Dia de protestos nas ruas contra primeira-ministra deixa 91 pessoas mortas em Bangladesh
Polícia usa gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes estudantis em Bogra, Bangladesh |
De acordo com relatos policiais e médicos, pelo menos 91 pessoas morreram em confrontos entre manifestantes e apoiadores do governo em um dia, incluindo 13 policiais. Ao menos 280 pessoas morreram na onda de protestos desde julho.
A praça central de Shahbagh, em Daca, ficou lotada com milhares de pessoas, muitas armadas com paus. Assim como vários outros pontos da cidade, o local virou palco de combates, segundo a polícia. “Houve confrontos entre estudantes e homens do partido no poder”, disse o inspetor de polícia Al Helal à agência de notícias AFP.
Em vários casos, os soldados e a polícia não intervieram para conter os protestos, diferentemente da postura adotada no mês passado, que resultou em repressões mortais. A mudança pode ser um sinal da falta de apoio a Hasina.
Também neste domingo, um respeitado ex-chefe do Exército exigiu que o governo retirasse as tropas e permitisse os protestos.
“Pedimos ao governo em exercício que retire imediatamente as Forças Armadas das ruas”, disse Ikbal Karim Bhuiyan em uma declaração conjunta com outros ex-membros de alto escalão, condenando “assassinatos atrozes, torturas, desaparecimentos e detenções em massa”.
Segundo um porta-voz da polícia, Kamrul Ahsan, entre os mortos neste domingo estão 14 agentes. A polícia afirmou que manifestantes invadiram uma delegacia na cidade de Enayetpur, no nordeste de Bangladesh.
Jornalistas da agência de notícias AFP afirmaram que, ao anoitecer, era possível ouvir diversos tiros enquanto os manifestantes desafiavam o toque de recolher imposto em todo o país. O acesso à internet móvel continua limitado.
Os protestos começaram após a população se revoltar contra o sistema que reserva vagas no serviço público para familiares de pessoas que lutaram pela independência do país, em 1971. O sistema de cotas havia sido abolido em 2018, quando Hasina já estava no poder, mas um tribunal inferior o retomou no mês passado, fixando as cotas em 56% e iniciando a onda de protestos.
Após as manifestações, a Suprema Corte do país determinou, no final de julho, que 93% dos empregos públicos de Bangladesh deveriam ser abertos a candidatos por mérito, 5% das vagas se destinariam às famílias dos combatentes, e os 2% restantes atenderiam pessoas com deficiência e outros grupos.
O recuo, porém, não foi suficiente para acalmar a população, que voltou a protestar neste mês e transformou as manifestações nos piores distúrbios enfrentados por Hasina em seus 15 anos no poder.
“A questão já não são as cotas de emprego”, afirmou Sakhawat, uma jovem manifestante que chamou Hasina de “assassina”. “O que queremos é que nossa próxima geração possa viver livremente no país”, acrescentou.
Hasina, 76, lidera Bangladesh desde 2009 e venceu suas quartas eleições consecutivas em janeiro, em eleições sem uma oposição real. Grupos de direitos humanos acusam seu governo de usar indevidamente as instituições do Estado para se consolidar no poder e acabar com a oposição, inclusive por meio de execuções extrajudiciais.
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