PT escolhe candidato vindo da direita e constrange militância, diz site
A legenda já governa o estado há cinco mandatos consecutivos e a cidade tem sido responsável por votações expressivas para as campanhas nacionais petistas. Contudo, quando se trata do executivo municipal, a sensação é que o PT só entra para marcar espaço, sem apresentar candidaturas com reais chances de vitória.
O principal partido da esquerda brasileira nunca comandou a Prefeitura de Salvador, terceiro maior colégio eleitoral do Brasil.
Neste ano, para enfrentar o atual prefeito Bruno Reis (União Brasil) em sua tentativa à reeleição, o escolhido foi o vice-governador do estado, Geraldo Junior (MDB), que até pouco tempo integrava a fileira do grupo oposto, que comanda a cidade há 12 anos e tem como líder o ex-prefeito ACM Neto.
Vereador de Salvador por três mandatos, Geraldo Junior foi presidente da Câmara Municipal e chegou a ocupar o cargo de secretário Municipal de Trabalho, Esporte e Lazer da gestão de ACM Neto, sendo um dos cotados a suceder o cacique na prefeitura.
O escolhido, no entanto, foi Bruno Reis que venceu a eleição de 2020, enquanto Geraldinho, como é conhecido, continuou no poder legislativo municipal defendendo os projetos do prefeito. Até que, em 2022, a cúpula do PT baiano foi buscar o apoio dos irmãos Vieira Lima, Geddel e Lúcio, que comandam o MDB no estado e eis que Geraldinho é indicado a vice na chapa com Jerônimo Rodrigues, trocando totalmente de lado político.
Apesar de ser um bom comunicador e ter liderança em áreas da cidade, pesam contra Geraldinho a falta de coerência partidária e a ligação estreita com um político que teve a trajetória manchada pela condenação de lavagem de dinheiro e associação criminosa. O ex-ministro de Lula foi envolvido no escândalo das malas com R$ 51 milhões encontrados em um apartamento em Salvador.
Assim, o PT entra na disputa eleitoral sem poder contar com o fôlego de um dos seus maiores trunfos de campanha: a militância de base do partido.
Candidato tem imagem associada à direita
Em sabatina realizada pelo UOL e pela Folha nesta quinta-feira, 20, o
pré-candidato do PSOLl à Prefeitura de Salvador, Kleber Rosa, chamou
atenção para o fato de Geraldo Junior ser mais identificado com a
direita, fato que gerou insatisfação das bases sociais petistas.
“Onde estava Geraldo Júnior em 2016, quando houve o golpe contra a Dilma? Onde estava o MDB, onde estava Geddel Vieira Lima? Onde estava o seu grupo político? Estava arquitetando o golpe ao lado do [ex-deputado federal] Eduardo Cunha e do [ex-presidente] Michel Temer. Tanto que depois conquistaram, inclusive, ministérios no governo de Temer. Onde estava Geraldo Júnior e o MDB em 2018 quando todo o campo progressista desse país, quando todas as esquerdas e as pessoas comprometidas com a democracia estavam lutando para não permitir que [o ex-presidente] Jair Bolsonaro ganhasse a eleição?”, questionou Kleber Rosa durante a sabatina do UOL.
Kleber inclusive já se reuniu com militantes do PT dispostos a não seguirem a orientação de voto do partido.
“A biografia do candidato [Geraldo Junior] fala por si. Ele é coautor dessa cidade excludente que é Salvador, a capital do desemprego e da violência, onde tem um número gigante de pessoas em situação de extrema pobreza, de analfabetismo. Tudo isso é o produto dessa gestão dos últimos 12 anos que pensou numa cidade para os negócios, para os seus aliados e de costa para a maioria da população. E o candidato que o governo apresenta é um candidato absolutamente associado a esse modelo de cidade”, disse Kleber Rosa.
Com essa avaliação, o psolista entende não haver polarização entre Bruno Reis e Geraldo Junior já que, para ele, ambos estão do mesmo lado.
“Reivindicamos a legitimidade da representação do campo democrático-popular, do campo da esquerda, do campo dos movimentos sociais”, disse Rosa.
Não é a primeira vez que a escolha da cúpula do PT para a disputa em Salvador não empolga a militância do partido.
Em 2020, houve todo um debate no país, em especial em Salvador, por representatividade nas eleições. Era a primeira eleição após o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco e a resposta exigida pelos movimentos sociais era a maior presença de mulheres negras na disputa. Nada mais óbvio ainda em uma cidade de maioria negra e feminina como Salvador.
Depois de muitas disputas internas e de nomes serem apresentados pelas tendências do partido, os dirigentes do PT não foram convencidos daquele apelo popular e preferiram buscar fora dos seus quadros partidários uma candidata.
Em 2020, a militância ficou constrangida em fazer campanha para uma candidata sem trajetória no partido e nos movimentos de base e ainda por cima, que representava uma instituição que historicamente exerce violência contra a cidadania de pessoas pobres e negras, a Polícia Militar da Bahia.
O resultado foi a vitória de Bruno Reis no primeiro turno com 64,20% de votos válidos, o maior percentual entre todas as capitais do Brasil.
Capital da resistência com gestões de direita
O mesmo ocorreu com ACM Neto que venceu a disputa de 2016, ainda no
primeiro turno, com 73,99% dos votos contra a candidata Alice Portugal
do PCdoB, apoiada pelo PT baiano, que indicou a vice na chapa.
Foi o pior desempenho do partido pois, nos anos anteriores, ao menos conseguiu levar a disputa para o segundo turno, mesmo com candidato pouco expressivos, mas que tinham vindo das bases partidárias.
A situação ainda era pior quando o governador e maior cabo eleitoral do partido resolvia apoiar diversos candidatos da base, confundindo os eleitores e dividindo os votos, estratégia que só favoreceu às vitórias consecutivas do grupo liderado por ACM Neto.
Agora, a aposta em alguém que fez oposição à política petista parece indicar o mesmo fracasso e o atual prefeito de Salvador já desfila sorridente como favorito.
Se nenhum fato extraordinário acontecer até outubro, Salvador, conhecida como a capital da resistência, reduto dos votos lulistas e de políticos nacionais petistas como Jaques Wagner e Rui Costa, continuará nas mãos do grupo formado pelos partidos que ainda dão vida ao projeto bolsonarista, entre eles o PL, fiel escudeiro de Bruno Reis.
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