que o governo Jerônimo tem pecado nessa questão do atendimento e do relacionamento com os deputados estaduais?
Sim. Não há uma frequência no atendimento. Muitas vezes os deputados querem levar os seus prefeitos, que clamam por uma audiência com o governador, até pra tirar uma foto. Muitas vezes o cara não vai nem pedir nada, quer só fazer uma selfie com Jerônimo. Então, a gente ouve que tem essa insatisfação. Aí surgiu o interesse desse grupo de deputados de que eu fosse o porta-voz deles junto ao governo. Mas esse grupo está para somar, é da base. Agora somar também é com contrapartida. Tem que ser um tratamento de mão dupla. Não pode ser mão única, tem que ter a ida e a volta.
“Espero ser porta-voz para que esses deputados cheguem a ele com satisfação e que ele também os atenda com satisfação, carinho e amor”
O grupo pode de fato crescer para 20, com a entrada de parlamentares do seu partido, o PSD?
Não esperamos isso. Esse movimento não tem nada a ver com o PSD. Tanto que tem deputados do PSD que queriam até vir fazer parte, mas está muito claro que o PSD fica lá separado e não faz parte do G10. Gosto muito de Jerônimo, é uma pessoa com quem tenho amizade antes mesmo de ele ser governador. Espero ser porta-voz para que esses deputados cheguem a ele com satisfação e que ele também os atenda com satisfação, carinho e amor.
Em 2022, o senhor foi criticado por alguns aliados por ficar ausente da campanha vitoriosa de Jerônimo. Isso afetou de alguma forma sua relação com ele?
Não sou de ficar em palanque batendo palma. Eu tenho um estilo diferente de fazer política. Eu não sou de ficar toda hora correndo atrás e olhando para a cara do governador. Temos uma relação boa, mas não fico puxando saco, tomando tempo. Quando eu quero alguma coisa, quando tenho alguma demanda, pego o telefone e ligo. Não fico nesse negócio de marcar audiência, jogando conversa fora. Tenho outras atividades fora da política que ocupam tempo também. Eu posso não ter participado efetivamente (da campanha de 2022), como realmente não participei do dia a dia, mas tive dois filhos que se elegeram muito bem votados que participaram da campanha (de Jerônimo) praticamente todos os dias, em todos os momentos. Então, a família Coronel tem isso, quando um não vai, tem um representante lá. Quando eu não posso, o (deputado estadual) Ângelo Coronel Filho vai, ou o (deputado federal) Diego Coronel vai. Graças a Deus somos três para isso.
E nas eleições deste ano na capital e no interior, o senhor vai adotar o mesmo comportamento?
Estamos com o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) em Salvador. Mas não sou de ficar no dia a dia, nem inaugurando obras. Tenho conversado diariamente com amigos, prefeitos, com lideranças, com amigos, mas não sou de viajar para ficar em festa. Meu estilo de trabalho é totalmente diferente. Talvez até por isso que eu conquistei sete mandatos de deputado (estadual), fui presidente da Assembleia e agora senador. Se meu estilo fosse ruim, eu não chegaria onde estou, não tinha ampliado o meu leque na política. Não gosto de ficar em comício, em festa, em inauguração. Eu prefiro ajudar os prefeitos de maneira diferente, da maneira que os prefeitos gostam de serem ajudados: com trabalho e não tapinha nas costas e sorriso só. Sou do estilo mais efetivo, garantindo recursos, articulando para que os municípios possam crescer.
Em 2026 teremos eleições estaduais e gerais, com duas vagas para o Senado em jogo. O senador Jaques Wagner (PT) se antecipou e já disse que uma é dele. Afirmou, ainda, que a candidatura à reeleição de Jerônimo está assegurada. Como o senhor pretende assegurar a outra vaga para a Casa Alta do Congresso, sobretudo se o ministro Rui Costa, que o senhor quer ver presidente, decidir concorrer?
Eu já disse que também pretendo disputar o Senado pelo PSD. No partido, junto ao senador Otto Alencar, presidente do PSD (na Bahia), é praticamente unanimidade a manutenção do nosso nome. Para mim, inclusive, será um prazer disputar novamente o Senado ao lado de Wagner, por ser uma pessoa muito carismática, que me ajudou na campanha (de 2018). Preciso de alguém com mais experiência para me ajudar. Quanto à candidatura de Rui, já disse que defendo que ele seja candidato a presidente (risos). Rui será candidato à Presidência e eu ao Senado ao lado de Wagner. Porque o ex-governador é um bom tocador de obras, é um gestor.
O senhor cogita mudar de partido para concorrer ao Senado em 2026, se isso facilitar o caminho?
Não, eu sou fundador do PSD e pretendo continuar no PSD enquanto eu estiver na vida pública. Não há projeto de mudança em hipótese alguma, apesar de ter recebido convites, de ter amizades com vários presidentes de partido.
“Agora eu sou defensor daquela tese: por mim, poderia cada partido lançar o seu candidato a senador. Não teve nenhum problema nisso. Já tivemos eleições com três, quatro candidatos da base”
O senhor também descarta fazer um movimento semelhante ao do hoje deputado federal João Leão (PP), que mudou de lado em 2022 para concorrer ao Senado, embora tenha desistido antes do início oficial da campanha?
Não existe. Agora, eu sou defensor daquela tese: por mim, poderia cada partido lançar o seu candidato a senador. Não tem nenhum problema nisso. Já tivemos eleições com três, quatro candidatos da base. Qual o problema? Não tem a obrigação de decidir quem será candidato quem está no comando. Eu tenho direito à reeleição, direito institucional, como Wagner tem. Mas se os outros partidos da base quiserem lançar seus candidatos, eu não sou contra. Se Rui quiser ser candidato, não sou contra nada disso.
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