Caixa rebaixa diretores contrários a investimento em banco de citado em delação
O negócio envolveria a compra de R$ 500 milhões em letras financeiras (um título de dívida) do Banco Master, de propriedade de Mauricio Quadrado.
Leonardo Silva, Mariangela Fraga e Daniel Gracio eram gerentes nacionais na Caixa Asset até o início desta semana. Na sexta (5) os três se posicionaram contra o negócio. Na segunda (8), foram destituídos do cargo.
Entre as razões para se oporem a operação está o risco reputacional para o banco público.
Isso porque Quadrado foi citado em delação premiada do ex-superintendente nacional da Caixa, Roberto Madoglio, por ter supostamente pago propina para viabilizar uma operação do FI-FGTS, fundo de investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço gerido pela Caixa. Com a delação, Madoglio devolveu R$ 39,2 milhões aos cofres públicos.
No relatório dos três gestores, ao qual a Folha teve acesso, eles criticam a área de Gestão de Risco da Caixa Asset por deixar de fora essa informação em seu relatório.
A Caixa afirmou que a Caixa Asset “tem total autonomia e governança para suas tomadas de decisão”.
A Caixa Asset por sua vez disse que “analisa as oportunidades de alocação, buscando alinhar a estratégia de alocação dos fundos aos seus pares, pautando-se pelas práticas de mercado”.
A instituição também afirmou que realiza periodicamente uma avaliação do time de gestores. “Não faz parte da política da empresa nenhum tipo de retaliação, sendo que as substituições se dão com critério exclusivamente profissional”, apontou.
“A Caixa Asset informa, ainda, que as operações em negociação são sigilosas e ocorrem de acordo com a estratégia da empresa”, concluiu.
Procurado, o Banco Master afirmou que ” diversos investidores têm adquirido e continuam a adquirir letras financeiras emitidas pela instituição em condições similares às mencionadas”.
“Essas aquisições demonstram a confiança e a atratividade dos produtos financeiros do banco no mercado. O banco realiza periodicamente reuniões com seus investidores para discutir propostas e operações, uma prática comum em qualquer instituição financeira”, acrescentou.
“Por fim, as alegações contra os executivos citados são inverídicas e os eventos mencionados não possuem qualquer relação com as operações do banco”, concluiu.
Além do risco reputacional, os três técnicos se posicionaram contra a operação por conta da capacidade de pagamento do Banco Master e da atipicidade da operação
A operação envolve a aquisição da letra financeira pela Caixa, que seria paga em 10 anos. O volume do negócio, de R$ 500 milhões, deixaria a subsidiária do banco público como a maior credora da instituição, já que só outros R$ 40 milhões de dívida estão nas mãos de companhias que não fazem parte do grupo Master.
“O Banco Master tem trabalhado no limite quanto aos enquadramentos de Basiléia [regras internacionais para garantir a solvência de instituições financeiras], o que remete a um alto risco e solvência para a instituição”, diz o relatório.
“É fundamental que antes de qualquer perspectiva de aplicação de recursos, o banco demonstra real capacidade de operar com ganhos consistentes de qualidade”, prosseguiu.
Outro ponto destacado no relatório dos técnicos é que empresas do porte da Caixa Asset “não operam com o Banco Master, somente casas menores”.
A análise também se posiciona contra o prazo de dez anos para pagamento, considerado “altamente arriscado e atípico no mercado” por ser longo demais diante do risco envolvendo o Banco Master.
“Tal decisão certamente chamaria a atenção de todo o mercado e dos investidores, uma vez que as carteiras dos fundos são públicas e tal operação vai contra a prática comum de mitigação de riscos”
Outro problema levantado pelos três gestores é que a letra financeira teria pouca atratividade no mercado secundário. Com isso, a Asset não conseguiria revender no mercado os papéis, sendo obrigada a mante-los em carteira até o seu pagamento final.
O relatório aponta também que diante do perfil de risco da caixa Asset permite a alocação de R$ 550,6 milhões ao todo em papéis como o do Banco Master. Assim, a operação sozinha consumiria 91% de todo o limite da instituição.
Sarmento foi aprovado para o cargo pelo Conselho de Administração da Caixa em dezembro de 2023.
Seu nome foi escolhido após o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), vencer a queda de braço com o governo para a escolha do presidente da Caixa. Em novembro do ano passado, o presidente Lula nomeou Carlos Antônio Vieira Fernandes para o cargo, uma indicação de Lira.
Com a troca, vieram substituições em outros postos dentro do banco público, entre elas a de presidente da Caixa Asset.
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