Maiores índices de divergências no Copom ocorreram em governos do PT
A divergência coincidiu com um momento político de incerteza, de transição no comando da instituição, e chamou atenção em um cenário histórico no qual a unanimidade é a regra.
De acordo com levantamento da LCA Consultores, com base em informações do BC, apenas 34 de 234 reuniões registraram divergência de votos entre os membros do Copom –o que representa apenas 14,5% do total de encontros. Os maiores índices de dissenso ocorreram em governos do PT.
“Em linhas gerais, a ideia é que, por mais que existam divergências de pensamentos sobre macroeconomia e como a política monetária afeta todas as variáveis macroeconômicas, a regra é que eles [membros do Copom] cheguem a algum consenso antes da votação”, afirma Bruno Imaizumi, economista da LCA.
Para o responsável pelo estudo, os dados refletem uma tentativa de coordenação na cúpula do BC e de trabalho em equipe em busca de um objetivo comum: levar a inflação à meta.
A gestão de Henrique Meirelles teve, proporcionalmente, a taxa mais alta de divergências. Ele foi o presidente do BC mais longevo e ocupou o posto mais alto da instituição entre 2003 e 2010, nos dois primeiros mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Dos 76 encontros do Copom ocorridos ao longo dos seus oito anos de gestão, houve divergência em 16 ocasiões –ou seja, em 21,1% dos casos.
O índice é ligeiramente superior ao registrado ao longo da passagem de Alexandre Tombini na presidência do BC, de 2011 a 2016, quando houve divergência de votos em 20,5% das reuniões do Copom. Foram 9 encontros marcados por dissenso em um total de 44, incluindo o episódio que gerou polêmica pelo “cavalo de pau” na política monetária.
Desde o início do governo de Dilma Rousseff (PT), o Copom vinha subindo a taxa básica de juros para controlar a inflação. Em julho de 2011, a Selic foi elevada de 12,25% para 12,50% ao ano. No mês seguinte, a instituição anunciou um corte de juros, para 12% ao ano, surpreendendo o mercado financeiro.
Segundo depoimento do ex-ministro Antonio Palocci, o então presidente do BC informou Dilma que, “contrariando a posição que vinha tendo, de aumentar a taxa de juros da Selic, iria diminuí-la”. No placar, a maioria contabilizou 5 votos contra 2 divergentes.
Das 34 divergências registradas até hoje no Copom, em 21 delas (61,8%) prevaleceu uma postura mais “dovish” –jargão do mercado que indica uma postura mais suave em relação à política de juros. Enquanto, nas outras 13, a maioria sacramentou uma decisão mais “hawkish” (ou seja, mais dura).
Em quase metade dos casos em que houve desacordo (15 episódios), segundo o levantamento da LCA, os membros do BC tinham de tomar decisões que envolviam mudança no ciclo da política monetária –alta, manutenção ou queda de juros.
Imaizumi descarta uma correlação entre os maiores índices de divergências no Copom terem ocorrido em governos do PT, em uma época em que o BC não tinha autonomia operacional, e a prevalência de decisões mais lenientes com a inflação nas votações.
Entre março de 2016 e setembro de 2022 não houve reuniões do Copom com divergências.
A autonomia do BC entrou em vigor em fevereiro de 2021, com o objetivo de blindar a instituição de interferências políticas. Desde então, as decisões do colegiado não foram unânimes em apenas três ocasiões. Com placar apertado (5 a 4), a mais recente divisão arranhou a credibilidade da autoridade monetária.
Do lado da maioria, estavam o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, e mais quatro diretores indicados ou reconduzidos pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), que votaram pela redução do ritmo de queda da Selic, com um corte de 0,25 ponto percentual.
Enquanto todos os quatro diretores indicados por Lula defenderam uma redução maior, de 0,5 ponto percentual. O voto que mais chamou a atenção foi o do diretor Gabriel Galípolo –indicado recentemente por Lula como sucessor de Campos Neto no comando do BC.
O racha levantou dúvidas no mercado financeiro sobre a atuação do BC a partir de 2025, quando sete dos nove membros do Copom terão sido nomeados por Lula.
Nos últimos meses, os membros do colegiado buscam demonstrar que estão afinados em suas avaliações em uma tentativa de minimizar eventuais ruídos com o mercado financeiro e reverter a deterioração das expectativas de inflação, mais distantes da meta perseguida.
Na reunião seguinte à polêmica, Galípolo disse ver “muito valor” no consenso por minimizar as chances de erro de atuação da instituição na condução da política de juros.
A economista Juliana Inhasz, professora do Insper, tem uma avaliação positiva sobre os dissensos e vê espaço para novas divisões no Copom. “Isso significa que as pessoas debateram o assunto. Elas têm visões diferentes e isso agrega muito na discussão sobre a taxa de juros”, afirma.
“Agora, sem dúvida, o mercado enxerga isso como um sinal de desconfiança, porque entende que os alinhamentos naquela vez [em maio] foram muito mais ideológicos do que técnicos”, acrescenta.
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