Zelenski volta a criticar Brasil e cobra posição de ‘país civilizado’
Zelenski aproveitou o saldo da conferência sobre a guerra iniciada por Vladimir Putin em 2022, realizada neste fim de semana na Suíça, para estocar o governo brasileiro, que enviou apenas sua embaixadora no país alpino como observadora do evento.
“Assim que o Brasil e a China aderirem ao princípios de todos nós aqui, países civilizados, nós ficaremos felizes em ouvir suas opiniões, mesmo que elas não coincidam com a da maioria do mundo”, afirmou Zelenski em entrevista coletiva.
Chineses e brasileiros haviam concordado, antes da reunião, em propor conjuntamente uma cúpula que envolvesse tanto ucranianos quanto russos, uma precondição lógica dado que o conflito não é unilateral. Ainda assim, o Itamaraty aceitou enviar a embaixadora em um gesto de boa vontade.
A China, nem isso, não tendo enviado ninguém para o resort às margens do lago Lucerna. A ditadura de Pequim é a principal aliada de Putin, sendo acusada pelo Ocidente de estar ajudando a indústria militar russa com a exporta ção de material de uso dual, civil e bélico, e com a manutenção de laços econômicos.
Não é a primeira, nem a segunda vez que Zelenski se queixa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente, ainda na campanha eleitoral de 2022, já irritara Kiev ao dizer que os ucranianos eram tão responsáveis pela guerra quanto os russos.
No poder, Lula buscou trazer a questão para si, mas o voluntarismo sem a necessária musculatura geopolítica resultou num vexame, com Ucrânia, Estados Unidos e seus aliados criticando a posição brasileira.
Depois, o petista adotou um discurso mais equidistante, mas a manutenção dos bons laços com a Rússia, que tornou-se o principal fornecedor de óleo diesel do Brasil e já era dominante no mercado de fertilizantes vitais para o agronegócio, acabou turvando sua imagem de neutralidade.
Em três entrevistas concedidas à Folha e outros veículos latino-americanos desde o início da guerra, Zelenski foi crítico ao Brasil. Na primeira, em 2023, ele adotou a ironia. Nas duas mais recentes, neste ano, endureceu. No fim de maio, por exemplo, questionou por que o Brasil “estava ao lado do agressor”.
O Itamaraty dá de ombros. Diplomatas reconhecem a necessidade de denunciar a guerra, como de resto o Brasil fez ao condenar a invasão em duas votações sobre o tema na ONU, mas afirmam que a posição considerada arrogante de Zelenski e sua inflexibilidade alimentada pelo apoio ocidental dificultam a conversa.
Na cúpula, além do Brasil, que não iria votar de todo modo, boicotaram o comunicado final países associados ao que se convencionou chamar de Sul Global, nome impreciso para o bloco amorfo de nações que não são automaticamente ligadas aos EUA ou à China, polos da disputa global hoje. A Índia foi o destaque na rejeição, por seu peso geopolítico.
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