Saiba o que levou Rui à convenção que oficializou o candidato do governo em Salvador, por Raul Monteiro*

Um telefonema, cujo tom ninguém sabe ao certo qual foi, dissuadiu o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), de, cumprindo promessa que fizera já com relativa antecedência, boicotar a convenção em que o candidato do governo à Prefeitura de Salvador, Geraldo Jr. (MDB), teve seu nome oficializado, no último domingo. Ele teria sido disparado pelo senador Jaques Wagner (PT) para o correligionário e a segunda informação que se tem sobre a conversa é de que não foi longa, mas suficientemente clara para que Rui, quase de supetão, resolvesse aparecer no evento momentos antes de o candidato encerrá-la com um discurso.

O cuidado com que o senador e o ministro tratam seus diálogos é conhecido. Aumentou depois que divergências começaram a interferir na relação dos dois e ambos se viram no centro de escaramuças no PT e no governo de Jerônimo Rodrigues (PT) cujo alcance e profundidade, na verdade, só eles sabem mensurar. Sobre o argumento que Wagner teria usado para convencer Rui a comparecer à convenção, no entanto, surgiram especulações que vale a pena explorar. A mais forte delas dá conta de que o senador obrigou o ministro a entrar numa espécie de túnel do tempo para lembrar que sua candidatura, no início, também fora alvo de descrédito.

Até uma frase teria sido atribuída a Wagner na ligação para Rui: – quando seu carvão estava molhado, quem abanou fui eu! Sem desconsiderar o tom apelativo da declaração, além de seu caráter injusto com ele próprio, uma vez que não dá para comparar o processo que levou Wagner a escolhê-lo como sucessor, em 2014, e o de sua escolha por Geraldo Jr. como candidato do grupo governista agora, o ministro conseguiu rapidamente entender a importância de sua presença no evento para Wagner, esqueceu a irritação com o fato de o senador ter desconsiderado que ele tinha um candidato a prefeito considerado melhor do que Geraldo Jr., e seguiu para a festa.

Como a aparição estava desprogramada, até o governador buscou justificar, na chegada para a convenção, a ausência de Rui do evento, alegando que sua agenda pessoal tornara difícil seu comparecimento. De fato, como fez questão de destacar ao discursar, o dia era importante para o ministro por um outro motivo. Logo cedo, num café da manhã, ele comemorara o aniversário da esposa, Aline Peixoto, conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Mas há quem diga que Rui, que acha uma temeridade a candidatura de Geraldo Jr. em Salvador, uma cidade que sonha em algum dia governar, teria marchado até lá por esperteza.

Atendendo a um apelo de Wagner pelo emedebista, que ele sabe que não vai a lugar algum, o ministro deixou de aceitar outro muito mais importante para o senador. No PT, se diz que Wagner vive corroído por dentro desde que o ministro deu uma declaração a uma rádio, em março passado, insinuando que avaliaria concorrer de novo ao governo do Estado, desbancando a candidatura natural à reeleição de Jerônimo. Por isso, viria pressionando Rui a dizer que sairá candidato ao Senado, compromisso que o ministro não assume de forma clara. Foi por esta razão que Wagner declarou, em maio, que só havia dois nomes definidos na chapa de 2026: o dele e o de Jerônimo.

*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na Tribuna de hoje.

Raul Monteiro*

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