Após chamar Zelensky de Putin, Biden confunde Kamala com Trump

O presidente Joe Biden confundiu o nome da vice-presidente, Kamala Harris, com o adversário Donald Trump em uma entrevista coletiva a jornalistas nesta quinta (11). A confusão ocorreu quando ele respondia à primeira pergunta que recebeu, sobre como ele avaliaria o desempenho da companheira de chapa na hipótese de ela se tornar a candidata à Presidência.

“Eu não teria escolhido o vice-presidente Trump para ser vice-presidente se não acreditasse que ele fosse qualificado para ser presidente”, disse, quando na verdade se referia a Kamala.

Logo antes da coletiva, o presidente cometeu uma gafe semelhante, introduzindo o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, como “Putin” durante o encerramento da cúpula da Otan. Nesse caso, porém, ele se corrigiu rapidamente, mas a cena já correu o noticiário dos principais jornais americanos.

Questionado sobre a troca de nomes dos presidentes em guerra, Biden deu risada e afirmou que ele se corrigiu rapidamente e que em seguida citou outros cinco nomes corretamente.

“Você viu algum dano à nossa reputação por eu estar liderando esta conferência [da Otan]? Você viu alguma conferência mais bem-sucedida? O que você acha?”, respondeu o presidente ao repórter, em tom confrontativo.

A coletiva, que acontece agora, é um momento raro de interação do presidente com a imprensa, e está sendo alvo de amplo escrutínio após o debate desastroso no mês passado colocar em dúvida sua capacidade cognitiva e física de exercer um novo mandato.

“Eu não estou fazendo isso pelo meu legado, estou fazendo para terminar o trabalho que comecei”, disse Biden. “Eu acho que sou a pessoa mais qualificada para concorrer à Presidência. Eu ganhei dele uma vez e vou ganhar de novo.”

Biden adotou uma postura mais incisiva, na tentativa de demonstrar força e recuperar sua imagem. Ainda assim, ele cometeu alguns deslizes, demonstrando dificuldade para formular algumas frases e trocando palavras, mas nada comparável ao desastre observado no debate contra Trump no mês passado.

O democrata voltou a culpar sua agenda cheia nas últimas semanas, com viagens a Europa para o encontro do G7 e eventos de campanha pelo país, pelo cansaço que teria contribuído para seu mal desempenho em Atlanta.

O presidente ainda aproveitou o início do discurso para defender o que vê como conquistas de seu mandato, destacando o fortalecimento da Otan e o apoio dos EUA a aliados, a inflação desacelerando, conforme dados divulgados na manhã desta quinta, e a costura de um acordo para encerrar o conflito entre Israel e Hamas em Gaza.

Tossindo um pouco, como no debate, o presidente acusou seu “predecessor”, sem citar Trump, de não estar comprometido com a Otan. Questionado sobre o temor entre aliados do que um retorno do empresário significaria, Biden disse que não ouviu de líderes europeus pedidos para desistir, mas sim que tem que vencer.

Até agora, 14 deputados e um senador fizeram um apelo para que o presidente saia da disputa —cerca de metade das declarações foram feitas nas últimas 24 horas. Só nesta quinta, somaram-se à lista os deputados Hillary Scholten, Brad Schneider, Greg Stanton, Ed Case e Marie Gluesenkamp Perez.

A expectativa é que o ritmo acelere ainda mais após o fim da cúpula da Otan, que ocorre em Washington até esta quinta. Por respeito ao evento e ao tema de segurança nacional, muitos preferiram permanecer em silêncio nos últimos dias.

Além do temor de o partido perder a Casa Branca para Donald Trump em novembro, pesam no cálculo de deputados e senadores sua própria sobrevivência. O raciocínio é que um candidato fraco à Presidência contamina todos os nomes do partido abaixo dele na cédula.

“Eu entendo por que o presidente Biden quer concorrer. Ele nos salvou de Donald Trump uma vez e quer fazer isso novamente. Mas ele precisa reavaliar se é o melhor candidato para isso. Na minha opinião, ele não é. Pelo bem do país, estou pedindo ao presidente Biden que se retire da corrida”, escreveu Peter Welch, o primeiro senador a defender a saída do presidente da corrida, em artigo publicado no Washington Post.

O texto foi ao ar poucas horas depois de George Clooney, um importante apoiador democrata, fazer pedido semelhante em um artigo publicado no New York Times. O ator participou no mês passado de um evento de arrecadação de fundos para a campanha que levantou US$ 28 milhões.

“É devastador dizer isso, mas o Joe Biden com quem estive há três semanas no evento de arrecadação de fundos não era o Joe Biden do ‘isso é do c.’ de 2010 [elogio feito ao ex-presidente Barack Obama ao promulgar a reforma do sistema de saúde]. Ele nem era o Joe Biden de 2020. Ele era o mesmo homem que todos testemunhamos no debate”, escreveu Clooney.

As declarações seguiram uma entrevista dada pela ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, uma das principais lideranças do partido, em que ela afirmou que o tempo para o presidente tomar uma decisão sobre sua candidatura está acabando —algo que foi lido nas entrelinhas como um pedido para ele repensar sua continuidade na corrida.

Outro senador do partido, o representante do Colorado Michael Bennet, não pediu explicitamente a desistência do presidente, mas afirmou que teme uma derrota de lavada em novembro.

Segundo o New York Times, a campanha de Biden encomendou uma pesquisa de intenção de voto simulando o nome da vice-presidente, Kamala Harris, no lugar de Biden. Não está clara, porém, o que motivou essa decisão –se servir de argumento contra ou a favor da continuidade do presidente na corrida.

A campanha democrata já havia antecipado que essa semana seria sensível, com o retorno de congressistas a Washington após o feriado de 4 de julho e a retomada das articulações partidárias. Por isso, Biden partiu para o ataque na segunda e enviou uma carta à sua base para dar a um basta nas especulações sobre sua substituição.

Na terça, as bancadas democratas na Câmara e no Senado tiveram reuniões a portas fechadas separadamente. Congressistas não esconderam suas frustrações com o presidente, mas a mensagem oficial após os encontros foi de apoio ao mandatário, o que deu um alívio momentâneo à Casa Branca.

As novas defecções nesta quarta, porém, mostram que a turbulência está longe de ter sido superada.

Seguindo a estratégia de expor mais o presidente publicamente, para que ele prove ser capaz de cumprir a função sem o auxílio de assessores ou teleprompters, a campanha anunciou uma nova entrevista a um canal de TV, a rede NBC, para a segunda-feira (15), a segunda em duas semanas.

Fernanda Perrin/Folhapress

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