Doação de órgãos: um ato de solidariedade que transforma vidas
A jovem Ellen Gabrielle dos Santos, de 14 anos, e o pequeno Iago Gama,
de apenas sete anos, têm em comum a rotina de cuidados com a saúde
renal. Além dos tratamentos como a hemodiálise - que filtra e limpa o
sangue de pacientes com insuficiência renal aguda
ou crônica grave, substituindo a função dos rins - eles são dois dos
1908 pacientes que aguardam, na Bahia, por um novo rim, segundo dados
registrados de janeiro a agosto de 2024 pela Central Estadual de
Transplantes (CET), da Secretaria de Saúde (Sesab).Ainda conforme o último levantamento realizado pela CET, foram
realizadas 677 captações de órgãos e tecidos (córneas), representando um
crescimento de 20% na comparação com o mesmo período de 2023. O número
de transplantes também cresceu, passando de 702 para
737. No entanto, houve um aumento considerável de pacientes na lista de
espera por um novo órgão de um ano para o outro, saindo de 2.979 para
3.555 pessoas que aguardam por rim, fígado, córneas, dentre outros.
Por outro lado, um dado é ainda mais preocupante: a negativa familiar
chega a 65%. Muitas pessoas que se recusam a doar os órgãos alegam
diversas causas: superstições, medo de que sejam removidos ainda estando
vivas ou, simplesmente, por serem desfavoráveis
são os principais responsáveis por essa alta taxa.
Essas negativas interferem no destino de Ellen, moradora de Feira de
Santana que descobriu o problema renal crônico em 2016. Três vezes por
semana, a jovem realiza a hemodiálise. Desde agosto do ano passado, ela
espera por um transplante de rim. “A gente faz
a campanha pela doação de órgãos. Assim como ela, tem crianças renais,
tem os adultos também. É muito importante”, afirmou a mãe de Ellen,
Jocivane de Jesus.
Já Iago Gama é morador de Jeremoabo, nasceu com uma má formação na
bexiga e precisa passar por frequentes sessões de hemodiálise. O garoto
também está na fila, aguardando por um rim há mais de um ano.
“Eu quero muito que ele vá para escola porque ele está sem estudar.
Ficar mais tempo em casa, porque como são muitas horas, a gente vive
mais aqui no hospital do que em casa. Então, não dá para a gente
descansar direito. A espera do transplante é para isso,
para que ele tenha uma vida mais normal, para ir para a escola, brincar
com os coleguinhas, ir para uma praia”, comentou a esperançosa a mãe do
pequeno Iago, Robércia Gama.
Para conscientizar a sociedade acerca deste tema, durante todo este mês
foram realizadas atividades alusivas ao Setembro Verde, de
sensibilização e incentivo à doação de órgãos. Entre as ações,
caminhadas, parcerias com shoppings e rodoviárias para divulgação
de campanhas, e envolvimento de clínicas de hemodiálises e outras
unidades de saúde. O “Dia D” de mobilização será na próxima sexta-feira
(27), quando é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos.
Gesto de solidariedade Os aposentados Pedro Araújo da Silva e Lílian Barbosa são exemplos de
pessoas que tiveram a vida transformada a partir do ato altruísta de
doação de órgãos. Ambos receberam um novo rim.
“Para mim está bom. Não como muita coisa, infelizmente. Eu durmo bem e
faço de tudo. Dirijo, tenho um carrinho. Vou pra longe, quatrocentos
quilômetros rodando sozinho. Então, minha qualidade de vida é essa daí”,
explicou Pedro, que mora em Simões Filho. Ele
passou pelo transplante renal há três anos e, a cada dois meses, faz as
revisões para avaliar o funcionamento do órgão.Já Lílian, que completou nove meses de transplantada, se surpreendeu com
a rapidez e a melhora na qualidade de vida. “Eu sofria muito porque não
tinha acesso, pegava várias infecções. Quando eu cheguei aqui, fiz meus
exames, com dois meses eu entreguei, com
quatro meses eu tive essa notícia que eu fui chamada para fazer o
transplante. Então, foi rápido. A minha recuperação está sendo ótima.
Não sinto nada, graças a Deus, e estou livre daquela máquina [de
diálise]. A vida, para mim, mudou, depois do transplante”,
recordou Lílian.
Captação
De acordo com o coordenador do Sistema Estadual de Transplante, o médico
Eraldo Moura, a baixa adesão às doações é um dado importante e que
reflete a falta de conhecimento da sociedade.
“Quando a gente faz mais transplante e a sociedade percebe os
benefícios, porque tem um amigo, tem um parente que foi transplantado,
você mobiliza melhor essa sociedade, porque ela consegue ver os
resultados do transplante. Então, é uma das linhas de trabalho
hoje da Sesab ampliar o número de centros transplantadores e de equipes
de transplante para que esses pacientes possam ser transplantados não
só na capital, mas também de interiorização do programa”, considerou o
médico.
“Além de ser um ato de solidariedade, um ato que a gente pode fazer,
vivemos num país onde tem o maior sistema público de transplante do
mundo, onde tem uma legislação de transplante extremamente segura, que
todos os processos são feitos dentro dos critérios
legais. Isso deixa a gente seguro para poder pensar nessa possibilidade
de autorizar, para que o dia que a gente precise também possamos ser
beneficiados”, completou Eraldo.
Unidades e critérios
Na Bahia, algumas unidades são referência neste tipo de procedimento. Os
transplantes de fígado são realizados no Hospital São Rafael; e de rim,
nos hospitais Ana Nery, Roberto Santos, Português, Aliança e Cardio
Pulmonar, na capital, e unidades em Vitória
da Conquista e Feira de Santana.
Podem ser doados órgãos ou tecidos de uma pessoa viva ou falecida, que
serão utilizados no tratamento dos receptores, com a finalidade de
restabelecer as funções de um órgão ou tecido comprometido ou doente.
Não é necessário registrar a intenção em cartório,
nem em documentos. É preciso informar este desejo aos familiares.
Para que a retirada seja efetivada, são realizados diversos exames,
seguindo critérios rigorosos. Após a confirmação da morte encefálica, a
família é consultada e orientada sobre o processo de doação. Já para
doar em vida, o interessado precisa ser maior de
idade e capaz, juridicamente. O médico deve avaliar a história clínica
do candidato e as doenças prévias.
A Lei federal nº 9.434/2.007, regulamentada pelo Decreto nº 9.175/2.017,
dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para
fins de transplante e tratamento.
Repórter: Anderson Oliveira/GOVBA
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